Com a popularidade da série The Crown, a atriz inglesa Emerald Fennell, 35 anos, fez um pedido peculiar a seu agente: ela queria interpretar Camila Parker-Bowles, esposa do príncipe Charles. Impopular por ser taxada como a mulher que “roubou” o herdeiro ao trono da querida princesa Diana, a Duquesa da Cornualha era uma personagem que atraia a curiosidade de Emerald. “Sempre achei que ela poderia ser alguém injustiçada”, disse em entrevista à Vogue. A atriz conseguiu o papel e provou ser capaz de revelar camadas pouco conhecidas de Camila. A mesma habilidade para olhar além da superfície foi levada por ela para os bastidores. Emerald se jogou no papel de produtora, roteirista e diretora de um longa-metragem com Bela Vingança, em que a protagonista, vivida por Carey Mulligan, se vinga de homens que tentam tirar proveito de mulheres bêbadas. O filme, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 22, surpreendeu e conquistou cinco indicações ao Oscar, entre elas três para a Emerald: melhor roteiro, direção e melhor filme.
Com a nomeação, Emerald fez história ao lado de Chloé Zhao, de Nomadland. É a primeira vez que duas mulheres são indicadas à categoria de melhor direção no Oscar — e Chloé é favorita ao prêmio deste ano. Em 92 anos, a Academia de Hollywood só premiou uma diretora mulher, Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror, em 2010.
A ideia para Bela Vingança surgiu em 2017, quando Emerald percebeu ao seu redor as muitas histórias de mulheres abusadas enquanto não podiam reagir. Apesar da pouca experiência, ela escreveu o filme decidida a dirigi-lo: e assim o fez enquanto estava grávida de sete meses. “É uma história sombria e eu queria dirigir de um modo peculiar. Outro diretor teria feito um filme diferente”, contou em entrevista a Elle canadense.
Nascida em Londres, Inglaterra, Emerald vem de uma família artística. É filha do designer de jóias Theo Fennell e da autora Louise Fennell. Sua irmã, Coco, é estilista. No cinema, a atriz já fez parte de filmes como Anna Karenina, de 2012, e A Garota Dinamarquesa, de 2015. No universo das séries, ganhou destaque ao interpretar a enfermeira Patsy Mount em Call the Midwife, além da já citada The Crown.
A habilidade com as palavras, porém, é algo que há tempos ela experimenta. Emerald escreveu três livros infantis e o terror adulto Monsters, lançado em 2015. Ela assina ainda a peça musical Cinderella, com canções compostas por ninguém menos que Andrew Lloyd Webber, a mente por trás de Cats e O Fantasma da Ópera. O espetáculo estava marcado para estrear em agosto de 2020, mas, em função da pandemia, foi adiado para julho deste ano em West End (a “Broadway” britânica).
Sua transição para o outro lado das câmeras é recente. Em 2019, ela assumiu o cargo de showrunner e roteirista da segunda temporada de Killing Eve. Em entrevista ao The New York Times, a inglesa contou que se envolveu com a série quando Phoebe Waller-Bridge, criadora e produtora, anunciou que cada temporada teria uma showrunner mulher diferente. As duas já haviam trabalhado juntas no passado e são amigas há quase dez anos. O roteiro de Emerald em Killing Eve, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Emmy, em 2019.
Promissora, Emerald reforça um movimento recente de mulheres polivalentes, envolvidas em todas as camadas da criação de tramas fortes e bastante femininas. Caso da amiga Phoebe Waller-Bridge com a premiada comédia Fleabag, e de Michaela Coel, com a chocante I May Destroy You. Curiosamente, as três são inglesas. Para escrever de vez o nome em Hollywood, porém, a prova de teste é chegar a um blockbuster. Phoebe escreveu o roteiro do próximo 007. Michaela passou por Star Wars. Já Emerald foi confirmada como roteirista do filme live-action de Zatanna, heroína da DC Comics. O futuro parece brilhante.