Escolher a atriz que faria Samantha, personagem-título da nova série nacional da Netflix, era a tarefa mais árdua na lista de Felipe Braga, da produtora Losbragas, formada por ele e pelas irmãs Rita Moraes e Alice Braga, criadores do programa. Na trama, a protagonista, apelidada de “Samonstra”, é uma mulher em torno de 40 anos que, durante a década de 80, foi uma famosa e mimada estrela mirim da televisão. Agora, ela ainda vive de passado, crendo ser relevante, apesar de pouco merecer o status de subcelebridade.
“A Samantha é terrível e faz muitas coisas questionáveis. Por isso a atriz tinha que ser muito carismática, a ponto de todos se apaixonarem por ela. Assim poderíamos fazer o que quiséssemos”, explica Felipe durante visita do site de VEJA ao set de filmagens, em São Paulo. “Se gostamos muito da personagem, ficamos do lado dela, independentemente do que ela faça. A Emanuelle Araújo nos deu isso no primeiro minuto.”
Sem dúvidas, a escalação da atriz e cantora baiana foi a melhor decisão dos produtores, que apresentaram a ideia de Samantha! para a Netflix em 2016, e concluíram as gravações dos sete episódios da primeira temporada no ano passado. O resultado, que chega ao canal de streaming nesta sexta-feira, é uma série dinâmica, com altos e baixos, mas que diverte com o apelo nostálgico e o flerte com o politicamente incorreto. Emanuelle é quem segura com unhas, dentes e figurino brega o roteiro, do começo ao fim, e conquista ainda mais simpatia que as próprias estrelas da vida real que inspiraram Samantha, nomes como Simony e Gretchen.
“A Samantha não quer ser famosa, ela é — pelos menos na cabeça dela”, conta Emanuelle. “Ela foi a criança mais amada do Brasil. Ela não inventou isso, foi realidade por muito tempo. Então ela vive nessa redoma em que acredita que continuou a ser relevante.”
Simony, aliás, parece ser a inspiração direta de Samantha, apesar da negativa dos criadores da série e da própria cantora. “É um aglomerado de referências da época, e dos dias atuais, como o ex-marido jogador de futebol malandro, que tem amigos bandidos”, diz Felipe. Na série — assim como aconteceu com a ex-Balão Mágico na vida real — Samantha se casa na cadeia com o jogador de futebol Dodói (Douglas Silva), decisão motivada não só pelo amor, mas também pela chance de ser destaque na mídia que ela mais gosta, a tradicional TV.
Outros nomes populares nos anos 1980 ganharam o direito de participar do programa, caso da própria Gretchen e de Luciana Vendramini, na pele de uma apresentadora de reality musical trash, do qual Samantha faz uma ponta como jurada.
Emanuelle, aliás, tem lá no currículo uma relação prática com sua personagem. A atriz de 41 anos começou cedo nos palcos, aos 10. Parou por um tempo, mas voltou nos anos 1990 para emplacar como vocalista da Banda Eva. Ao contrário de Samantha, contudo, Emanuelle só viu sua carreira crescer desde então. Agora, com a Netflix, ela chega em 190 países que também vão disponibilizar em sua grade a série brasileira.
“Samantha! vem para tirar qualquer tipo de preconceito que a gente tem, sobre ser famoso, sobre desejo, sonho, ser mãe”, diz Emanuelle. “Ela pensa de um jeito próprio, que pode parecer egocentrismo, vaidade. Mas não dá para analisar as atitudes dela dentro de um padrão do que é certo ou errado. Existe a ideia de que pessoas que buscam o sucesso e a fama são frias. Samantha é zero fria. Ela é absolutamente quente de emoção.” Tal lógica própria da personagem é tempero que faz da série uma boa opção para risos descompromissados e no conforto do lar.