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Luz ameaçada, risco de incêndio: o que Regina Duarte terá na Cinemateca

Recém-demitida da secretaria nacional de Cultura, ex-namoradinha do Brasil será realocada para instituição que governo Bolsonaro deixou em estado lamentável

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 Maio 2020, 13h08 - Publicado em 20 Maio 2020, 12h13

Confirmada em uma live pelo presidente Jair Bolsonaro, a ida de Regina Duarte para a Cinemateca de São Paulo, após sua saída da Secretaria de Cultura, pegou de surpresa os funcionários da instituição. “Fiquei sabendo agora pela televisão”, disse a VEJA um funcionário da Cinemateca, sob a condição de anonimato. Em crise financeira desde o final do ano passado, a instituição está em situação crítica. De acordo com fonte ouvida pela reportagem, Regina Duarte deverá assumir um local que está mal das pernas, com os salários dos funcionários atrasados desde abril e que luta para pagar a conta de luz, que pode ser cortada a qualquer momento.

Um eventual apagão elétrico seria desastroso para a instituição, que precisa manter a climatização das salas onde estão arquivados os tesouros de seu acervo histórico. Sem refrigeração, os filmes em acetato ficariam expostos e poderiam se deteriorar, já que este material estraga com variações de temperatura. Há também filmes em película de nitrato de celulose, um material altamente volátil que precisa de acompanhamento de profissionais especializados. Sem esses cuidados, eles correm o risco de simplesmente se incendiar. A lista de obras ameaçadas inclui filmes da Atlântida, da Vera Cruz, tudo o que restou do cinema silencioso brasileiro, arquivos históricos de Glauber Rocha e materiais restaurados pela Cinemateca – enfim, a história do audiovisual nacional estaria em risco.

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O aperto financeiro da instituição se acentuou no final do ano passado quando a Associação de Comunicação Educativa Roquete Pinto (Acerp), que administra desde 2016 a Cinemateca, teve seu contrato cortado com o Ministério da Educação e deixou de receber as verbas destinadas para a Cinemateca. O contrato com a Acerp, que também cuidava da TV Escola, foi cortado pelo ministro da educação, Abraham Weintraub, que determinou o despejo da TV das dependências do MEC porque, na visão contaminada pela delirante “guerra cultural” olavista da cabeça dele, os programas eram todos de esquerda e seguiam os pensamentos do educador Paulo Freire. Por causa disso, tudo que a Acerp administrava também foi prejudicado, inclusive a Cinemateca.

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Os funcionários da Cinemateca esperam que Regina Duarte chegue com boas ideias para resolver o problema da instituição e consiga regularizar a situação financeira. “Todas as instituições de memória dependem da continuidade de seus trabalhos para poder ter algum tipo de sobrevivência”, disse a fonte.

Para piorar, por causa da pandemia, os cerca dos 50 funcionários técnicos da Cinemateca estão fazendo home-office. Ou seja, não há, desde o início das medidas de distanciamento social, nenhum técnico nas dependências da instituição, exceto funcionários terceirizados, como a brigada de incêndio, que também está sem receber os salários.

A fonte ouvida por VEJA foi enfática na questão do risco de incêndio caso a luz seja cortada, especialmente porque, em 2016, um desastre semelhante atingiu a instituição. Na ocasião, 1 007 rolos de filmes foram perdidos. Eles faziam parte de 731 títulos de filmes nacionais, como cinejornais, curta-metragens, teste de atores de longa-metragem e um registro publicitário. Em fevereiro deste ano, as instalações da Cinemateca foram atingidas também por uma enchente.

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Há cinco dias, em 15 de maio, a Cinemateca divulgou uma carta aberta pedindo socorro, publicada no site da Revista de Cinema. No texto, eles denunciam o que chamam de “situação esquizofrênica”, em que seus vínculos são divididos entre a Secretaria Especial da Cultura e os ministérios da Cidadania e do Turismo. “Essa situação esquizofrênica dificulta a atuação do governo com a urgência necessária para impedir a falência da Cinemateca, enquanto a administração pública se dedica a desenhar uma solução de longo prazo. Se o orçamento da Cinemateca não for imediatamente repassado a Acerp, assegurando a manutenção do quadro mínimo de contratados e as condições físicas de conservação, não haverá necessidade de uma perspectiva de fôlego, pois já teremos alcançado a solução final”, diz um trecho da carta.

Além de abrigar o acervo histórico, o prédio onde funciona a instituição, na Vila Clementino, em São Paulo, a 4 km da casa de Regina Duarte, também restaura filmes antigos e promove exibições e cursos sobre o cinema brasileiro. O espaço tem abrigado nos últimos anos também os encontros da Academia Brasileira de Cinema, responsável por escolher os filmes brasileiros que representam o país no Oscar de melhor filme estrangeiro.

O reportagem de VEJA entrou em contato com Roberto Barbeiro, atual superintendente da Cinemateca, que deverá ser substituído por Regina Duarte. O profissional, no entanto, não respondeu às perguntas e disse apenas que faria algumas reuniões para saber o que estava acontecendo – dando a entender que também foi pego de surpresa pela decisão de Bolsonaro.

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