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“A indenização foi justa”, diz produtora e neta de Vinicius de Moraes

Julia Moraes defende os R$ 3,4 milhões que a família ganhou pela perseguição ao avô na ditadura

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 Maio 2021, 06h00
MEMORABILIA - Julia Moraes: “Meu avô nunca recebeu um tostão pelos shows” -
MEMORABILIA - Julia Moraes: “Meu avô nunca recebeu um tostão pelos shows” – (Helena Barreto/.)

Quando o poeta e compositor Vinicius de Moraes (1913-1980) morreu, você tinha apenas 6 anos. O que lembra de seu avô? As lembranças são sempre lúdicas. No caso do Vinicius, elas são mais poéticas ainda. Lembro-me da casa da Gávea, que costumava ficar cheia de gente em volta de uma ampla mesa de café da manhã. Era um clima muito carinhoso e amistoso. O jeito dele, sempre tão doce, impregnou toda a família. É uma presença até hoje muito forte na minha vida.

Como surgiu a ideia de disponibilizar on-line, desde quinta 27, mais de 11 000 documentos de seu avô, como letras de músicas e correspondências que ele trocou com pessoas como Charlie Chaplin e Orson Welles? Esses materiais já estavam disponíveis para consulta pública presencial. Agora, qualquer pessoa poderá acessá-los pela internet. Rever os documentos me deu uma imensa vontade de ter nascido alguns anos antes, para que eu pudesse ter usufruído mais a sua convivência. Só depois dos 40 anos é que fui trabalhar com esse material. Precisei lidar com outras coisas na minha vida até ter a maturidade para compreender a obra do Vinicius.

Como recebeu a recente decisão da Justiça Federal de conceder indenização de 3,4 milhões de reais aos familiares de Vinicius pelo fato de ele ter sido aposentado compulsoriamente da carreira diplomática, no fim dos anos 60, em razão do AI-5? A indenização foi justa e é importante deixar claro que o montante só é esse por causa da demora na decisão. Vinicius fez conexões importantes para o Brasil quando diplomata. A perseguição que sofreu foi de uma boçalidade sem fim. Um general o chamou de vagabundo. Mas, durante seu tempo de serviço na época da bossa nova, meu avô sempre se apresentou de terno e gravata. Nunca ganhou um tostão pelos shows, porque isso era proibido aos diplomatas.

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De João Gilberto ao Legião Urbana, as brigas pelo espólio de grandes artistas são comuns no país. Como sua família conseguiu ser uma exceção à regra? Todas as famílias têm suas questões. A vida de Vinicius sempre nos inspirou, por isso mantemos essa sintonia. Nossas decisões têm de ser unânimes. Após a morte dele, os filhos herdaram a responsabilidade de preservar sua obra, e doaram os direitos à empresa VM Cultural. Hoje, qualquer coisa relacionada ao Vinicius é negociada com essa pessoa jurídica, sem precisar tratar individualmente com os herdeiros. Quando temos dúvida do que fazer, vamos buscar as respostas na própria obra dele. Todas as respostas estão lá.

Além de poeta e compositor, seu avô era dono de frases afiadas. Qual é a sua favorita? Gosto daquela em que ele fala: “A poesia é o jeito mais simples de dizer coisas complicadas”. Precisamos de mais poesia na nossa vida. Vivemos um problema de comunicação. Todo mundo fala e ninguém escuta. Esquecemos como se faz para dialogar.

Publicado em VEJA de 02 de junho de 2021, edição nº 2740

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