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A piada ou a vida

'The Marvelous Mrs. Maisel' está no seu melhor quando mostra como a protagonista quer — e teme — o sucesso

Por Isabela Boscov Atualizado em 7 dez 2018, 07h00 - Publicado em 7 dez 2018, 07h00

Se Midge Maisel (Rachel Brosnahan) sabe o que é apatia, é só de ouvir falar: vivaz, falante, ativa, organizada, a jovem dona de casa transborda energia. Seu marido, Joel (Michael Zegen), nunca a viu desarrumada, mal-humorada ou sem mais um plano e mais uma ideia. Joel às vezes se apresenta no Gaslight, um clube de comédia stand-up no bairro boêmio do Village. Midge acha que é só diversão, mas não — o sonho de Joel é largar o emprego e virar astro do stand­-up. Essas e outras revelações (o caso com a secretária, o apartamentão que nunca foi pago) vêm à tona após uma noite de fiasco no Gaslight, que termina com Joel fazendo as malas. Midge entra em parafuso. Bêbada e de camisola, sobe ao palco e põe a plateia abaixo com um monólogo genial em que expõe sua desgraça. Eis o dilema de The Marvelous Mrs. Maisel, série da Amazon cuja segunda temporada acaba de estrear: Midge é que tem o verdadeiro talento. Mas o que uma jovem judia de boa família pode fazer dele — e de um divórcio — em 1958? Para surpresa da própria protagonista, a resposta é uma só: investir nesse dom, com a ajuda meio desesperada de Susie (Alex Borstein), uma moça que se veste de homem e vê em Midge uma chance de carreira e de revanche contra a insignificância.

Neste ano, Mrs. Maisel saiu da festa do Emmy carregada de prêmios. Rachel Brosnahan — que faz da tagarelice da sua personagem algo encantador —, Alex Borstein e Tony Shal­houb, que interpreta o pai de Midge, levaram os seus. Outros quatro foram direto para os braços da criadora e roteirista Amy Sherman-Palladino, de Roseanne e Gilmore Girls. Todos fartamente merecidos: Amy e seu marido e coprodutor, Dan Palladino, fazem aqui um trabalho superlativo. Os cenários e os figurinos combinam autenticidade à aura de sonho do cinema technicolor da época, e as coreografias da câmera são virtuosísticas. No elenco, não há quem não brilhe. As falas são um caso à parte: por mais estrondosos que sejam os números de stand-up (e são), o rá-tá-tá dos diálogos em família é ainda melhor (é um vexame Marin Hinkle, que interpreta a mãe de Midge, não ter sido premiada). A paixão pelo tema é, também ela, genuína: o pai de Sherman-Palladino fazia stand-up no chamado “cinturão do borscht” — os hotéis de verão frequentados quase só pelos judeus de Nova York —, e o legendário Lenny Bruce era amigo da família.

Na série, Bruce, pioneiro de um tipo de stand-up agressivo, cáustico e então escandaloso, aparece como personagem. Midge o conhece na cadeia (longa história), e ele dá aquela força a ela: só desbravadoras meio doidas, como Joan Rivers, encaravam uma plateia munidas de um microfone e de suas desventuras. Nesta segunda temporada, mais de um ano se passou e Susie anda lotando a agenda de Midge, para quem a comédia virou uma cachaça. Mas, se na frente de desconhecidos ela é destemida, diante da família e do seu círculo ela ainda esconde o que faz, por medo de perder o que seu talento ainda não lhe roubou. É aí que Mrs. Maisel está no seu mais perspicaz: quando entende como, mesmo hoje, ganhar uma coisa implica, para uma mulher, abrir mão de outra.

Publicado em VEJA de 12 de dezembro de 2018, edição nº 2612

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