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‘Gilmore Girls’ volta para oferecer conforto em tempos de Trump

Quatro episódios de uma hora e meia cada retomam a série encerrada em 2007 sobre uma relação de mãe e filha que está mais para amizade

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
25 nov 2016, 09h25

Nem mesmo as séries de televisão têm servido de consolo para o momento de desesperança e polarização que vivemos – as mais populares são dominadas por mortos-vivos (caso de The Walking Dead), lutas fratricidas pelo poder (Game of Thrones) e um futuro tecnológico, frio e sombrio (Black Mirror). Por isso, é bem-vinda a chegada de Gilmore Girls: A Year in the Life, na Netflix a partir das 6h desta sexta-feira. O revival retoma a série criada por Amy Sherman-Palladino, no ar entre 2000 e 2007, com quatro episódios de uma hora e meia cada. Stars Hollow, a cidade fictícia no Estado de Connecticut, é um exemplo de comunidade, onde mesmo quem tem problemas de relacionamento com a família pode encontrar familiares postiços – e ainda por cima extravagantes e por isso mesmo adoráveis. Foi assim que Lorelai (Lauren Graham) conseguiu criar sozinha a filha Rory (Alexis Bledel), que teve aos 16 anos. “Não acho que seja à toa o retorno da série neste período de desconexão e fratura. É um lugar seguro”, diz Lauren Graham em entrevista em Los Angeles. “Há coisas maravilhosas na televisão hoje, mas muitas são bem estressantes de assistir. Gilmore Girls, não.”

Gilmore Girls: a Year in the Life coloca as duas e também Emily (Kelly Bishop), a mãe com quem Lorelai tem uma relação conflituosa, em um momento delicado após a morte de Richard (Edward Herrmann, falecido em dezembro de 2014). Sua neta Rory não é mais a adolescente ou a universitária que sonhava em se tornar uma correspondente de guerra como Christiane Amanpour. Adulta, viaja o mundo atrás de reportagens. Uma de suas breves passagens por Stars Hollow marca o início do primeiro episódio, Inverno – cada capítulo acontece em uma estação do ano. Mas a verdade é que Rory está um pouco cansada do desenraizamento. A filha de Richard, Lorelai, está na mesma: dona da sua pousada e ainda com Luke (Scott Patterson), o rabugento e confiável dono do “diner” que é ponto de encontro da pequena cidade. Mas os dois nunca se casaram. E Emily, que foi por décadas a mulher de Richard, precisa descobrir quem é – o que inclui até uma cena em que a sempre elegante personagem aparece de jeans e camiseta, para choque da filha, da neta e dos espectadores.

“Esse retorno é, esperamos, um tributo para Ed, que foi uma perda real em nossas vidas”, afirma Lauren Graham. “Mas na história também a morte é parte da vida. Oferece uma chance de mostrar o que você faz, em idades diferentes, tempos diferentes, como você lida com a perda de uma pessoa querida.”

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Os principais personagens da série original estão de volta, incluindo os favoritos dos fãs: Kirk (Sean Gunn), sempre disposto a fazer qualquer trabalho, Lane (Keiko Agena), a melhor amiga de Rory, a mãe de Lane, a severa Sra. Kim (Emily Kuroda), Michel (Yanic Truesdale), o intratável concierge da pousada de Lorelai, e Paris (Liza Weil), a igualmente intratável amiga-rival de Rory. E todos os ex-namorados de Rory: Dean (Jared Padalecki), Jess (Milo Ventimiglia) e Logan (Matt Czuchry). Apesar de muita gente se declarar “Team Dean”, “Team Jess” ou “Team Logan”, a verdade é que Gilmore Girls sempre foi mais sobre o relacionamento das mulheres do que os homens que passaram por suas vidas. “A série era bem progressista para a época”, diz Lauren. “Mostrava que não é preciso ser convencional, que você pode vencer nos seus termos, e isso era inspirador.”

A volta de Gilmore Girls é também uma chance de reparação. Amy Sherman-Palladino não conseguiu terminá-la como gostaria – desde o princípio, ela sabia quais as quatro palavras que encerrariam a série. Mas disputas contratuais fizeram com que ela e seu marido, Dan Palladino, não participassem da sétima temporada, que acabou sendo a última. “Na sétima temporada, não tínhamos nem Amy nem Dan, então foi muito diferente das outras. Provavelmente estávamos um pouco cansados já. Para mim, a lembrança é meio um borrão”, conta Alexis Bledel, a Rory. “Me lembro só que a conclusão parecia muito abrupta.”

O site de VEJA assistiu aos dois primeiros episódios e pode garantir que os diálogos continuam afiados e rápidos como sempre. Verdade que leva uns cinco minutos para se acostumar à troca rápida de palavras, que é menos natural do que o normal da televisão e da vida – a não ser, claro, que, como bom fã, o espectador tenha feito uma maratona Gilmore Girls enquanto aguardava o especial. É improvável, porém, que quem já não gostava fique fã por conta desta leva de episódios. A Year in the Life tem alguns problemas de ritmo, ditados pela duração “dois episódios em um” de cada capítulo. As referências pop foram atualizadas para incluir das irmãs Kardashian aos filmes da Marvel. Mas existe algo antiquado na série, não apenas pelos diálogos que remetem aos filmes estrelados por Spencer Tracy e Katharine Hepburn. Algumas piadas também ignoram as discussões sobre diversidade que vieram à tona pós-Obama. Se Stars Hollow antes era um pedacinho de paraíso no mundo, agora, numa sociedade fraturada, em que o senso de comunidade se perdeu, parece um pouco um pedacinho de um território alienígena, ou uma cápsula do tempo para outra era. Mas a verdade é que nada disso importa: para quem é fã, o que interessa é que Lorelai, Rory, Paris e Kirk estão de volta para trazer um pouco de conforto e provar que, talvez, nem tudo está perdido.

 

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