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França: quando o Ocidente criava os “selvagens” para legitimar a colonização

Exibir populações chamadas “selvagens” para rebaixá-las e dominá-las melhor: o museu do Quai Branly, em Paris, apresenta, a partir desta terça-feira, e até junho do ano que vem, a primeira grande exposição dedicada a espetáculos étnicos, muito comuns no século XIX e no início do XX, no Ocidente. Em 1931, os bisavós do ex-jogador de […]

Por Por Pascale MOLLARD-CHENEBENOIT
29 nov 2011, 18h33
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  • Exibir populações chamadas “selvagens” para rebaixá-las e dominá-las melhor: o museu do Quai Branly, em Paris, apresenta, a partir desta terça-feira, e até junho do ano que vem, a primeira grande exposição dedicada a espetáculos étnicos, muito comuns no século XIX e no início do XX, no Ocidente.

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    Em 1931, os bisavós do ex-jogador de futebol francês Christian Karembeu foram mostrados no Jardim da Aclimação, em Paris, e depois na Alemanha, junto com outros indígenas melanésios da Nova Caledônia, apresentados como “canibais”.

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    Oitenta anos mais tarde, um outro atleta, Lilian Thuram, amigo de Karembeu e ele também vencedor da Copa do Mundo de 1998, é curador da mostra “Exibições. A Invenção do Selvagem” que vai até 3 de junho.

    Recentemente, Lilian Thuram chegou a ficar particularmente atônito ao visitar o Zoológido de Hamburgo, na Alemanha. “O portão de entrada, com esculturas de animais, mas também com indígenas e africanos, indicava ao público o que veria no interior – animais e também homens. E nada foi mudado”, declarou ele à AFP.

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    O ex-campeão, originário das Antilhas, que criou uma fundação contra o racismo, espera que a exposição contribua para “desconstruir” a teoria da superioridade biológica, desmontando preconceitos cristalizados sobre a cor da pele.

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    “Calcula-se em 1,4 bilhão o número de visitantes dessas exibições de pretensos ‘selvagens’, entre exposições universais ou coloniais, jardins de aclimação, circos, feiras e cenas teatrais”, de 1810 a 1958, declarou à AFP Pascal Blanchard, consultor científico da mostra, autor de um livro sobre os “zoos humains”, os zoológicos humanos.

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    Na Europa, nos Estados Unidos, mas também no Japão e na Austrália, exibia-se o Outro como divertimento e para tentar legitimar a colonização.

    Pinturas, esculturas, moldagem de pessoas vivas, cartazes, fotografias, livros, cartões postais, pratos, leques, máquinas de medir o crânio: num cenário teatral, a exposição apresenta 600 peças, que dão uma ideia da extensão do fenômeno.

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    A história das exibições começou, verdadeiramente, em 1492, quando Cristóvão Colombo levou indígenas da América para a Corte da Espanha. Até o final do século XVIII, eram considerados, sobretudo, indivíduos “exóticos ou “monstruosos”, mostrados aos poderosos e às elites.

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    No início do século XIX o fenômeno tornou-se mais amplo. Saartje Baartman, a “Vênus hotentote” originária da África do Sul, foi exibida em Londres e em Paris, entre 1810 e 1815.

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    A França conserva um molde em cera muito realista do corpo disforme desta mulher, que foi exposta até 1974. Mas não faz parte da atual. “Não queremos cair no sensacionalismo nem no emocional”, comenta Blanchard.

    Foi entre 1850 e 1930 que os espetáculos étnicos chegaram a seu apogeu. Numa livre interpretação da teoria de Darwin, o empresário Farini exibiu “Krao”, uma mulher peluda do Laos, apresentada como “o elo perdido” entre o macaco e o homem.

    O tristemente célebre circo Barnum comprou William Henry Johnson a seus pais, quando tinha apenas quatro anos. Desse menino negro americano, que apresentavam uma leve deficiência mental, ele criou o “What is it”, um personagem vestido em roupa de pele, a quem pedia para grunir diante do público, para provar, também, que se tratava do “elo”.

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    A última exposição universal com a apresentação de seres humanos foi a de Bruxelas, em 1958, quando foi reconstituída uma aldeia congolesa. Ante o escândalo, os figurantes chegaram a desertar. “Mesmo pagos, não era possível participar”, conta Blanchard.

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