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Angústia à moda millennial

Com uma interpretação feroz de Natalie Portman, 'Vox Lux' acompanha uma pop star desde seu despontar singelo até a celebridade abrasiva do novo século

Por Isabela Boscov Atualizado em 29 mar 2019, 07h00 - Publicado em 29 mar 2019, 07h00

Sobrevivente de uma tragédia medonha (na qual a plateia é jogada sem aviso) e ainda em recuperação do ferimento na coluna que vai atormentá-la pelo resto da vida, Celeste, de 14 anos, comparece ao memorial para as vítimas. Diz que está sem palavras e, por isso, vai cantar algo de sua autoria, com a irmã ao teclado. A canção capta e faz reverberar o luto nacional, e escala até o topo da parada. Seria difícil imaginar um início mais autêntico para uma pop star — não por força do marketing, mas pelo cerne genuíno e por aclamação popular. Entretanto, a narração quase antropológica na voz de Willem Dafoe deixa claro desde o princípio que Vox Lux (Estados Unidos, 2018), já em cartaz no país, não é uma saga de ascensão à maneira de Nasce uma Estrela — bem ao contrário. O filme do jovem diretor Brady Corbet é um estudo intrigante, de humor cínico mas também de uma perplexidade dolorosa, sobre as engrenagens ambíguas da fama (a de Celeste estará sempre ligada àquele episódio de violência) e também sobre o tipo de aspiração que faz com que a megacelebridade tenha adquirido os contornos que hoje a definem.

Interpretada por Raffey Cassidy na adolescência, Celeste ganha um empresário (Jude Law) e uma carreira meteórica. Os laços com a irmã se rompem abruptamente — e Vox Lux salta então dessa fase, entre 2000 e 2001 (o 11 de Setembro marca presença), para os dias atuais. Celeste, agora vivida com ferocidade e bravura por Natalie Portman, está para se relançar, depois de vários episódios de mau comportamento. Sua irmã (Stacy Mar­tin), que ela continua tratando como inimiga, vem ver seu show em Nova York com a sobrinha — a filha que Celeste teve quando adolescente. Um atentado com mortes na Croácia é ligado à figura da cantora, e faz com que esse dia seja ainda mais maníaco. O fascinante é o que Celeste se tornou no intervalo que o filme suprime: uma persona abrasiva e petulante, dedicada à mecânica do seu espetáculo (repare na curiosa mixagem de som da sequência final) e dependente de emoções químicas, já que as verdadeiras viraram uma massa indistinta de insatisfação. Corbet, de 30 anos, é um millennial. Mas sabe como nenhum outro até aqui olhar de fora a sua geração.

Publicado em VEJA de 3 de abril de 2019, edição nº 2628

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