Duas histórias melancólicas, porém belas e tocantes, encerraram a programação de longas-metragens do 39º Festival de Gramado, na noite desta sexta-feira, dia 12. O programa duplo começou com Jean Gentil, de Laura Guzmán e Israel Cárdenas, uma coprodução entre a República Dominicana, México e Alemanha que versa sobre uma das muitas facetas da miséria humana e encerrou a competição latina. Na sequência, o brasileiro Sudoeste, de Eduardo Nunes, convidado para encerrar a maratona, fora de competição, mostrou que é possível capturar a essência do tempo e da solidão no rosto de atrizes talentosas.
O filme de Laura e Cárdenas descreve a sofrida via crucis do personagem-título, um abatido professor haitiano que procura emprego na vizinha San Domingos, na Republica Dominicana. Profundamente religioso e incapaz de se adaptar aos ambientes mundanos que lhe aparecem pela frente, o acadêmico ruma para o interior verdejante do país e, ao longo do seu martírio solitário e silencioso, vai despindo-se dos traços da civilização que carregava com ele – chega a queimar o currículo vitae e o diploma no meio da mata.
Embora imperfeito, Jean Gentil deixou a plateia de Gramado com os olhos marejados. O filme foi representado por três de seus atores, capitaneados pelo simpático Jean Remy Gentil, intérprete do protagonista, e em cuja experiência pessoa o roteiro é baseado, que elogiou a beleza da cidade anfitriã. “Quando jovem, sempre sonhei em viajar pelo mundo mas, infelizmente, esta é a minha primeira viagem para fora do meu país”, contou o ator (não profissional) no palco do Palácio dos Festivais. “Espero que Gramado continue me convidando para vir ao Brasil. Nunca recusarei.”
Os silêncios e desolação de Jean Gentil encontraram paralelo perfeito na paisagem humana e geográfica de Sudoeste, longa de estreia do premiado curta-metragista, autor de Terral (1995) e Reminiscências (2001). Rodada em preto e branco e ambientada em uma pequena comunidade salineira do litoral fluminense perdida no tempo, a trama descreve o estado de estupor de uma mulher que atravessa um ciclo de vida inteiro durante um único dia. Na fase jovem, a personagem é interpretada por Simone Spoladore. O elenco conta com as contribuições impecáveis de Dira Paes, Léa Garcia e Mariana Lima.
“Estive em Gramado com o meu primeiro curta-metragem solo, o Terral, há exatos 15 anos. Exibir aqui meu primeiro longa-metragem é uma emoção especial, é como fechar um ciclo da minha carreira”, comentou Nunes, ao lado de sua protagonista. “Queria aproveitar a chance e a agradecer Gramado pelo Kikito de melhor atriz que recebi ano passado, por meu trabalho em Não se pode viver sem amor, do (Jorge) Durán, quando não pude estar aqui para recebê-lo. Esta sessão, portanto, me é particularmente emocionante, porque Sudoeste é um filme especial para mim”, agradeceu Simone Spoladore.
Os vencedores das diversas categorias do Kikitos serão conhecidos na noite deste sábado, 13, a partir das 21h.