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A produção em série de Charlaine Harris, a ‘tia’ da fantasia

Americana de 60 anos ficou milionária com a saga ‘As Crônicas de Sookie Stackhouse’, base do seriado ‘True Blood’, que estreia 5ª temporada em junho

Por Raissa Pascoal
19 Maio 2012, 18h02

Por trás da voz pausada, do semblante pacífico e da aparência de dona de casa de Charlaine Harris, há uma escritora com gosto por mistério, seres sobrenaturais e boas pitadas de sexo e violência. Moradora do conservador estado do Texas e mãe de três filhos já adultos, a americana de 60 anos viu sua carreira, que já cobre metade de sua vida, atingir o sucesso em 2001, com a publicação da saga vampiresca As Crônicas de Sookie Stackhouse (The Southern Vampire Mysteries, no título original), transformada no seriado True Blood, sete anos mais tarde. Trazida em 2009 ao Brasil pela Ediouro, e no ano seguinte continuada pela Saraiva, a saga já vendeu mais de 24 milhões de exemplares no mundo. Por isso, como todo fenômeno comercial, tem seus passos agendados com antecedência. O 13º e último volume de Sookie Stackhouse tem lançamento marcado para 7 de maio de 2013.

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Para a escritora, o mundo vem conspirando a favor de sua produção. À parte a sua capacidade para fisgar o leitor, que reconhece sem modéstia – “Se você nasceu para ser escritor, as ideias vêm. Eu nasci para isso” -, Charlaine atribui ao cenário econômico o seu bom desempenho nas livrarias. “Tradicionalmente, quando a economia vai mal, as pessoas recorrem à literatura de fantasia”, diz. A história da autora, pelo menos, comprova essa tese. Em 2008, o ano em que se iniciou a recessão detonada pela crise imobiliária americana, Charlaine emplacou todos os volumes da série de Sookie Stackhouse – eram sete até o momento – na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times. Três anos depois, ainda num momento difícil para a economia americana, ela quebrou outra marca e se tornou o quarto escritor a vender mais de 1 milhão de exemplares para Kindle, o leitor eletrônico da Amazon.

Há ainda uma terceira – e fundamental – explicação para o sucesso de Charlaine Harris. Foi também em 2008 que a HBO levou ao ar o seriado True Blood, baseado na saga de Sookie Stackhouse, uma garçonete do interior da Louisiana que escuta os pensamentos das pessoas e passa a viver aventuras recheadas de sensualidade e manchadas de sangue ao conhecer o vampiro centenário Bill Compton. A série, que ganha quinta temporada dia 10 de junho nos Estados Unidos e no Brasil, teve audiência média de 5 milhões de espectadores por episódio na TV americana, na última temporada.

Para dar conta de sua competitiva produção em série – a saga de Sookie Stackhouse é a sua terceira, que ela escreve ao mesmo tempo que a quarta, Harper Connelly Mysteries, e já há uma quinta série a caminho -, Charlaine hoje conta com uma equipe. “Tenho um assistente que colabora com a correspondência e um editor que me ajuda a manter a linha dos personagens de As Crônicas de Sookie Stackhouse, desde que ela se tornou a minha maior série”, diz. E trabalha diariamente, escrevendo ao menos três horas. O restante do tempo divide entre a leitura de livros de fantasia urbana, mistério e histórias de amor e a alimentação de seu site e de seu perfil no Facebook.

E não tem planos de parar. “O campo da fantasia urbana é muito rico. Escrevo o que quero e espero que seja o que o público quer ler”, afirma a escritora, que estreou em 1981 com Sweet and Deadly (Doce e Mortal, em tradução direta), o primeiro de um catálogo de 32 livros, e levou vinte anos para se consagrar comercialmente. “Hoje há muito mais gente pedindo a minha ajuda, o que acho natural, e, é claro, tenho muito mais dinheiro do que antes”, diz sobre as mudanças que enfrentou depois de estourar em vendas. “Eu compro todos os livros que quero, mas não tenho tempo para viajar, porque sempre estou trabalhando. Só viajo quando estou fazendo tour de divulgação de um livro, o que também é trabalho”, acrescenta a ‘tia’ do sobrenatural, para quem viajar não parece ser mesmo um grande objetivo.

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Apesar das histórias fantásticas que cria, Charlaine Harris segue como uma pacata senhora do sul americano. “Se as coisas que escrevo fossem reais, a vida seria certamente mais emocionante. Mas eu não estou certa de que gostaria de uma vida mais emocionante.” Confira abaixo a conversa da escritora com o site de VEJA.

Escritora americana Charlaine Harris, autora da série 'As Crônicas de Sookie Stackhous
Escritora americana Charlaine Harris, autora da série ‘As Crônicas de Sookie Stackhous (VEJA)

As pessoas gostam de ler sobre seres sobrenaturais, basta ver a lista dos livros mais vendidos. O que explica isso? (Risos) Tradicionalmente, quando a economia vai mal – não sei como está no Brasil, mas aqui está indo mal -, as pessoas gostam de ler sobre o fantástico, elas recorrem à literatura de fantasia. Não é por isso que eu escrevo livros de fantasia. Escrevo porque me diverte. Não me preocupo demais com o público. Escrevo para adultos e espero que os pais monitorem o que os filhos estão lendo. Por outro lado, tem coisa que me diverte e sobre a qual eu não escrevo, como os zumbis. Eu gosto de zumbis, assisto sempre à série The Walking Dead. Mas nunca pensei em escrever uma história a respeito.

Você gostaria que o universo das suas séries fosse real? Boa pergunta. Bem… Se as coisas que escrevo fossem reais, a vida seria certamente mais emocionante. Mas eu não estou certa de que gostaria de uma vida mais emocionante. Sempre existem obstáculos no caminho que você não espera e acho que isso poderia trazer mais problemas.

Você tem escrito As Crônicas de Sookie Stackhouse nos últimos doze anos. Quando você decide que é o momento certo de terminar uma série? Parece mais natural para mim trabalhar com uma série do que fazer apenas um livro de uma determinada história. Eu gosto de desenvolver os personagens e de voltar a utilizá-los. Não preciso reinventar o universo quando escrevo um livro, se tenho alguns personagens que já existem. Mas, quando fico sem ideias e a expectativa de escrever outro livro de uma determinada série já não me empolga mais, é hora de parar. Agora mesmo, escrevo a última parte de As Crônicas de Sookie Stackhouse.

Você postou em seu perfil no Facebook que Dead Ever After, o último livro da saga, será publicado nos Estados Unidos em 7 de maio de 2013. Nele, você vai amarrar todas as pontas soltas e dar um fim a todos os personagens da história? (Risos) Não vejo como fazer isso em um livro de 300 páginas. Não vou amarrar todas as pontas, porque nem a vida funciona assim, mas vou tentar oferecer o máximo de desfechos que der. Os leitores gostam de tudo amarrado, mas eu não acho que possa fazer isso. Não posso agradar todo mundo, porque cada um quer um final diferente. Farei o que achar que é certo.

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Em junho, estreia no Brasil e nos Estados Unidos a 5ª temporada de True Blood. Você gosta do elenco e das diferenças entre o seriado e os livros? Claro que gosto, eles são ótimos. Ninguém poderia criar uma Sookie que combinasse com a que eu imaginei, porque eu vivi com ela por muitos anos. Mas Anna Paquin faz um ótimo trabalho. As diferenças entre os livros e a TV na verdade são interessantes para mim, porque não sei o que acontecerá na temporada seguinte. Eu gosto de ter surpresas. E assim não preciso ficar em contato com os produtores, eles são independentes. O seriado, inclusive, não interfere na minha criação. Eu estou muito à frente do seriado (quando a série True Blood estreou, a autora já havia lançado o oitavo livro da saga As Crônicas de Sookie Stackhouse).

Quando você cria suas personagens principais, como Sookie Stackhouse e Harper Connelly, dá características suas a elas? Elas são mulheres muito diferentes. Existe uma lasca de mim em todos os personagens que escrevo, mas eu os construo para que se encaixem na história que estou contando. Muito do tempo que se passa escrevendo é um processo de revelação de si próprio. Eu descobri algo sobre mim mesma enquanto estava escrevendo Sookie, particularmente. Descobri que, como Sookie, sou muito leal aos meus amigos, o que achei ótimo (risos). O fato de cada personagem ter algo de mim, no entanto, não me faz gostar mais de um do que de outro. Eu gosto daquele que estou escrevendo no momento. E acho interessante passar de um personagem para outro, é um processo que me mantém estimulada.

Você tem planos para outros livros ou séries? Estou escrevendo uma graphic novel em três volumes com o roteirista Christopher Golden, sobre uma jovem mulher que foi deixada para morrer em um cemitério, mas sobrevive e começa a viver no local e tentar descobrir quem tentou matá-la, pois ela não lembra. O texto do primeiro volume está terminado, agora vão ser feitos os desenhos. Publicaremos no próximo ano, mas ainda não sabemos por qual editora, estamos procurando uma. E eu assinei um contrato com a Ace Books, minha editora, para escrever três livros depois do último romance de Sookie.

Sobre o que são os três livros que você escreverá depois de As Crônicas de Sookie Stackhouse? É uma série e a primeira parte, Midnight Pawn (Penhora da Meia-Noite, em tradução livre), será sobre uma casa de penhor no meio do nada no Texas e com diversidade de pessoas estranhas vivendo na pequena cidade próxima. Existem alguns seres sobrenaturais. Até agora, eu tenho um vampiro, mas muitas pessoas lá são estranhas, então, será muito diferente para mim.

Há algumas semanas, foi divulgado que o seriado baseado na série Harper Connelly Mysteries será desenvolvido pelo canal SyFy. No entanto, ele estava sendo produzido pela CBS. O que aconteceu? A CBS pediu muitas mudanças no roteiro e, no final, eles não gostaram do projeto. Kam Miller, responsável pelo programa, o ofereceu então ao SyFy. O elenco ainda não foi escolhido.

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