Os escritores Julio Cortázar e Tomás Eloy Martínez estavam entre os intelectuais “proibidos” pela última ditadura (1976/83) da Argentina. As listas negras com centenas de artistas, intelectuais e jornalistas non-gratos pelo regime foram divulgadas nesta quinta-feira pelo governo argentino.
Os atores Alfredo Alcón, Héctor Alterio, Luis Brandoni, Federico Luppi, Lautaro Murúa, Norma Aleandro, Marilina Ross e Nacha Guevara foram alguns dos que apareciam na primeira lista encontrada, que data de abril de 1979 e contém 285 nomes, todos sob a classificação de “Fórmula 4”, que indicava “antecedentes ideológicos marxistas que tornam aconselhável sua não entrada ou permanência na administração pública”. Esta lista faz parte da descoberta de 1.500 pastas, incluindo 280 atas secretas do regime, que tiveram sua existência anunciada na segunda-feira pelo ministro da Defesa, Agustín Rossi.
A segunda lista, atualizada no dia 31 de janeiro de 1980, inclui 331 nomes com a mais grave classificação, e em seu cabeçalho há recomendações como “estes antecedentes não devem ser divulgados” e “devem ser incinerados”. A descoberta do arquivo, que estava em um subsolo do Edifício Cóndor, sede da Força Aérea, foi anunciada na segunda-feira pelo ministro da Defesa, Agustín Rossi.
Entre os proibidos, também estavam os jornalistas e escritores Osvaldo Bayer, Tomás Eloy Martínez, Dalmiro Sáez, David Viñas, Rodolfo Puiggrós, Francisco ‘Paco’ Urondo (desaparecido) e músicos como Osvaldo Pugliese, Mercedes Sosa, Horacio Guarany e Atahualpa Yupanqui, além do pintor Antonio Berni.
Quarenta e seis pessoas, entre elas 22 jornalistas, seguiram na lista de pessoas proibidas até o fim da ditadura, em dezembro de 1983, mas listas anteriores chegaram a conter 350 nomes. Entre os proibidos até o final do regime apareciam os jornalistas Jacobo Timerman, Andrés Alsina Brea e Rafael de San Martín, que é identificado como o “jornalista-oficial do Exército de Cuba”, o artista plástico brasileiro Juan Scalco, o escritor Julio Cortázar, o músico Miguel Angel Estrella, o cineasta Octavio Getino, entre outros.
Em setembro de 1982, a Secretaria de Informação Pública (SIP) recomendava iniciar “uma transição para uma vida institucional plena” e “evitar medidas oficiais que atentem contra essa imagem”, razão pela qual a estratégia seria normalizar a situação dessas pessoas “de forma gradual e harmônica”, segundo os documentos. A ditadura começou a ruir após a derrota militar argentina em junho de 1982 na guerra com a Grã-Bretanha pelas Ilhas Malvinas.
(Com agência France-Presse)