“Vai ser um protesto. Mas quando a gente fala nesses termos parece que sempre tem que ser agressivo. Eu quero fazer exatamente o contrário: mostrar que também existe beleza nesses atos”, diz Rogério Flausino
Publicidade
Se a Cidade do Rock vai se transformar em uma extensão das manifestações que tomam as ruas do país há quase três meses, ainda não se sabe. Mas já é certo que em alguns momentos os palcos e microfones do Rock in Rio 2013 terão vozes de protesto. Os mineiros do Jota Quest foram os primeiros a assumir que pretendem aproveitar a presença da multidão para se manifestar de alguma forma. Líder da banda, Rogério Flausino chama de “momento de protesto” uma parte da apresentação, na noite de 15 de setembro. “Faremos, sim, uma alusão ao momento atual do país. É impossível não falar alguma coisa. Teremos um vídeo que será exibido durante uma das músicas. Não vou dar mais detalhes, porque ainda não está pronto. Estamos preparando uma surpresa”, disse o vocalista, em entrevista ao site de VEJA.
A batida dançante e as letras do Jota Quest não são exatamente o tipo de canção de protesto ou o que poderia mobilizar algum engajamento. Mas a ideia do grupo é criar uma reedição aprimorada do que foi mostrado na edição de 2011, ao som de De Volta ao Planeta dos Macacos. Naquela edição, o que Flausino usou para insuflar a multidão foi o refrão “está faltando emprego no Planeta dos Macacos”, com um telão exibindo imagens de protestos históricos por todo o Brasil, com cenas de confronto entre policiais e manifestantes. O filmete era um documentário que o cineasta Hugo Prata havia preparado sobre os levantes populares, desde o golpe militar de 1964 até a Marcha da Maconha, passando pelos ‘caras-pintadas’ do Fora Collor. “O vídeo se encaixou perfeitamente com o que nós queríamos”, conta Flausino.
Jota Quest
.
https://youtube.com/watch?v=2KBlwISvs5M
Capital Inicial
.
Detonautas
.
O cantor do grupo admite que o primeiro impulso, claro, foi repetir a fórmula, e usar a mesma canção neste show. “Decidimos que deveríamos fazer de outra maneira, de outro ponto de vista”, conta, adiantando apenas que a repressão policial do vídeo de dois anos atrás não deve mais ser o principal. O que a banda quer este ano, segundo ele, é mostrar “os momentos bonitos que essas pessoas promoveram nas ruas”, condenando os abusos tanto por parte da polícia quanto dos manifestantes. “Vai ser um protesto. Mas quando a gente fala nesses termos parece que sempre tem que ser agressivo. Eu quero fazer exatamente o contrário: mostrar que também existe beleza nesses atos”, defende.
De Volta ao Planeta dos Macacos estará, claro, no repertório, dando abertura à segunda parte crítica do show. “É uma música muito emblemática para o Jota, e é incrível como ela não perde a força, mesmo depois de tanto tempo. Ela tem essa coisa de levante mesmo, da ‘macacada reunida'”, avalia o vocalista. Em 2011, Flausino saiu no meio do público levantando a bandeira do Brasil, logo após emendar o verso “homem primata, capitalismo selvagem”, dos Titãs. “São frases e dizeres que a todo mundo conhece, mas precisam ser ditos novamente”, limita-se a antecipar, fazendo a ressalva de que nem tudo precisa ser programado com muita antecedência. “Gosto de construir as coisas na emoção.”
Leia também:
Rock in Rio vai reviver última apresentação ao vivo dos Beatles
Sepultura tocará Chico Science e inéditas
O Jota Quest não deve ser o único a levar para o palco a bandeira das ruas, acredita Flausino. “Tenho certeza de que o Capital Inicial (que toca no dia 14) e o Skank (dia 21) vão fazer alguma coisa”, prevê. No caso da banda de Brasília, há uma conexão que acaba por atrair o Capital para as manifestações: uma imagem do cantor Dinho Ouro Preto foi escolhida para ilustrar uma das convocações para o protesto nacional de 7 de Setembro.
O Jota Quest abre o Palco Mundo do primeiro domingo, dia 15, que tem Justin Timberlake como atração principal. No repertório, estão também os hits mais conhecidos do grupo, como As Dores do Mundo e Encontrar Alguém – que voltam aos seus arranjos originais -, além da inédita Mandou Bem, a primeira música de trabalho do novo álbum, com lançamento previsto para o fim de outubro. A versão de Tempos Modernos, hit de Lulu Santos que entrou na trilha de Malhação com os mineiros em 2012, também tem lugar garantido. “Depois de quase sete anos, a gente trouxe de volta nosso naipe de metais e nosso backing vocal. Nossa intenção é fazer um show muito mais dançante do que ‘pulante’. Queremos despertar uma nova sensação no público.”