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Filme sobre Hebe fica só na gracinha

No excesso de reverência que é a sina das cinebiografias nacionais, longa diminui a grandeza e os contrastes da maior apresentadora de TV do país

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 set 2019, 10h01 - Publicado em 27 set 2019, 06h55

Hebe Camargo (1929-2012) foi uma mulher fulgurante. Dona de um riso escancarado e de notável carisma, ostentava joias e roupas inacreditáveis com a naturalidade de quem veste uma calça jeans. Ela foi também uma mulher de contrastes. Promovia jantares em sua mansão em São Paulo com a presença do amigo Paulo Maluf — porém, em seguida, reclamava na TV da corrupção dos políticos.

À frente de programas que se escoravam na fórmula surrada do bate-papo no sofá, Hebe alcançou o feito de ficar por sessenta anos no ar. Condensar tanto brilho e contradições é a missão a que se propõe o filme Hebe: a Estrela do Brasil (Brasil, 2019; já em cartaz). Apesar da falta de verossimilhança física e cultural, a carioca Andréa Beltrão assume o coque loiro e o sotaque do interior paulista com eficiência. Mas sua simpatia não livra o filme de uma sina: mais uma vez, o cinema nacional não chega lá na tarefa de biografar um grande personagem.

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Dirigido por Maurício Farias, marido da intérprete de Hebe, o longa faz um recorte da trajetória da apresentadora nos anos 80 (a história completa deverá ser narrada numa minissérie que estreará em janeiro na Globo). No período, o país saía da ditadura mas ainda se via às voltas com o entulho autoritário. É a deixa para o filme canonizar Hebe como a voz dos pobres e oprimidos.

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No ar, ela reclama do Congresso e peita a censura ao falar sobre aids e homossexualidade. De fato, Hebe foi corajosa. Entretanto, reduzir sua trajetória ao papel de musa das minorias é, para além de anacronismo, uma saída pela tangente. Hebe, afinal, era uma personagem que conciliava o inconciliável: adorava os gays e denunciava a censura, mas flertou com a ditadura e aderiu à Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 1964. No âmbito pessoal, o ciúme do marido e a solidão do filho ganham destaque exacerbado, enquanto a relação instável com Silvio Santos e lances dolorosos são minimizados.

O filme não destoa de certo padrão de cinebiografia que vitimou recentemente Chacrinha e Tim Maia — um padrão segundo o qual se deve enaltecer o colorido do personagem, relevando seus pontos delicados. Enquanto a reverência grassa por aqui, lá fora um Elton John exigiu retrato fiel de seus podres em Rocketman. Não só, decerto, por honestidade: assim se dá dimensão humana ao biografado, e tutano ao roteiro. Hebe merecia mais.

Publicado em VEJA de 2 de outubro de 2019, edição nº 2654

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