Dez anos após a morte de Henri Cartier-Bresson (1908-2004), o Centre Pompidou, um dos mais importantes museus de arte moderna de Paris, inaugura uma grande retrospectiva sobre o fotógrafo francês, cuja obra abrange boa parte do século XX. Mais de 500 fotografias, desenhos, pinturas, filmes e documentos ajudam a fazer uma releitura do trabalho de Bresson. A mostra do Centro Pompidou é a primeira retrospectiva consagrada ao artista, na Europa, desde sua morte.
Vídeo: O século XX retratado por Bresson
“Ele foi constantemente visto como o homem de um único tipo de foto, aquela do ‘instante decisivo”, diz Clément Chéroux, representante da exposição. “Nós queríamos demonstrar que existem vários Henri Cartier-Bresson.” Ainda jovem, Cartier-Bresson se aventurou na fotografia e se encontrou no surrealismo. “Em seguida, aparece um fotógrafo que se alia politicamente aos comunistas e se interessa pelo cinema como meio de propaganda. O fotojornalista surge apenas em 1947, com a criação da agência Magnum”, conta Chéroux, curador de fotografia no Museu Nacional de Arte Moderna.
Filho de um empresário da indústria têxtil, o jovem Cartier-Bresson adorava pintar e desenhar. Foi quando passou a integrar o atelier do pintor André Lhote que adquiriu o gosto pela composição e pela geometria, e conheceu René Crevel, que o apresentou aos surrealistas. Em 1930, Bresson foi para a África, onde viveu por um ano. Deixando de lado o apelo exótico despertado pelo continente, ele fotografou o ritmo de vida africano.
De volta à França, o fotógrafo comprou uma câmera Leica, “o instrumento perfeito para o desenho acelerado e o exercício do olhar sobre a vida”, como explicou em 1986. “Eu revirava os lugares e saía por aí com esse aparelho. Mas, além disso, eu levava comigo uma bagagem literária e visual”. Após compor, intuitivamente, fotos seguindo a proporção áurea e fazer imagens surrealistas que buscavam captar a “beleza convulsiva” de André Breton, Cartier-Bresson se voltou para a fotografia documental. Companheiro de luta dos comunistas, clicou a pobreza e as primeiras folgas remuneradas.
No cinema, dirigiu diversos documentários, um deles sobre a Guerra da Espanha. Preso pelos alemães no início da Segunda Guerra Mundial, fugiu e entrou para a Resistência. Cartier-Bresson fotografou a libertação de Paris, em 1944, mas também dos campos de deslocados na Alemanha, onde fez a célebre imagem de uma delatora encontrada pela mulher que ela havia denunciado.
Com David Seymour e Robert Capa, Cartier-Bresson fundou a cooperativa Magnum. “Queríamos ser testemunhas da nossa época”, declarou. Na Índia, ele fotografou Gandhi um pouco antes de seu assassinato. Na China, viu a chegada dos comunistas ao poder. Na França, cobre a independência das colônias e maio de 1968. “Chegar com passos de lobo, ser discreto (…) se forçamos as pessoas, não temos nada”, ensinava Bresson.
Um pequeno filme dos anos 1960 permite compreender melhor a sua maneira de trabalhar. Vestido de forma elegante, ele se mistura à multidão parisiense diante dos painéis de cartazes, Leica em mãos. Como um gato, ele olha em torno de sua prole antes de se misturar a ela, rápido como um flash.
Com ele, nada de reenquadramentos nem de retoques. Ele não gostava da cor, que não tem “a força e a abstração” do preto e branco. Em 1970, abandonou a reportagem fotográfica para voltar à sua primeira paixão, o desenho. Encantado com o budismo, ele fez, então, fotos contemplativas.
(Com agência France-Presse)