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Amor e violência convivem na supersérie ‘Onde Nascem os Fortes’

História da nova novela das 11 -- ou supersérie -- é impregnada de influências. Estão lá Lampião e Maria Bonita, o Conselheiro, Delmiro Gouveia

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 23 abr 2018, 10h00 - Publicado em 23 abr 2018, 09h49

Roteirista de O Grande Circo Místico, George Moura prepara o black-tie para a montée des marches na gala do longa de Cacá Diegues, que será exibido em caráter de homenagem dia 12 de maio, em Cannes. Nesta segunda, 23, na Globo, outro trabalho de Moura ganha os holofotes. Cartazes espalhados por todo o Brasil anunciam a estreia da supersérie Onde Nascem os Fortes, e o crédito é de George Moura e José Luiz Villamarim. É o sexto trabalho da dupla, após um belíssimo filme, Redemoinho, e séries e novelas que recolheram elogios e audiência. O Canto da Sereia, Amores Roubados, O Rebu, Por Toda a Minha Vida. Onde Nascem os Fortes é uma história original — em termos. “Resolvemos que queríamos voltar ao Nordeste, ao sertão, e o George teceu uma história impregnada de influências. Estão lá Lampião e Maria Bonita, o Conselheiro, Delmiro Gouveia”, explica Villamarim. “É um sertão que não é mais aquele da memória, mas vivo, um sertão em que convivem a poeira e o asfalto, os cavalos e as motos, os celulares e as pick-ups. E dentro desse sertão pode-se radiografar o Brasil, a questão do poder e do coronelismo.”

Villamarim é mineiro, Moura é pernambucano. Ambos vêm de famílias católicas, estudaram em colégios maristas. Possuem as mesmas referências e influências, as mesmas vivências. “A gente namorava no recreio, na igreja. Havia uma entrada lateral, a nave ficava deserta, escura e a gente ia para o amasso naquele ambiente de excitação e culpa. Então, quando eu escrevo o diálogo para Débora Bloch, como uma mãe que corre como uma oferenda a Deus, rezando pelo restabelecimento da filha, o Villa entende”, conta Moura. Para ele, Fortes nasceu como um desejo de mostrar que a modernidade do Brasil permanece presa ao arcaico, às velhas estruturas. Como todo capítulo inicial, o da supersérie é fragmentado, porque tem muitos personagens para apresentar. Mas alguns momentos e fragmentos ficam com o espectador.

Uma noite no sertão. Vai se apresentar a Shakira sertaneja. A movimentação é intensa. As motos, os cavalos, os carros. É o emblema desse mundo que a nova novela das onze, ora rebatizada de supersérie, retrata. “Para mim, é decisivo”, diz Villamarim. “É a cena conceitual do começo dos Fortes. Esse mundo em convulsão, transformação, está todo ali, naquela poeira de motos e animais.” E Moura — “Eu estava no set, naquela noite. Vi nascer o plano de que você está falando, e foi emocionante. Estava dentro do carro, vendo aquela movimentação toda. Me deu uma coisa, uma emoção. Cheguei a chorar.”

Tudo converge, no primeiro capítulo, para o confronto entre os personagens de Marco Pigossi e Alexandre Nero. O garoto arretado peita o poderoso das terras, que joga sobre ele seus capangas. Pigossi apanha, mas reage. Apanha mais. A fala de Nero — “Isso é para você aprender quem manda e é mandado.”

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De repente, todas as histórias fragmentadas, cruzadas vão se organizar e fazer sentido. Pigossi vai desaparecer e a irmã, Maria, vai iniciar uma busca mítica por ele. Serão 53 capítulos, quatro vezes por semana — de segunda a sexta, menos quarta, que é dia de futebol. Moura avalia a diferença de escrever para cinema e TV. “Num filme, quando chegamos a 50 minutos, os conflitos já se encaminham para uma solução. Numa série, ou macrossérie, aos 50 os conflitos que vão delimitar a linha geral da história só começam a se esboçar.” Moura escreve, Villamarim filma. Seja por afinidade, ou o quê, um não interfere na atividade do outro. Discutem, trocam ideias, mas Moura não sugere como Villa deve construir a cena e o diretor também não fica interferindo no diálogo escrito por Moura.

Maria ( Alice Wegmann ) e Nonato ( Marco Pigossi ) vão ao show de Shakira do Sertão ( Jesuita Barbosa ). (Estevam Avellar/TV Globo)

De cara, a dramaturgia subverte o desenho dos personagens. Nero, que se chama Gouveia, como o mítico empreendedor do sertão, é pai dedicado, mas tem amante e faz rebentar de pancada aquele que ousou desafiar sua autoridade. Será o vilão da história? No final do capítulo, vestido de branco, surge o magistrado — Ramiro (Fábio Assunção), praticando tiro ao alvo com rifle de mira telescópica. Assim fica difícil errar. “Todo dia é dia de caça, e de caçador”, diz o poderoso Ramiro. O branco cria um arquétipo — será, em oposição a Nero, o personagem positivo da trama? Ramiro, o juiz, como inquisidor do sertão, é o senhor de tudo. É inimigo mortal de Gouveia. Refreie sua expectativa. Mocinho, bandido. As coisas não são tão simples. Vão se complicar ainda mais.

Maria, em busca do irmão, reviverá o arquétipo de Maria Bonita — Alice Wegmann é quem faz o papel — e Patrícia Pillar, como a mãe, vai se aproximar do juiz. Para complicar ainda mais, o juiz tem um filho, Ramirinho, interpretado por Jesuíta Barbosa, e que não é outro senão a Shakira do sertão. O travesti evoca Visconti — Helmut Berger emulando Marlene Dietrich em Os Deuses Malditos. E, na abertura, o plano subjetivo da bicicleta, quando Maria cai, leva a outro, belíssimo – que descortina a paisagem, o sertão. Ecos do deserto de David Lean, Lawrence da Arábia. “Parece presunçoso, não?”, pergunta o diretor. Na verdade, são coisas tão entranhadas no imaginário dele, e de Moura, que terminam vindo, ao natural, a partir das sugestões do roteiro.

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Nonato ( Marcos Pigossi ) flerta com Joana ( Maeve Jinkings ) na frente de Pedro ( Alexandre Nero ) (Estevam Avellar/TV Globo)
Hermano ( Gabriel Leone ) leva Maria ( Alice Wegmann ) para praticar alpinismo. (Estevam Avellar/TV Globo)
Hermano ( Gabriel Leone ) oferece carona a Maria (Alice Wegmann). Gilvânia ( Clarissa Pinheiro) é motorista. (Estevam Avellar/TV Globo)
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