‘Doramar ou a Odisseia’ e outros 5 bons livros de contos para desfrutar
De Itamar Vieira Junior e Clarice Lispector a Phillip K. Dick e Ray Bradbury, confira lista de ótimas histórias para ler em uma sentada só

Lançado na esteira do sucesso de Torto Arado, ótimo romance nacional que soma estonteantes 165.000 exemplares vendidos (e contando), o livro de contos Doramar ou a Odisseia, de Itamar Vieira Júnior, chegou recentemente às livrarias atestando a velha paixão do autor baiano pelo formato com histórias curtas, mas de enorme impacto. Confira abaixo dicas de outros bons livros de contos que valem a leitura:
Prazer em Queimar, de Ray Bradbury

Nos 16 contos que integram Prazer em Queimar, Ray Bradbury, autor do popular Fahrenheit 451, escancara sua ânsia em recriminar todo tipo de autoritarismo. Os temas passeiam de censura e repressão a queima de livros, resistência e até mortos que voltam para acertar contas. Aos que adoram uma boa distopia, a coletânea de prosa requintada não fica aquém da obra-prima que alçou Bradbury ao sucesso – é inclusive de O Bombeiro, um dos textos da coleção, a origem embrionária da trama dos “queimadores de livros” de Fahrenheit.
Maria dos Prazeres e Outros Contos, de Gabriel García Márquez

É difícil encontrar um texto de Gabriel García Márquez que não seja brilhante – em Maria dos Prazeres e Outros Contos, tem-se logo seis. Movidas pelo realismo mágico do Nobel colombiano, as historietas são belamente ilustradas por Carme Solé Vendrell, única pessoa permitida pelo autor a dar cor aos seus escritos. Em Um Senhor Muito Velho com umas Asas Enormes, um idoso alado é tido por anjo e acaba num galinheiro. No conto-título, uma prostituta brasileira em Barcelona treina um cão para chorar sua morte.
Olhos d’Água, de Conceição Evaristo

Ano passado, no furor do movimento Black Lives Matter, o livro Olhos d’Água disparou em vendas. E por um bom motivo: escrito pela brasileira Conceição Evaristo, a coletânea de quinze contos engendra histórias intensas, por vezes assombrosamente reais, de mulheres negras como ela. Embora breves, reflexões são intrigantes e impactantes, indo desde a pobreza e a miséria a dilemas sobre a vida, o amor e a ancestralidade africana. No conto-título, uma das sete filhas de uma mulher negra e pobre relembra as histórias de infância da mãe, mas confunde as lembranças com suas próprias vivências – um retrato de como a desigualdade social se perpetua por gerações a fio.
Todos os Contos, de Clarice Lispector

Em 57 anos de vida, Clarice Lispector escreveu, entre romances e artigos jornalísticos, 85 contos – todos eles presentes na coletânea lançada pela editora Rocco, em homenagem ao centenário da exímia escritora brasileira. Para além de oferecer frestas da literatura “lispectoriana”, até hoje vorazmente debatida, a reunião de histórias é uma viagem pela vida da autora, indo desde seu primeiro conto, publicado aos 19 anos, aos dilemas que irrompiam à medida em que se aproximava da morte. Tão fascinante quanto a criadora, Todos os Contos é uma passagem só de ida para o mundo que é Clarice Lispector.
Sonhos Elétricos, de Philip K. Dick

Conhecido como o autor dos livros que inspiraram Blade Runner e Minority Report, Philip K. Dick é muito mais do que a dupla de obras que o colocou na boca do povo. Mestre de ficção científica, o prolífico, criativo e transtornado escritor criou incontáveis universos, dos quais dez podem ser apreciados na coletânea Sonhos Elétricos, inspiração para a série de TV britânica de mesmo nome do Prime Video. De cenários familiares, mas estranhamente distorcidos, os contos futuristas vão desde possessão por seres extraterrestres misteriosos (como em A Coisa-Pai) a reflexões sobre consumismo e propaganda na década de 1950, transferidas para um futuro distante (Argumento de Venda). Pedida certa para os amantes de histórias mirabolantes – e inquietantes.
Doramar ou A Odisseia, de Itamar Vieira Junior

Depois de se tornar um fenômeno de vendas com o ótimo Torto Arado, a expectativa em torno de Itamar Vieira Junior é grande. Para aplacar a ansiedade do público enquanto se dedica a um novo romance, o escritor baiano lançou uma coletânea de contos – cinco inéditos, sete advindos de um livro anterior, A Oração do Carrasco (Mondrongo, 2017). Assim como em seu best-seller, Vieira Junior investe em protagonistas e narradoras femininas, não raro confrontadas com conflitos sociais, existenciais e emocionais. No conto-título, a doméstica Doramar volta ao lar depois de um dia de trabalho – referência explícita ao herói Ulisses, do cânone da literatura ocidental A Odisseia.