Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Laerte Coutinho: “Negacionismo é o fim da picada”

A cartunista de 69 anos conta que ainda enfrenta as sequelas da Covid-19 e explica por que fez seu processo de transição de gênero só na maturidade

Por Tamara Nassif 9 abr 2021, 06h00
SÃ E SALVA - Laerte: para ela, não existe “masculino” e “feminino” -
SÃ E SALVA – Laerte: para ela, não existe “masculino” e “feminino” – (Filipe Redondo/.)

Em janeiro, a senhora foi internada na UTI com Covid-19, e desde então a pandemia se agravou. Como foi esse período de tratamento intensivo? Do jeito que o Brasil tem lidado com a pandemia, eu, desde o princípio, soube que eram grandes as chances desse vírus chegar até a minha pessoinha. Fiquei assustada com o diagnóstico, mas me senti ainda pior quando fui para a UTI, pois os médicos queriam olhar a evolução da doença mais de perto. Lá, vi pessoas em situação dramática. E eu pensava: “Como vai ser comigo? Vou ficar curada?”. Depois de três dias, a infecção e os pulmões melhoraram. Foi um período de tensão.

Teve sequelas? A doença deixou um cansaço muito grande, e voltar ao normal tem sido extenuante. Alguma coisa da interação da doença com meu organismo põe condições que precisam ser acompanhadas. Minha geriatra está atenta a isso e continuo medicada.

Apesar dos números alarmantes, ainda há um forte movimento negacionista. O que pensa a respeito? O negacionismo é o fim da picada. E Jair Bolsonaro também é o fim da picada. Ele defende o vírus. O pior é que o negacionismo ocorre não só com a pandemia, mas também com as questões climáticas e com a desigualdade social. Vivemos um império de mentiras. Não temos uma pausa sabática para decidir o que fazer: temos de pensar com o bonde andando e caindo no precipício.

Quando estava na UTI, teve medo de morrer? Tive, claro. Há mais de 340 000 mortos no país. A distribuição dos casos não deixa muito claro quem se salva e quem não se salva. Já houve casos de jovens morrerem, de pessoas mais ricas também, mas existe um perfil da letalidade que pega mais as pessoas mais pobres e negras. É o perfil da desigualdade no Brasil, que casa com qualquer catástrofe que acontece aqui, inclusive uma pandemia.

Continua após a publicidade

A senhora é uma das personalidades trans mais famosas do país, e sua transição aconteceu já na maturidade, aos 60 anos. Por quê? Sempre fui homossexual, mas ficava aterrorizada com essa ideia e bloqueei isso. Eu me escondi de mim mesma por décadas. Mas resolvi me aceitar. A palavra transição não se aplica bem ao meu caso. Eu não sei nem se ela se aplica a algum caso.

Como assim? A ideia de transição é você ter duas posições mais ou menos fixas e delimitadas, e passa de uma para a outra. Para mim, não há “masculino” e “feminino”. Não estou transitando, estou indo, não sei bem para onde. O importante é que sei quem sou.

Publicado em VEJA de 14 de abril de 2021, edição nº 2733

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.