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Gramado tem noite povoada por personagens inquietos

O mexicano 'A Tiro de Pedra' mostra a saga de um pastor de cabras obcecado por conhecer a neve que viu em sonho, e o brasileiro 'Uma Longa Viagem' relata as andanças de um esquizofrênico pelo mundo

Por Carlos Helí de Almeida, de Gramado
8 ago 2011, 12h41

Dois personagens inquietos cruzaram a tela do 39º Festival de Gramado na noite deste domingo, 7. O programa do terceiro dia de competição da maratona gaúcha começou com a produção mexicana A tiro de pedra, de Sebastian Hiriat, sobre um pastor de cabras atormentado por um sonho recorrente, que o guiará a uma região nevada dos Estados Unidos. Na sequência, foi exibido o documentário brasileiro Uma longa viagem, de Lúcia Murat, cuja narrativa é conduzida pelas cartas do irmão mais velho da realizadora, que deixou o país no final dos anos 60 e passou os dez anos seguintes viajando pelo mundo, antes de ser diagnosticado como esquizofrênico.

A tiro de pedra descreve o périplo de Jascinto (interpretado por Gabino Rodriguez), um ingênuo pastor de uma região árida do México enfadado com sua rotina. Ao achar perto de casa um chaveiro gravado com uma paisagem nevada da região do Oregon, o matuto passa a ter sonhos onde se vê desenterrando uma grande caixa de madeira enterrada sob a neve. Interpretando o sonho como um sinal, o sujeito deixa tudo para trás e submete-se às mais diversas humilhações físicas e morais para atravessar a fronteira americana e chegar ao destino revelado em sua fantasia.

Diferentemente de outros filmes sobre imigrantes ilegais mexicanos, o protagonista de A tiro de pedra não tem ambição alguma de construir uma nova vida nos Estados Unidos – seu dilema é metafísico-existencial. “Se as pessoas encontrarem cinco minutos que valham a pena na história já me darei por satisfeito”, disse um bem humorado Hiriat no palco do Palácio dos Festivais, ao apresentar seu filme. “Quero que as pessoas o amem ou o odeiem. Nada pior do que o sentimento de indiferença”.

Já em Uma longa viagem, a diretora Lúcia Murat (Quase dois irmãos, Maré, nossa história de amor) pinta um retrato da geração que sobreviveu à repressão militar a partir de sua própria experiência pessoal. O fio condutor da narrativa são as cartas enviadas pelo irmão caçula Heitor durante suas viagens pelo mundo, marcadas por relatos sobre experiências místicas e lisérgicas. Durante parte do período que o irmão esteve fora do país, Lúcia esteve presa por envolvimento com a luta armada, no final dos anos 60. Depoimentos recentes de Heitor e dramatizações de trechos de sua correspondência, feitas pelo ator Caio Blat, servem de contraponto ao fluxo epistolar.

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Autora de Que bom te ver viva (1989), longa que combina dramatizações e relatos de vítimas da ditadura, Lúcia saiu do Festival de Paulínia (junho) com o prêmio da crítica. “Eu e o Heitor éramos dois representantes daquele período da história do Brasil. Eu na política, e ele, no movimento do desbunde”, contou a diretora.

A mostra competitiva prossegue no final da tarde desta segunda-feira, 8, com a projeção do primeiro lote de curtas-metragens em concurso. Em seguida, serão exibido os longas Las malas intenciones, da peruana Rosario Garcia Montero, e O país do desejo, produção carioca dirigida pelo paraibano Paulo Caldas (Deserto feliz).

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