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IMPERDÍVEL: ‘Poema Sujo’, de Ferreira Gullar, ganha nova edição

Livro marca estreia do escritor na Companhia das Letras, editora que vai republicar obra do brasileiro

Por Da redação
Atualizado em 10 set 2016, 06h00 - Publicado em 10 set 2016, 06h00
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  • Poema Sujo (Companhia das Letras, 112 páginas, 34,90 reais), publicado originalmente em 1976, foi o livro escolhido para marcar a estreia de Ferreira Gullar na Companhia das Letras – em janeiro, o escritor assinou contrato para levar toda sua obra para a editora, após décadas na José Olympio. A escolha por Poema Sujo foi acertada: é um dos poemas mais importantes de Gullar, que o escreveu enquanto estava exilado em Buenos Aires durante a ditadura militar brasileira.

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    14129_gg“Sentia-me dentro de um cerco que se fechava. Decidi, então, escrever um poema que fosse o meu testemunho final, antes que me calassem para sempre”, explica o poeta nas páginas iniciais do volume. Mas é justamente a ele que Gullar atribui sua volta ao Brasil: após ter sido lido na casa de Augusto Boal na Argentina, o poema foi gravado em uma fita cassete e trazido ao país por Vinicius de Moraes. Por aqui, o poeta fez o que pôde para divulgá-lo, até que foi publicado. O sucesso do texto acabou fazendo com que jornalistas, escritores e artistas pedissem aos militares que deixassem Gullar retornar ao Brasil sem sofrer represálias.

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    Poema Sujo, às vezes regulares e metrificados, às vezes livres, às vezes visuais como propunha o concretismo, saem aos borbotões, criando uma atmosfera tão repressora quanto aquela vivida pelas vítimas da ditadura. É o principal exemplo do que o poeta afirma ser sua fase “livre”, em que não tem mais amarras com esta ou aquela escola literária – tem um pouco de cada uma delas.

    Leia um trecho do poema:

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    Poema Sujo

    turvo turvo

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    a turva

    mão do sopro

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    contra o muro

    escuro

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    menos menos

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    menos que escuro

    menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo

    escuro

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    mais que escuro:

    claro

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    como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma

    e tudo

    (ou quase)

    um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas

    azul

    era o gato

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    azul

    era o galo

    azul

    o cavalo

    azul

    teu cu

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    tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas de

    banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como

    uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) como uma

    entrada para

    eu não sabia tu

    não sabias

    fazer girar a vida

    com seu montão de estrelas e oceano

    entrando-nos em ti

    bela bela

    mais que bela

    mas como era o nome dela?

    Não era Helena nem Vera

    nem Nara nem Gabriela

    nem Tereza nem Maria

    Seu nome seu nome era…

    Perdeu-se na carne fria

    perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia

    perdeu-se na profusão das coisas acontecidas

    constelações de alfabeto

    noites escritas a giz

    pastilhas de aniversário

    domingos de futebol

    enterros corsos comícios

    roleta bilhar baralho

    mudou de cara e cabelos mudou de olhos e risos mudou de casa

    e de tempo: mas está comigo está

    perdido comigo

    teu nome

    em alguma gaveta.

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