Na minissérie Gabriela, a estudante Malvina Tavares (Vanessa Giácomo) foi repreendida por ler O Crime de Padre Amaro, romance do português Eça de Queirós que fala das transgressões amorosas de um religioso. A história se passa na década de 1920, mas a idéia de que certos livros não são leitura “apropriada” vale em 2012, pelo menos no vestibular do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o Coluni. Nesta segunda-feira, os organizadores da prova decidiram retirar o livro de contos Violetas e Pavões, do escritor curitibano Dalton Trevisan – uma das vozes mais originais da ficção brasileira contemporânea – de sua lista de leituras. Eles atenderam a pedidos de pais e professores, incomodados com o fato de a obra falar de assuntos como sexo, drogas e crimes.
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A amizade que terminou em bate-boca entre Miguel Sanches Neto e Dalton Trevisan
“A Diretoria de Vestibular e Exames da UFV informa que, por determinação do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), em reunião realizada no dia 3 de setembro, o livro Violetas e Pavões, do escritor Dalton Trevisan (editora Record), foi retirado da prova de seleção do Colégio de Aplicação Coluni. Os demais itens do conteúdo de Língua Portuguesa e Literatura, constantes no edital, foram mantidos”, diz nota publicada nesta terça-feira pelo site da UFV.
Como reação, acadêmicos e estudantes lançaram um abaixo-assinado na internet para restituir ao programa da prova da UFV a obra de Trevisan, 86, contista poderoso que este ano recebeu o Prêmio Camões, um dos maiores títulos da literatura de língua portuguesa. “Dalton Trevisan é um renomado escritor paranaense que recebeu o estimado prêmio de literatura da 24ª edição do Prêmio Camões em Lisboa (2012), que representa atualmente o principal reconhecimento da literatura luso-brasileira. O autor discute importantes temas da contemporaneidade, bem como questões transversais que fazem parte do contexto juvenil que se insere os candidatos do processo seletivo”, diz o texto de apresentação do abaixo-assinado.
Procurada, a editora Record lamentou o episódio.