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Hans Ulrich, o curador que tem o crivo mais disputado do mercado de arte internacional

Em entrevista exclusiva, especialista suíço fala sobre arte, curadoria e os artistas brasileiros que admira

Por Rodrigo Levino
3 out 2010, 14h40

“Ser curador é estar próximo do artista, abrir caminhos entre a arte e o público, ser um catalisador. Sou movido pela curiosidade”

No final de setembro, quando esteve em São Paulo para participar da abertura da 29º Bienal de Arte de São Paulo, que acontece desde 25 de setembro e vai até 12 de dezembro, o curador suíço Hans Ulrich Obrist, 42, entrevistou em três dias cinco brasileiros ligados a literatura, arquitetura e artes plásticas.

Estivesse ele no país apenas para esse trabalho, já seria bastante extenuante. Acrescente-se a isso visitas a meia dúzia de galerias de arte e à própria Bienal, a fim de conhecer novos artistas ou acompanhar a evolução dos nomes que já domina. “Ulrich é um inquieto. Ele enxerga em cada espaço de tempo uma oportunidade de ampliar o seu leque de conhecimento”, explica a Márcia Fortes, da galeria Fortes Villaça, uma das mais prestigiadas do país.

Ulrich foi eleito em 2009 pela revista inglesa Art Review o curador de arte mais importante do mundo, o que tornou o seu crivo ainda mais concorrido. Segundo a galerista paulistana Luis Strina, o olhar do curador suplanta os limites financeiros. “O ‘carimbo’ dado por Ulrich do que é bom, interessante ou importante, é muito mais forte do ponto de vista estético ou de estímulo para um jovem artista contemporâneo do que quantificar em vendas. Obviamente, em muitos casos há ganhos financeiros, mas o trabalho dele não se limita a esse parâmetro”, diz ela.

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A tese de Strina coaduna com o pensamento de Márcia Fortes a respeito de Ulrich: “Existem dentro da curadoria duas fortes correntes: a que formula um pensamento a partir do que existe ao seu redor e a que pensa novos modelos. Ulrich se encaixa na segunda, pois é capaz de definir caminhos que se firmam com o passar dos anos, de maneira visionária”, teoriza.

Por novos caminhos entenda-se, por exemplo, a ousadia de promover uma exposição dentro de um avião, aos 23 anos, chamando atenção da mídia especializada e de curadores mais experientes; promover, nas casas do poeta Federico Garcia Lorca e do psicanalista Sigmund Freud, exposições de 31 artistas, cujos trabalhos reunidos sintetizam o espírito da obra dos dois; ou, ainda, reunir artistas plásticos para, em vez de quinze metros quadrados, exporem o seu pensamento ou a justificativa da própria obra em 15 minutos, diante de uma plateia, criando uma nova relação entre arte, espaço e tempo.

À frente da Serpentine Gallery, a badalada galeria de arte contemporânea em Kensington Gardens, Londres, Ulrich tem afiado o olhar cada vez mais abrangente sobre a arte, no dizer de Eduardo Leme, curador brasileiro, “longe de academicismos, mais ligado ao artista e ao processo de criação das obras. É isso que faz dele alguém realmente sabedor do que acontece na arte contemporânea. Ele inaugurou um novo perfil”.

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Ulrich molda os critérios que usa para escolher o que é importante e vale a pena ser exposto ou colecionado, dentre outras coisas, com longas entrevistas, que já renderam uma dezena de publicações. Entram na lista cineastas, artistas plásticos, arquitetos, dramaturgos, escritores e qualquer pessoa que, uma vez passando por seu olhar, desperte curiosidade. “É isso que me move”, diz ele.

Há, no meio de tantos nomes vistosos como o escritor J.G. Ballard, o arquiteto holandês Rem Koolhaas e a Nobel de Literatura Doris Lessing, alguns brasileiros a quem Ulrich diz respeitar imensamente: o arquiteto Paulo Mendes da Rocha e o poeta Augusto de Campos, por exemplo. Foi sobre as entrevistas, agora publicadas no Brasil no terceiro volume da série pela Editora Cobogó, mas também sobre o trabalho de curador, que ele conversou com o site de VEJA na sua passagem pelo Brasil, que você lê a seguir.

Qual a finalidade das entrevistas que o senhor faz com artistas, arquitetos, cineastas e dramaturgos?

A ideia das entrevistas nasceu em 1991, enquanto eu promovia uma exposição na Suíça, em conversas com os artistas plásticos Peter Fischli e David Weiss. Esses diálogos são uma forma de se aproximar da realidade. O artista Tino Sehgal costuma dizer que o século XXI é um século de manifestos e conversas. É por aí. É isso que pauta a maratona que promovo em outubro, todo ano, na Serpentine, quando escolho um artista e pessoas falam sobre ele ininterruptamente, dialogando sobre a obra.

Entre os brasileiros entrevistados pelo senhor estão o arquiteto Paulo Mendes da Rocha e a escultora Ligya Pape. Por que eles?

Por serem artistas pioneiros nos seus trabalhos – Ligya é um dos pilares do movimento neoconcretista – e capazes de influenciar novos criadores. Quando conheci o Brasil, em 2000, visitei-a e foi uma experiência riquíssima, que culminou com uma curadoria que fiz de alguns trabalhos dela na Casa Barragán, no México e impressionou bastante o público.

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O que o senhor destacaria no atual cenário da arte brasileira?

A priori eu diria que é uma cena de arte muito dinâmica. Fiz duas visitas ao país nos últimos anos e, à medida que voltar ao Brasil, compreenderei a complexidade e o dinamismo com maior profundidade. Me impressionou uma visita que fiz a uma galeria de arte em Inhotim (interior de Minas Gerais), e prova que até fora dos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, há produção de arte.

A Bienal de Arte de São Paulo é mesmo importante?
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Sim, porque ela dialoga com várias expressões artísticas e constrói pontes com o público, que faz dela a mais visitada do mundo. Além de acontecer numa cidade instigante, que torna cada visita uma experiência mais enriquecedora.

O que é ser um curador de arte?

É estar próximo do artista, abrir caminhos entre a arte e o público, ser um catalisador. Organizar os livros das exposições ou com as entrevistas, por exemplo, é importante para entender o que está acontecendo na música, na literatura, na arquitetura e até na ciência, buscando esse compartilhamento de conhecimento que me aproxima da arte.

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