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Elton John lança uma ferina (e deliciosa) autobiografia

Enquanto lucra milhões com a turnê de despedida, o compositor conta histórias de superação — e dispara farpas sobre outros astros

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 dez 2019, 11h06 - Publicado em 29 nov 2019, 06h00

Em setembro de 2018, Elton John deu início à Farewell Yellow Brick Road, sua turnê de despedida dos palcos. Mas a anunciada aposentadoria tem toda a pinta de lorota. Quarenta e dois anos atrás, ele disse que pararia de tocar ao vivo. Repetiu a ameaça em 2014 e 2015. Os fãs não estão nem aí: respondem como se o autor de Your Song fosse realmente pendurar as chuteiras e se dedicar ao marido, o produtor David Furnish, e aos filhos, Zachary e Elijah. Em apenas quatro meses, a excursão faturou 125 milhões de dólares, deixando para trás pesos-pesados como o pop star inglês Ed Sheeran e o grupo sul-coreano BTS. Quando completar as 300 datas previstas, o cantor e pianista inglês de 72 anos deverá alcançar um faturamento de 400 milhões de dólares, estima a revista Forbes. Para além dos dividendos, porém, há uma razão nobre para que a aposentadoria seja adiada ad eternum: Elton John passa por um grato período de renascimento e de descoberta pelas novas gerações.

Essa fase revigorada começou em maio, com o lançamento de Rocketman, cinebiografia na qual ele é vivido com brio pelo galês Taron Egerton. Em seguida, veio uma sonora autobiografia – que nesta semana chega às livrarias brasileiras. Eu, Elton John é o relato de uma vida artística e pessoal marcada por excessos em todas as frentes: sexo, drogas e até… compras. Eis um consumista tão voraz que foi capaz de adquirir uma réplica em tamanho natural de um tiranossauro para botar no jardim de casa.

EU, ELTON JOHN, de Elton John (tradução de Jaime Biaggio; Planeta; 344 páginas; 71,90 reais e 49,90 reais na versão digital) (./.)

Filho de um casal que não demoraria a perceber que sua união havia sido um erro, Reginald Kenneth Dwight foi vítima de maus-tratos em casa. Stanley, o pai, surrou-o porque o pequeno Elton fazia barulho ao comer aipo e não colocava direito o uniforme da escola. Sheila, a mãe, o espancou com um cabo de aço — até sangrar, ressalta ele — para que aprendesse a fazer as necessidades no lugar (ela usava, ainda, um método pouco ortodoxo para aplacar as prisões de ventre do filho). A salvação veio por meio de discos de Elvis Presley e dos Beatles, que o garoto consumia com a mesma avidez com a qual escolheria a música como profissão. Elton tocou em pubs, onde aprendeu a se esquivar de copos e a pular pela janela quando rolava confusão. No início dos anos 60, fez parte de uma banda, a Bluesology, que acompanhou astros da soul music americana e depois se tornou grupo de apoio do cantor inglês Long John Baldry. Foi dele, aliás, que Elton surrupiou o sobrenome que o tornaria famoso – depois de se apropriar indevidamente do nome do saxofonista de sua banda, Elton Dean. Baldry também foi quem avisou a Elton que ele era gay, algo que até a mãe do músico estava cansada de saber — embora não se conformasse.

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Elton é um narrador sem filtros. A língua ferina, tão afiada quanto seus dotes como pianista e compositor, faz do livro uma sensacional coleção de anedotas. Ele conta que Freddie Mercury adorava ironizar os calçados do guitarrista Brian May, seu parceiro de Queen (“Ele usa tamancos, querida!”). John Lennon, de quem Elton foi muito amigo, certa vez teria impedido que Andy Warhol os visitasse num quarto de hotel, onde os dois consumiam drogas. “Você quer que ele saia tirando fotos enquanto você tem cocaína pendurada no nariz?”, alertou o ex-beatle. Nos momentos ternos, Elton fala de seus esforços para que celebridades da música atual, como o rapper Eminem e o cantor Rufus Wainwright, se tratassem do vício em drogas (algo que George Michael, outro grande amigo, nunca aceitou). Nisso, ele era entendido: Elton considerava a cocaína “afrodisíaca”, e só se livrou dela em 1990. Num dos momentos mais engraçados do livro, ele relembra quando pintou seu carro com as cores do Watford, o time de futebol de infância que o astro comprou nos anos 70, assumindo a presidência. O fato não passou despercebido pelo príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth II. “Você mora perto do castelo de Wind­sor, né? Já viu o idiota que passeia naquela área num carro pavoroso?”, disse-lhe o príncipe. Ao descobrir que esta­va falando com o dono do veículo, Philip não recuou: “Livre-se daquilo” .

EXÓTICO – O cantor, em visual típico: excessos com drogas, sexo e compras (./Getty Images)

Eu, Elton John traz um bom equilíbrio entre revelações musicais e pessoais. Disseca as influências do cantor, bem como sua simbiose musical com o letrista Bernie Taupin. Fala da dificuldade em se aceitar homossexual, drama que incluiu uma tentativa de suicídio bizarra. Antes da fama, ao se ver em via de casar-se com uma mulher, ele tentou se matar ligando o gás do fogão, mas deitou a cabeça num travesseiro e deixou todas as janelas abertas. Foi salvo pelo parceiro Taupin, e o episódio rendeu a clássica Someone Saved My Life Tonight. Há relatos fartos sobre o relacionamento com John Reid, seu ex-empresário e ex-marido. Em certos momentos, o romance foi além do tolerável: Reid o traía abertamente e chegou a espancá-lo.

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Hoje, Elton está casado e feliz com o canadense David Furnish, viajando pelo mundo com sua Farewell Yellow Brick Road. A tal da turnê de despedida do Silvio Caldas do rock provocou uma briga entre o cantor e Rod Stewart, amigo de longa data, a quem chama carinhosamente de Phyllis (Rod retribui tratando-o como Sharon). Quando soube de mais um adeus do amigo, Stewart mandou um e-mail irritado: “De novo, meu querido?”. Elton John perdeu um grande amigo, mas seus fãs o perdoam: com sua música e seus relatos tão saborosos, que ele se despeça de mentirinha quantas vezes quiser.


A PENA FERINA DE ELTON JOHN

Algumas bombas sobre astros da música lançadas pelo cantor inglês em sua autobiografia

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DAVID BOWIE
“Nunca fui grande amigo de (David) Bowie. Não sei dizer qual era o problema, mas estava na cara que havia algum. Anos depois, ele me daria várias alfinetadas em entrevistas: a mais famosa foi quando me chamou de ‘bicha pobre do rock’n’roll’ ”


FREDDIE MERCURY
“Visitei-o várias vezes quando estava à morte. Fraco demais para sair da cama, ficando cego, com o corpo coberto por lesões causadas pelo sarcoma de Kaposi, ainda assim continuava a ser o Freddie, totalmente escandaloso e chegado a uma fofoca”

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ELVIS PRESLEY
“Estava acima do peso, tinha uma coloração cinzenta e suava. Onde deveriam estar seus olhos só havia dois buracos negros sem expressão. Andava como alguém que acaba de despertar de uma anestesia geral, de forma estranha e arrastada. Incoerente e ausente”


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MICHAEL JACKSON
“Sua aparência era terrível, frágil. Sua maquiagem parecia aplicada por um maníaco: era um caos absoluto. Um esparadrapo cobria-lhe o nariz para manter o que restava dele junto ao rosto… Não conseguia lidar com a companhia de adultos”

Publicado em VEJA de 4 de dezembro de 2019, edição nº 2663

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Disco de vinil – Elton John Goodbye Yellow Brick Road

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