Child’s Pose, da Romênia, vence o Festival de Berlim 2013
Filme mostra luta de uma mãe pelo filho e expõe desigualdades sociais do país
Foi mais ou menos o esperado: o romeno Child’s Pose, de Calin Peter Netzer, levou o Urso de Ouro do 63º Festival de Berlim. Os prêmios foram anunciados na noite deste sábado pelo júri presidido pelo cineasta chinês Wong Kar Wai e integrado pela diretora dinamarquesa Susanne Bier, o cineasta alemão Thomas Dresen, a diretora de fotografia americana Ellen Kuras, a artista e cineasta iraniana Shirin Neshat, o ator americano Tim Robbins e a diretora grega Athina Rachel Tsangari.
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O filme mostra a luta de uma mãe (Luminita Gheorgiu) para salvar o filho, que atropelou e matou uma criança pobre, e expõe as desigualdades sociais da Romênia. É mais uma mostra da força do cinema do país, que teve presença maciça nos festivais a partir da Palma de Ouro em Cannes para 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, de Cristian Mungiu, em 2007. Mas as coisas não são mais as mesmas, segundo a produtora de Child’s Pose, Ada Solomon, porque o dinheiro para financiamento dos filmes minguou. “Os políticos romenos deveriam prestar mais atenção porque o cinema romeno é embaixador do país no mundo. Queria agradecer às pessoas que não nos apoiaram e nos tornaram mais fortes.”
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An Episode in the Life of an Iron Picker, do bósnio Danis Tanovic, que também estava entre os mais comentados do festival, ganhou dois troféus, o do Grande Prêmio do Júri (uma espécie de segundo lugar) e o de melhor ator para Nazif Mujic, que reencenou uma história vivida por sua família, quando sua mulher perdeu o bebê que esperava e, sem seguro-saúde, quase morreu porque eles não tinham dinheiro para a cirurgia. “Estou levando esse Ursinho aqui para a minha família. Tenho uma mensagem para instituições e políticos: vocês não deveriam olhar para nacionalidade, fé, religião, cor da pele. Se alguém pede ajuda, numa emergência, deve ser ajudado”, disse Mujic, que é cigano, na coletiva de imprensa após a premiação. “Coisas boas podem vir da raiva. Espero poder voltar a esse festival que amo tanto com uma história mais feliz”, declarou Tanovic ao receber o Grande Prêmio.
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Nenhuma surpresa também nas premiações de melhor atriz para Paulina García pelo chileno Gloria, de trabalho de câmera para Aziz Zhambakiyev pelo cazaque Harmony Lessons e de roteiro para Jafar Panahi e Kamboziya Partovi pelo iraniano Closed Curtain. Partovi disse que não sabe ainda se o prêmio vai ter algum reflexo positivo no Irã. “Eu não posso falar sobre isso ainda. Em um momento falam positiva e, em outro, negativamente. Eu acredito que a tradição e a cultura permanecem, os políticos vêm e vão.” Panahi está proibido de fazer cinema por vinte anos.
Houve certo espanto com os troféus de direção para o americano David Gordon Green por Prince Avalanche, que não estava entre os favoritos, e o Alfred Bauer de inovação artística para Vic+Flo Saw a Bear, do canadense Denis Côté, aparentemente por pura falta de opção. O júri também deu incompreensíveis menções especiais “por sua integridade e convicção” a Layla Fourie e Promised Land.