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Cineasta estreante faz a primeira coprodução Brasil-Índia

'Bollywood Dream', dirigido por Beatriz Seigner, conta a história de três atrizes brasileiras que resolvem tentar a vida na indústria cinematográfica indiana

Por Rafael Lemos
26 abr 2011, 15h56

Os indianos têm uma relação com o cinema equivalente à dos brasileiros com o futebol. Eles torcem pelos atores. Então, compram bilhetes porque querem que aquele filme dê mais certo do que o outro. Um diretor pode chegar a fazer seis filmes por ano lá. Aqui, a gente faz um a cada quatro anos. Os produtores brasileiros precisam olhar mais para a Índia

Os números impressionam: 1,2 bilhão de habitantes, 17 idiomas oficiais, cerca de 11 mil salas de cinema e mais de mil filmes produzidos por ano. Diante de tal gigantismo, a Índia se impõe como um mercado cinematográfico cada vez mais difícil de ser ignorado pelos amantes da sétima arte. Por isso mesmo é curioso que a primeira co-produção Brasil-Índia tenha, do lado brasileiro, uma jovem estreante. Beatriz Seigner, de 26 anos, é a diretora de Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano, que estreia sexta-feira nos cinemas.

O longa não é um filme tipicamente bollywoodiano. Em estilo de documentário, a ficção conta a história de três atrizes brasileiras – interpretadas por Paula Braun, Lorena Lobato e Nataly Cabanas – que desembarcam na Índia em busca de oportunidades de trabalho no fervilhante mercado do país. “Nós viemos para uma viagem espiritual”, diz uma delas, logo na primeira cena, para despistar um agente da imigração no aeroporto.

Com cenas gravadas em nove cidades e um orçamento de 40.000 dólares, o filme é resultado de uma parceria com o produtor indiano Ram Prasad Devineni, neto do lendário L. V. Prasad – um dos maiores nomes do cinema indiano. O encontro se deu num festival de cinema indiano, na Cinemateca de São Paulo. Em troca de 30% da bilheteria, o indiano garantiu a estrutura necessária para as filmagens – equipe técnica, transporte, hospedagem e equipamento.

“Nós tivemos três dias para convencê-lo a fazer um filme com a gente. No início, ele achou que a gente era maluca. Mas o fato de a Paula (Braun) estar em cartaz com o Cheiro do Ralo nos ajudou. Acho que isso nos deu mais credibilidade”, conta Beatriz.

Poucas horas antes da pré-estreia de seu primeiro longa, Beatriz Seigner falou ao site de VEJA.

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Como você foi parar na Índia?

Quando acabei o colégio, queria viajar antes de entrar para a faculdade. Queria conhecer mais o mundo, estava em dúvidas profissionais… Já fazia curtas, já vivia no teatro, mas às vezes as coisas que você procura estão na sua cara. Quando fui para lá, com 18 anos, eu estava apaixonada pela dança clássica indiana. É uma dança que conta as histórias mitológicas, o princípio do universo… Eles dizem que o universo foi criado a partir do som, e que os deuses dançam para fazer o mundo se movimentar. Tanto que no filme eles falam que Deus admira quem trabalha, mas ama aquele que dança.

Quais foram suas primeiras descobertas?

Acabei me matriculando num curso de cinema do Satyajit Ray, que é um cineasta que gosto muito – do neorealismo indiano. Na verdade, o curso era mais uma desculpa para os meus pais. Só que quando cheguei lá, uma semana depois, o curso tinha sido cancelado por causa do calor. Há 10 anos que não fazia tanto calor na Índia. Mas foi bom, porque aí botei o pé na estrada. Fiquei seis meses lá. Aproveitei para estudar dança também, que é linda. Durante muito tempo, a dança clássica indiana foi proibida pelo Império Britânico. É uma dança de 5.000 anos, uma das mais antigas da humanidade. E os britânicos foram lá e proibiram, assim como tentaram impor a língua. A Índia tem 17 idiomas oficiais. Não-oficiais são mais de 1.000. Esse tipo de coisa foi o que mais chamou minha atenção por lá no primeiro momento.

O povo indiano tem uma relação muito forte com o cinema. Como foi para você ver isso de perto?

A Índia tem mais de 10.000 salas de cinema enquanto aqui temos 2.156. É um cinema a cada esquina. E os ingressos são superbaratos. As pessoas vão muito. A dona-de-casa deixa o filho no colégio e passa no cinema para ver um filme. É uma coisa do dia-a-dia. Vão três vezes ao cinema por semana tranquilamente. Vêem o mesmo filme mais de uma vez. Os indianos têm uma relação com o cinema equivalente à dos brasileiros com o futebol. Eles torcem pelos atores. Então, compram bilhetes porque querem que aquele filme dê mais certo do que o outro. Um diretor pode chegar a fazer seis filmes por ano lá. Aqui, a gente faz um a cada quatro anos, com muita dificuldade. Os produtores brasileiros precisam produzir mais na Índia. Os europeus e os americanos já estão fazendo isso. Eles fazem muita coisa de pós-produção lá. Eu pretendo fazer outras coisas por lá ainda. Já estou conversando. Também quero levar o filme para ser exibido lá. Sei que não vamos alcançar a fatia mais popular, mas só a classe média da Índia tem 200 milhões de pessoas. É mais do que a população brasileira!

Por que uma ficção com linguagem de documentário?

A gente brinca que é uma Bollywood ‘spaghetti’. Tem uma dança no meio, mas a gente tenta trazer esse sonho da forma mais real possível. E isso acaba sendo o oposto daquilo que eles fazem nos filmes de lá. Acho interessante recorrer à realidade para falar de sonho. A ideia era ser o mais real possível.

Bollywood tem uma fórmula repetitiva, que ainda dá muito certo. Aquele formato engessado, com um determinado número de músicas, é mesmo indispensável às produções de lá?

Isso tem mudado desde 2000. A indústria do cinema indiano tem mudado radicalmente nos últimos anos. Foi a partir de 2000 que eles começaram a se organizar como indústria, a ter sindicatos, a convidar roteiristas da Europa e dos Estados Unidos para trabalhar com eles. Eles estão buscando uma nova forma. Ainda usam as seis músicas, porque isso é muito importante para eles. As músicas são vendidas antes mesmo dos filmes. Muitas vezes, são elas que pagam os filmes. E é bom que as pessoas conheçam as músicas quando o filme entra em cartaz, porque aí elas cantam junto. Até os roteiros são baseados nas músicas. Primeiro surge o compositor com as músicas, e depois vem o roteirista. É algo impensável para a gente. Mas, desde 2000, as histórias estão mais originais. Antigamente, eles copiavam tudo. Eles pegavam Missão Impossível, por exemplo, e faziam do jeito deles.

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