Investigado pelo Ministério Público Estadual (MPE) por suspeita de participação no esquema de corrupção que teria desviado ao menos 15 milhões de reais do Teatro Municipal de São Paulo, o maestro John Neschling, diretor artístico da instituição, afirmou neste domingo que não vai deixar o cargo — ele recebe 150.000 reais mensais. Em nota, o maestro informou que marcou um encontro com o prefeito Fernando Haddad (PT) na última sexta-feira para tratar do assunto e recebeu dele o apoio necessário para a sua decisão.
“No nosso encontro, ele (Haddad) me reafirmou o que vem dizendo publicamente, que apenas por uma determinação clara da Controladoria (caso houvesse provas ou indícios de malfeitos da minha parte — o que não era o caso), ele me demitiria. Afirmou, no entanto, que entendia minhas dificuldades e garantiu que respeitaria qualquer decisão que eu tomasse”, disse Neschling.
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Segundo a assessoria de imprensa da gestão Haddad, a reunião aconteceu na quinta-feira, e não foi divulgada publicamente na agenda diária do prefeito por se tratar de “assunto interno”.
Mobilização – Três órgãos da administração municipal estão mobilizados para suspender o contrato do maestro, por meio de seus comandantes diretos: o corregedor-geral Daniel Gaspar de Carvalho, o controlador Gustavo Gallardo e o secretário de Negócios Jurídicos, Robinson Barreirinhas. A análise é que as suspeitas sobre a participação de Neschling no escândalo e também do secretário municipal de Comunicação, Nunzio Bruguglio Filho, que também nega envolvimento, podem prejudicar o desempenho de Haddad, que tenta a reeleição.
A movimentação contra a permanência do maestro ganhou força dentro na Prefeitura na semana passada, após o Tribunal de Contas do Município (TCM) considerar, por unanimidade, irregular o contrato firmado com o Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), responsável pela gestão do Teatro Municipal.
A saída de Neschling ainda é defendida pelos promotores que investigam o caso, por parte dos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada na Câmara Municipal para apurar os desvios na instituição e também pelo ex-chefe de gabinete de Haddad, Paulo Dallari, que atuou nos últimos meses como interventor do IBGC a pedido do prefeito, mas deixou o cargo por discordar da permanência do músico.
Também na semana passada, a Polícia Federal informou aos parlamentares que compõem a CPI que o passaporte do músico seria apreendido, conforme requerimento aprovado na Câmara, o que agravou a situação. A decisão foi posteriormente revertida pela defesa do maestro.
Crime – Segundo o Grupo Especial de Combate a Delitos Econômicos (Gedec), do Ministério Público, os desvios ocorreram entre 2013 e 2015, quando teria funcionado um esquema de uso de notas frias e aditivos irregulares em contratos, entre outras práticas. No Gedec, os suspeitos são investigados por lavagem de dinheiro, corrupção e associação criminosa.
Além de Neschling, são alvo do Ministério Público o ex-diretor da Fundação Theatro Municipal José Luiz Herência e o ex-diretor do IBGC William Nacked. Ambos firmaram acordo de delação com o MPE e se comprometeram a devolver cerca de 10 milhões de reais aos cofres públicos. Já a Promotoria do Patrimônio Público apura, na área cível, possível má gestão do dinheiro público. Neste caso, estão incluídos Haddad e o ex-secretário da Cultura Juca Ferreira.
(Com Estadão Conteúdo)