Em entrevista a VEJA, em 2019, o ator Tarcísio Meira, que estrelava a peça O Camareiro, afirmou: “Ninguém gosta de pensar que o fim está chegando. Mas ele está chegando para mim. A esta altura da vida, muitos colegas da minha idade se foram. Daqui a pouco, vou eu. Talvez eu deixe um vazio nas pessoas”. Tarcísio morreu em 12 de agosto, aos 85 anos, em São Paulo, em decorrência de Covid-19. Glória Menezes, de 86 anos, sua eterna companheira, também fora internada com problemas respiratórios, mas com sintomas mais leves. Antes de começar a carreira nos palcos e nas telas, ele pensou em ser diplomata. A dupla estreou no Grande Teatro Tupi, programa de teleteatro da extinta emissora, em 1961. Eles se casaram no ano seguinte, dando início a uma longa parceria na ficção e no mundo real. Eclético, Tarcísio fez fama como galã e, depois, cansado de estar sempre atrelado à imagem de bom moço, virou o jogo. Foi o bonitão João Coragem, da novela Irmãos Coragem, de 1970, mas foi também o vilão Renato, de Roda de Fogo, de 1986. Interessado pelas novidades, estudioso e incomodado com a mesmice, fez questão de trabalhar com cineastas que iam contra o lugar-comum, como Glauber Rocha. Em A Idade da Terra, de 1981, interpretou um Cristo militar. Tarcísio deixará, sim, um vazio nas pessoas.
Um mestre na arte de atuar
Em uma histórica entrevista de Leila Diniz ao Pasquim, o mais conhecido jornal alternativo do país nos anos 1960 e 1970, um dos entrevistadores perguntou na lata: “Qual é o ator com quem você mais gosta de trabalhar?”. A resposta: “Paulo José. Essa é mole de responder”. Os dois tinham trabalhado juntos em Todas as Mulheres do Mundo, filme de Domingos Oliveira, lançado em 1966. O ator gaúcho, de vozeirão imponente, gestos firmes e delicados ao mesmo tempo, era capaz de interpretar todos os personagens do mundo. Vindo do Teatro de Arena liderado por Gianfrancesco Guarnieri, estreou em novelas com Véu de Noiva, de Janete Clair, de 1969. Em O Primeiro Amor, de 1972, criou uma de suas mais inesquecíveis figuras: o mecânico Shazan, que fazia dupla com Xerife (Flávio Migliaccio). Fizeram tanto sucesso que ganharam o seriado Shazan, Xerife & Cia, que foi ao ar entre 1972 e 1974.
A cultura brasileira da segunda metade do século XX foi moldada, em parte, por Paulo José. Ele foi fundamental no Cinema Novo. Ajudou a tirar as peças de teatro das amarras do passado. Na televisão, depois de bem-sucedida carreira como ator, virou um diretor influente, atalho para o que vemos hoje. Dirigiu Agosto (1993). Há quase trinta anos sofria de Parkinson, mas não parou de trabalhar. Morreu em 11 de agosto, aos 84 anos, no Rio, de pneumonia.
Publicado em VEJA de 18 de agosto de 2021, edição nº 2751