Cross-dresser assumido há dois anos, o cartunista paulistano Laerte, de 60 anos, passou por uma saia justa – sem trocadilhos – ao utilizar o banheiro feminino de uma pizzaria na zona oeste de São Paulo. Uma cliente que estava no local fez uma queixa ao dono do estabelecimento, que então pediu ao desenhista para usar o banheiro masculino. Indignado, Laerte deixou o lugar. Mais tarde, avisado de que o ato poderia ser lido como discriminação por orientação sexual, segundo o texto da lei estadual 10.948, o cartunista acionou a Secretaria de Estado da Justiça.
O objetivo de Laerte é garantir o direito de usar o banheiro feminino a travestis e cross-dressers como ele. “Minha meta é conseguir o entendimento sobre o direito que foi ferido e o compromisso de uma atitude positiva em relação a ele — nada de processos, indenizações ou de portas lacradas”, diz. O cartunista, que se veste de mulher, adota por vezes o gênero feminino. No Twitter, por exemplo: na última quarta-feira, comentou o episódio fazendo uso do gênero feminino. “Na pizzaria Real, no Sumaré, sou instada a não usar mais o banheiro feminino, a pedidos de uma freguesa. Não volto mais lá.”
Mediante ação da Secretaria da Justiça, a pizzaria pode receber uma advertência ou uma penalidade, que varia de uma multa à cassação da licença para operar. Procurado, o sócio do estabelecimento, Renato Cunha, se mostrou confuso com a repercussão do caso. “Eu me senti na obrigação de conversar com o Laerte, porque a cliente pediu muito, mas, no meu ponto de vista, ele não fez nada de errado ao usar o banheiro feminino. Ele me explicou que era cross-dresser, travesti, não sei, eu não entendo muito dessas coisas.”