O comediante Bill Cosby, acusado de estupro por quase vinte mulheres, admitiu em um documento legal ter fornecido um forte sedativo a pelo menos uma vítima para manter relações sexuais com a mesma. Na transcrição de seu depoimento de 2005, que só foi divulgado agora pelas autoridades americanas no site pacer.gov, Cosby admite que deu Quaalude, sedativo e hipnótico, a uma vítima, em 1976.
Desde novembro, diversas mulheres nos Estados Unidos acusaram Cosby de assédio sexual e estupro, na maioria das vezes após drogá-las. Algumas eram menores de idade no momento dos crimes, ocorridos em sua maioria nos anos 1970. Cosby foi interrogado em setembro de 2005 por Dolores Troiani, advogada de Andrea Constand, ex-diretora do departamento de basquete da Universidade Temple, na Filadélfia, onde Cosby estudou e foi integrante da direção.
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Andrea apresentou uma denúncia por estupro em 2005, mas o caso foi arquivado pelo tribunal por evidências insuficientes – ela e o ator teriam chegado a um acordo. Os advogados de Cosby conseguiram bloquear por vários anos a divulgação das transcrições, mas a confidencialidade acabou na segunda-feira. Durante o diálogo entre Cosby e Dolores, o ator admitiu que conseguiu receitas para obter Quaalude.
A advogada perguntou se ele havia dado a droga a outras pessoas e Cosby respondeu que sim. Ao ser questionado se, quando “conseguiu os Quaaludes, tinha em mente utilizá-los com jovens mulheres com as quais desejava ter sexo”, Cosby também confirmou a intenção. Porém, mais tarde, ele disse ter confundido “women” com “woman” (mulheres e mulher, em inglês). “Eu entendi errado. Mulher, apenas, e não mulheres”, afirmou. Ainda no depoimento, Cosby afirma: “Conheci a senhorita (T, cujo nome não aparece no documento para proteger o anonimato da vítima) em Las Vegas. Ela veio me ver no camarim. Eu dei o Quaalude. Nós fizemos sexo”.
Desde o início do escândalo, os cancelamentos do espetáculo Bill Cosby Show aumentaram e a rede NBC, que o exibia, acabou com o programa que deveria relançar a carreira do astro na televisão. Em dezembro, os promotores de Los Angeles, Califórnia, haviam se recusado a apresentar queixa contra o ator depois de uma denúncia de agressão sexual em 1974 na Mansão Playboy em razão da prescrição dos crimes. Várias denúncias cruzadas por difamação e tentativa de extorsão também foram movidas por Cosby contra algumas das vítimas.
Cosby era considerado uma lenda do humor televisivo americano e um símbolo da luta contra o preconceito racial, além de representar a imagem do bom pai de família. Sua sitcom The Cosby Show marcou as décadas de 1980 e 1990 e foi sucesso de audiência.
(Da redação com agência France-Presse)