De origem aristocrática, a atriz e modelo inglesa Cara Delevingne via fadinhas voando sobre a relva ao visitar a mansão de sua avó na infância. “Eu acreditava nelas”, disse a atriz a VEJA. Àquela altura, a beldade exótica não fazia ideia do que sua personagem e as colegas aladas da mesma espécie seriam capazes em Carnival Row. Dotada de asas, mas oprimida num mundo onde os humanos impõem a tirania sobre os não humanos, a fada Vignette integra uma resistência que protagoniza lutas ferozes pelos ares. Outras fadas da série lançada na sexta-feira 30, no Amazon Prime Video, preferem façanhas mais prazerosas. Profissionais do sexo, alçam voo agarradas aos parceiros na hora H — o clímax leva diretamente ao céu, claro.
A natureza atirada de suas fadinhas é, contudo, o ponto mais alto a que chega Carnival Row. A superproduzida série se volta para um segmento que virou o Graal do entretenimento televisivo: a fantasia adulta. Com produção de Guillermo del Toro (A Forma da Água), deveria saciar os órfãos de Game of Thrones. Mas Del Toro pulou fora do projeto, e Carnival Row revelou-se uma fantasia adulta infantilizada (ainda que a Amazon mantenha a fé: anunciou uma segunda temporada antes mesmo da estreia).
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A série tem produção luxuosa e uma penca de estrelas — além de Cara e de gente do próprio GoT, há Orlando Bloom como um detetive marrento. Mas a trama gira em falso sobre um único tema batido: a intolerância em relação ao “diferente” — no caso, não apenas as fadas, mas criaturas com aparência humana e chifres de bode. Carnival Row serve para lembrar: é de um roteiro azeitado, não só de apuro visual e grana, que se faz a boa fantasia. O resto é sexo esvoaçante.
Publicado em VEJA de 4 de setembro de 2019, edição nº 2650