Apesar dos cartazes, com fotos de Owen Wilson e Jennifer Aniston, e do título, digno de uma comédia romântica, não se engane: Um Amor a Cada Esquina pouco tem a ver com o gênero que mistura suspiros e risadas, favorito do público feminino. Dirigido por Peter Bogdanovich, de Lua de Papel (1973) e Essa Pequena É uma Parada (1972), a produção tem como premissa prestar uma homenagem aos longas cômicos absurdos, chamados de “comédia maluca”, clássicos em Hollywood entre os anos 1930 e 1940. As referências cinematográficas são abundantes, muitas passam até despercebidas. O tributo pode ser um deleite para os entusiastas da sétima arte. Especialmente na semelhança com outro diretor, Woody Allen, praticamente alvo de um plágio pela produção.
Quem se destaca na história é Jennifer Aniston, que apesar de não ser a protagonista, é quem consegue genuinamente arrancar risadas da plateia. A atriz interpreta Jane, uma psicóloga politicamente incorreta e antiética. Ela destrata as neuras dos pacientes, julga abertamente seus desabafos e revela outros casos de consultório que deveriam ficar em segredo.
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Jane tem entre seus pacientes Isabella Patterson (Imogen Poots), uma bela garota de programa que sonha em ser atriz. A reação da psicóloga ao descobrir a profissão da jovem é impagável. Isabella, ou Izzy, é contratada como acompanhante de Arnold Albertson (Owen Wilson). Após um jantar romântico e uma noite quente, ele faz para a moça um discurso autoajuda, lhe oferece 30.000 dólares, e pede que ela abandone a vida de prostituição para seguir seus sonhos.
Ela aceita o conselho e participa de um teste para uma peça da Broadway no dia seguinte. Porém, ambos se espantam quando se encontram no local. Arnold é o diretor da peça, que contará com sua esposa no elenco. Ao longo da produção, outras coincidências conectam o elenco. O namorado da psicóloga, por exemplo, é o roteirista do teatro. Ele se apaixona por Isabella. O pai do roteirista, por sua vez, é um detetive contratado por um dos antigos clientes da aspirante a atriz, que não consegue esquecer a loira. Sua obsessão acaba no consultório de Jane, que critica o velhote por ter um caso extraconjugal a essa altura da vida.
Ter uma loira graciosa com ares de musa no papel principal é uma antiga paixão de Bogdanovich, sendo Barbra Streisand, em Essa Pequena É uma Parada, uma das mais marcantes, e Kirsten Dunst, em O Miado do Gato (2001), a mais recente. O longa de 2001, aliás, foi o último de ficção do cineasta, que estava desde então distante da direção para cinema. Um Amor a Cada Esquina é um retorno interessante e aparentemente despretensioso, mas fica o desejo de que o diretor deixe de lado o excesso de referências, para retomar um cinema que tenha impressa sua assinatura.