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Funcionários da Cinemateca: incêndio foi “crime anunciado”

Segundo carta divulgada por eles, faltam até quadros para avaliar extensão das perdas causadas pelo fogo em galpão com memória do cinema e da TV

Por Amanda Capuano Atualizado em 30 jul 2021, 11h37 - Publicado em 30 jul 2021, 10h58
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  • Os funcionários da Cinemateca divulgaram na manhã desta sexta-feira, 30, um manifesto sobre o incêndio que consumiu um galpão da instituição na noite de ontem. No documento a que VEJA teve acesso, os trabalhadores  descrevem o incêndio como um “crime anunciado” e apontam que o abandono do poder público e a demissão de todo o corpo técnico de funcionários há cerca de um ano pode ter causado “consequências irreversíveis” para o estado de conservação dos materiais.

    “Há mais de um ano denunciamos publicamente a possibilidade de incêndio nas dependências da Cinemateca pela ausência de quaisquer trabalhadores de documentação, preservação e difusão. Houve o alerta sobre a chance de o sinistro ocorrer nos acervos de nitrato da Vila Clementino, pois trata-se de material inflamável que pode entrar em autocombustão sem revisão periódica”, denuncia o documento.

    Na semana passada, o Ministério Público Federal, em audiência com representantes da União e do Audiovisual, também alertou o governo federal do risco, que respondia por abandono da instituição. Mas, depois da audiência, mais 60 dias foram concedidos para que a Secretaria Especial da Cultura desse continuidade às ações de preservação do patrimônio.

    “Certos danos são silenciosos, porém tão trágicos quanto um incêndio, e igualmente irrecuperáveis. Trata-se do tempo de vida dos diversos materiais, diminuindo drasticamente, e da perigosa deterioração dos filmes de nitrato e de acetato”, aponta eles. O documento segue dizendo que a avaliação exata das perdas e retomada do processo de conservação só poderá ser realizada com o retorno da equipe especializada, que foi demitida no ano passado e que, segundo o documento, até hoje não recebeu os salários e rescisões devidas.

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    O documento também lista uma série de obras que possivelmente foram perdidas ou afetadas pelas chamas, entre elas algumas já divulgadas por VEJA, como o acervo documental de Glauber Rocha, da Embrafilme e de alunos de cinema da USP. Outras possíveis perdas incluem parte do Arquivo do Instituto Nacional do Cinema – INC (1966 – 1975) e da Concine – Conselho Nacional de Cinema (1976 – 1990), que foram transferidos do térreo para o primeiro andar – a área mais atingida pelo fogo – para evitar que novas enchentes danificassem as obras.

    Eles apontam também itens “potencialmente únicos” que podem ter sido consumidos pelas chamas, como o acervo da distribuidora Pandora Filmes, com cópias de filmes brasileiros e estrangeiros em 35mm, matrizes e cópias de cinejornais únicos, trailers, publicidade, filmes documentais, filmes de ficção, filmes domésticos, além de elementos complementares de matrizes de longas-metragens, equipamentos de cinema e fotografia antigos, e parte do acervo de vídeo do jornalista Goulart de Andrade.

    Incêndio em galpão da Cinemateca, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo.
    Incêndio em galpão da Cinemateca, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. (Reprodução/TV Globo)

    Os bombeiros receberam o chamado de incêndio no local por volta das 18h da quinta-feira, 29. Segundo divulgado pela equipe, o fogo começou depois de uma manutenção no sistema de refrigeração do local. Uma sala de arquivos e uma de filmes foram consumidas. O fogo foi controlado ainda de noite, e uma equipe permaneceu no local durante a madrugada fazendo o trabalho de rescaldo.

    Desde o ano passado, especialistas já alertavam para o risco iminente de incêndio – tanto na sede principal, na Vila Clementino, quanto no galpão localizado na Vila Leopoldina. Em fevereiro de 2020, um alagamento danificou mais de 113 000 cópias de DVDs do acervo, devido à má conservação do local. “Estamos chocados, porque o governo havia dito que estava tomando todas as medidas de precaução. O estado do galpão era precário, não tinha vigilância constante ou uma brigada de incêndio a postos”, diz Roberto Gervitz, diretor de cinema e responsável pela coordenação de atos do movimento SOS Cinemateca.

     

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