Lilia Cabral e suas muitas mulheres
Atriz leva para a TV a personagem de 'Divã' que a consagrou no teatro e no cinema, estrelará a nova novela das 9h e será a última Helena de Manoel Carlos
“Sempre tive o sonho de levar a personagem à TV, e contar, cada dia, uma história diferente no divã do analista. Pensava que seria um resgate de programas que tão brilhantemente retrataram a alma feminina, como Malu Mulher e o seriado Mulher“
Não é surpreendente que uma mulher chegue aos 50 anos no auge da carreira. Mas não é comum uma atriz ter uma ascensão vertiginosa na televisão depois de três décadas trabalho sem maior repercussão. Ainda mais incomum é a virada acontecer a partir do teatro. Para Lilia Cabral, 52 anos, a semana passada foi a síntese dessa trajetória peculiar. Ela participou do lançamento do seriado Divã, que estreia em abril, e é a sequência da peça que lhe abriu definitivamente as portas para papéis consagradores na televisão. Depois da Marta, de Páginas da Vida, e da Teresa, de Viver a Vida – que lhe renderam duas indicações ao Emmy, o Oscar da televisão -, ela vai viver na TV novos capítulos da história de Mercedes, a mulher simples e carismática que levou mais de 180 mil espectadores ao teatro e 1,5 milhão de pessoas ao cinema. Isso ao mesmo tempo em que se prepara para encarnar a protagonista da novela Fina Estampa, de Aguinaldo Silva que sucederá Insensato Coração, e já foi convidada por Manuel Carlos para interpretar aquela que será a última Helena de suas tramas. “Sempre tive o sonho de levar a personagem à TV, e contar, cada dia, uma história diferente no divã do analista. Pensava que seria um resgate de programas que tão brilhantemente retrataram a alma feminina, como Malu Mulher e o seriado Mulher“, disse a atriz, na apresentação do seriado.
Entre as outras histórias, haverá pretendentes da mesma faixa etária da protagonista, como o apaixonado vizinho Jurandir (Marcelo Airoldi), para quem ela não dá bola, e o filho dela, vivido por Duda Nagle, às voltas com um romance com uma mulher mais velha (Gisele Fróes). Sobre as diferenças entre a Mercedes do teatro, do cinema e da TV, a atriz busca no humor a explicação: “A Mercedes do teatro é uma macaca. A do cinema, uma coelhinha. Na TV, fico policiando meus gestos. Juro que tento ser macaca, mas não consigo”, diz, em provocação ao diretor geral, José Alvarenga, que dirigiu duas cenas com a presença da imprensa na tarde de quinta-feira, com Mercedes às voltas com confidências íntimas no salão de beleza.
Quando leu Divã, em 2003, a atriz, de cara, enxergou a possibilidade de transformar aquelas histórias num seriado televisivo. “Divã capta a alma do brasileiro. Somos um povo alegre, divertido, que muitas vezes chora, vai no fundo do poço, mas dá a volta por cima”, acredita. O projeto demorou a tomar corpo na televisão pelo tema. “A TV Globo custou a acreditar que uma história que tem como base uma mulher que visita periodicamente o analista para relatar seus anseios e angústias pudesse ter o apelo popular necessário para que o projeto fosse levado adiante”, observa José Alvarenga, diretor geral do seriado e do filme.
Mesmo comprometida com a novela Fina Estampa, na qual será protagonista, a atriz não dispensa a possibilidade de o seriado engatar outra temporada: “Se der certo, por que não voltar?”. O autor, Marcelo Saback, entrega: “O oitavo episódio dá margem para uma volta”. Animada com as gravações, a atriz conta que, quando pode, acompanha a reprise da novela Vale Tudo, em que interpreta a desinibida Aldeíde, pobretona que fica milionária e viúva ao se casar com um marido rico e mais velho. “Por causa da novela, estou fazendo o maior sucesso com a garotada”. Mas e quanto a Mercedes? Os garotões que ocuparam seu coração no filme não vão mesmo estar presentes na série? Em tom de galhofa, Lilia encerra a questão. “Olha, não sei se dá mais, né? Daqui a pouco estou caminhando para os 60 e se ficar nessa de garotão vão me prender.”