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Belo, ‘Praia do Futuro’ discute masculinidade na Berlinale

Para além da homossexualidade, o tema do filme do cearense Karim Aïnouz, representante brasileiro na competição pelo Urso de Ouro, são as novas formas de ser homem hoje. Wagner Moura é a estrela, com direito a nu frontal

Por Mariane Morisawa, de Berlim
11 fev 2014, 16h31

Está sendo muito boa a passagem do Brasil pelo 64º Festival de Berlim. Na noite de segunda, o paulista Daniel Ribeiro estreou seu primeiro longa, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, em um cinema cheio, com recepção calorosa por parte do público. Na sequência, Cao Guimarães e Marcelo Gomes exibiram o belo O Homem das Multidões. Ambos fazem parte da seção Panorama, mostra não competitiva da Berlinale. A entrada do Brasil na disputa pelo Urso de Ouro se deu na tarde desta terça-feira, com a apresentação para a imprensa da coprodução com a Alemanha Praia do Futuro, do cearense Karim Aïnouz.

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Dividido em três capítulos, Praia do Futuro começa com uma sequência de dois homens sobre suas motos, ao longe, um mergulho no mar e uma tragédia. Konrad (Clemens Schick) escapa da morte na água, mas o salva-vidas Donato (Wagner Moura, excelente) não consegue ajudar o amigo do alemão, que desaparece na praia de Fortaleza – o título do filme. Konrad, que foi soldado no Afeganistão, permanece no Brasil, na esperança de que o corpo seja encontrado. Enquanto isso, ele e Donato se aproximam, iniciando um romance. Um tempo depois, o cearense está na gelada Berlim, em princípio para passar férias. Anos mais tarde, seu irmãozinho, Ayrton (Jesuita Barbosa), agora crescido, vai à Alemanha para procurar aquele que o abandonou.

Depois de O Abismo Prateado, em que uma mulher (Alessandra Negrini) era praticamente a única personagem, o diretor mergulha em um mundo masculino. Alguns signos clássicos da masculinidade – as motos, as tatuagens, os super-heróis (quando pequeno, Ayrton chama o irmão de Aquaman e diz que é o Speed Racer) – são subvertidos para discutir de maneira intimista as novas formas de ser homem. O filme também fala de coragem e de medo (medo do estrangeiro, do amor, de começar de novo), temas essenciais da contemporaneidade.

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O romance entre Konrad e Donato é o estopim para a reinvenção do bombeiro, mas não é o foco. “A relação entre os dois caras é importante, mas não o mais importante, não se trata de um filme de amor”, disse Wagner Moura na entrevista coletiva que se seguiu à exibição. “Acho que a gente deve sempre tratar a homossexualidade com naturalidade, não como se fosse alguma coisa estranha”, completou o ator. Mas Karim Aïnouz nunca foi de fugir de cenas de sexo, e aqui não é diferente: há várias, filmadas com elegância, mas também com vigor, e alguns nus, inclusive frontais, de Wagner Moura e Clemens Schick. Quando uma jornalista perguntou sobre o assunto na entrevista, o diretor chamou a atenção para o debate que a homossexualidade ainda desperta: “Você vê, Ninfomaníaca está aí, cheio de cenas explícitas, e porque no nosso filme é entre dois homens, vira uma questão”.

O roteiro de Praia do Futuro, escrito por Aïnouz em parceria com Felipe Bragança, com quem também escreveu O Céu de Suely (2006), é econômico nas palavras e no didatismo, abrindo espaço para o espectador completar as lacunas. O diretor prefere acreditar nas imagens, como na bela cena em que Deodato resolve ficar na Alemanha com Konrad e o final cheio de significados. O conjunto é dos mais bonitos.

Os créditos finais passam junto com a música Heroes, de David Bowie e Brian Eno, o que dificultou ouvir eventuais aplausos ou vaias. De qualquer maneira, as sessões de imprensa do Festival de Berlim não costumam provocar reações muito animadas.

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Alemão – Horas antes da exibição de Praia do Futuro, a imprensa assistiu ao quarto concorrente alemão da competição. Zwischen Welten (Entre mundos, na tradução literal), de Feo Aladag, também tem um soldado alemão com atuação no Afeganistão no centro da trama. Mas as comparações terminam aí, já que o longa não poderia ser mais diferente do brasileiro.

Aladag faz um clássico filme sobre os efeitos colaterais de uma guerra como a do Afeganistão. O soldado Jesper (Ronald Zehrfeld) volta para lá depois de perder seu irmão na explosão de uma bomba. É mandado para uma pequena vila no interior, onde deve apoiar o líder local. Para a tarefa, precisa de ajuda do intérprete Tarik (Mohsin Ahmady), que, por colaborar com o outro lado, é alvo, junto com sua irmã, do Talibã. Tarik já solicitou asilo à Alemanha diversas vezes, mas o pedido sempre foi negado. Claro que Jesper vai acabar por ajudá-lo. O filme procura mostrar como a guerra afeta o dia-a-dia dos afegãos. É uma espécie de versão alemã do mea culpa que os americanos vêm fazendo no cinema há algum tempo. Não traz nenhuma novidade. Neste caso, sim, deu para ouvir vaias esparsas, mas bem contundentes, ao final da sessão de imprensa.

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