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Manual do reencontro com Eric Clapton

Show dedicado ao blues é para ser assistido sentado, de olho no palco e no telão. Roqueiros xiitas podem sentir falta de músicas do Cream

Por João Marcello Erthal
12 out 2011, 09h54

Os precavidos, os pontuais e os metódicos levarão vantagem na noite desta quarta-feira, no Morumbi, para o reencontro dos fãs paulistanos com Eric Clapton. Assistir ao show confortavelmente sentado, de um ponto o mais próximo possível do palco e do telão, com antecedência suficiente também para a apresentação de abertura de Gary Clark Jr., são condições importantes para desfrutar do espetáculo. Foi o que mostraram as experiências de Porto Alegre e do Rio de Janeiro no reencontro com “Deus”.

O planejamento para um show com cadeiras e arquibancadas não foi à toa: Clapton montou uma apresentação sofisticada, na qual ele é o único guitarrista e que, pouco depois do início, tem cinco músicas executadas com ele próprio sentado, com o violão de cordas de aço ou com uma Fender diferente da usada para as músicas em que está de pé. Um show com mais blues que rocks, para os fãs das mãos e da voz de alguém que conquistou, além da ‘alcunha’ do primeiro parágrafo, o apelido de “Slowhand”, destoando de uma categoria em que rapidez é algo quase tão desejado quando entre velocistas olímpicos.

A apresentação de Eric Clapton em sua segunda casa, o Royal Albert Hall

Afirmar que se está diante de uma apresentação tecnicamente perfeita, com música e músicos de primeiríssima, é desnecessário. E se alguém ainda duvidar do homem de 66 anos que deu ao rock e ao blues alguns de seus melhores momentos pode menos que isso, aqui vai: Eric Clapton devolve com generosidade cada centavo dos caríssimos ingressos da turnê brasileira – apesar de nada falar, apenas balbuciar um ou outro ‘thank you’. Quem fala, e fala muito, é a guitarra azul e branca da qual se ouve cada nota, sobre uma pista perfeita pavimentada apenas por baixo, teclados e vocais. Portanto, para os amantes da música, e da música de Clapton, será um grande show.

Cocaine, a penúltima música da apresentação de domingo no Rio, registrada por um fã:

É um show empolgante? Certamente. Mas se alguém pensa em sacudir o esqueleto, esta não é a melhor noite. A turnê espelha o momento da fase do artista, e há muito do clima que se ouve no álbum gravado com outra ‘divindade’, o trompetista Wynton Marsalis. Logicamente, a formação da banda não permite executar o que está nas gravações. Mas a versão apresentada de Layla em Porto Alegre e no Rio se aproxima da releitura feita com Marsalis – na verdade, soa como uma interpretação intermediária entre o CD acústico de Clapton e a faixa dividida com o trompetista.

A opção do guitarrista para esta canção, aliás, pode ser usada como uma síntese do show. Quem vai para reencontrar o Clapton do rock sentirá falta das notas inigualáveis do riff de introdução de Layla na forma como foi composta em parceria com Duane Allman (Allman Brothers) e que transformou a música, inicialmente uma balada, em uma das canções mais marcantes do rock. Já quem vai para ouvir algo novo pode se deliciar. E, mesmo entre os roqueiros xiitas, a tendência é a sonoridade perfeita amolecer os nervos. Quase todas as ‘obrigatórias’ para um show de Clapton estão no setlist – e os cariocas levaram vantagem com a inclusão de I shot the sheriff, não tocada em Porto Alegre. As ausências mais sentidas ficam por conta de Tears in Heaven, Bad Love, White Room – executadas em 2001, na Apoteose – e talvez um pouco mais de Cream. Desta fase, foi incluída apenas Badge.

Layla no show de domingo na HSBC Arena, em vídeo feito por outro fã:

A maior falha da turnê de Eric Clapton não pode ser atribuída ao guitarrista, mas ao tamanho da produção. O público em São Paulo terá, em um grau ainda maior, o problema que tiveram os cariocas: a apresentação ocorre em um espaço grande demais para esse tipo de evento, e, na capital paulista, o risco é de o público dos setores mais distantes do palco saírem prejudicados. Há momentos, como em Layla, que Clapton quer silêncio, mas a plateia quer cantar – e quem está longe demais pode ouvir mais o colega de assento que as cuidadosas notas que vêm do palco. No Rio, até o telão parecia pequeno – e ele é fundamental para apreciar a mão esquerda de Clapton nos momentos mais empolgantes, que, obviamente, são solos de guitarra.

O telão, o som e o show de abertura privilegiam que está perto do palco. O escolhido para aquecer a plateia é ainda pouco conhecido no Brasil. Mas é muito provável que Gary Clark Jr. deixe por aqui uma pequena legião de fãs, principalmente entre os fãs de blues e todos os que têm, na estante de discos, espaço para o novo. Mesmo com as limitações de som e palco de um show secundário para a noite, o guitarrista e cantor texano propicia ótima música. Assim como acontece com Clapton, melhor seria vê-lo em um espaço bem menor. Gary Clark Jr. abre mão da palheta e toca com os dedos, com movimentos que lembram bluseiros dos primórdios do gênero, que dedilham e batem com o polegar sobre as cordas, arrancando de sua guitarra semi-acústica sons agressivos. O novato em palcos brasileiros também se destaca pela voz – mas para ser reconhecido também por essa capacidade, talvez ele precise de uma turnê própria.

Conheça o guitarrista que abre o show de Eric Clapton, Gary Clark Jr.:

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