A publicação nesta semana, pelo jornal francês Le Monde, de uma série de textos que compõem um extenso perfil do escritor Michel Houellebecq pode render um processo ao jornal. Com o título Seis Vidas de Michel Houellebecq, a série, que está sendo publicada desta segunda até sábado, irritou o autor, que já venceu o Goncourt, prestigiado prêmio da literatura francesa, e ganhou ainda mais notoriedade por Submissão, livro que fantasia uma França dominada por muçulmanos e que estava na capa do Charlie Hebdo quando o semanário satírico foi atacado por islâmicos, no começo do ano. Nos textos da jornalista Ariane Chemin, o autor de Submissão e Mapa e o Território é descrito como um personagem contraditório e tirano.
LEIA TAMBÉM:
Michel Houellebecq: ‘Nada será como antes na França’
Michel Houellebecq: ‘A possibilidade de uma ilha’
“Cercou-se de uma corte de imperador chinês. (…) Apresenta-se como uma vítima, como um ser que sofre e que a literatura tem levado além de seu destino. Na verdade, transformou-se em um tirano”, disse sobre ele um amigo do escritor, que preferiu não ser identificado.
A série descreve em seu primeiro capítulo alguém que se viu superado pelo próprio personagem, que ele mesmo compôs. “É ele quem cria seu personagem. Ninguém tem direito a fazê-lo em seu lugar”, assegura o editor Léo Scheer.
O Le Monde reconhece que Houellebecq, poeta, ensaísta e romancista conhecido também por obras como As Partículas Elementares, é o autor contemporâneo francês mais lido e estudado no mundo. Nessa exploração do universo de um escritor ao mesmo tempo “à margem do mundo e no núcleo de sua época”, não minimiza seu valor como literato, mas tampouco sua controvertida personalidade.
O jornal publicou na segunda, também, um editorial em que deixa claro que Houellebecq boicotou sua elaboração e estimulou os conhecidos a fazer o mesmo. “Eu me nego a falar com vocês e peço que os meus conhecidos adotem a mesma atitude”, respondeu o autor a um e-mail da publicação, no qual incluiu “toda Paris”, segundo o Le Monde, entre eles o filósofo Bernard Henri Lévy e o escritor Frédéric Beigbeder. O jornal encontrou resistência na hora de recolher depoimentos sobre Houellebecq, desde em editoras como a Flammarion até o de sua ex-esposa, Marie-Pierre Gauthier.
(Com Estadão Conteúdo)