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‘A confiança vai voltar’, diz diretor da Osesp sobre retorno do público

Os dilemas e as soluções encontrados pela orquestra para retomar as atividades, com número de público e de músicos reduzido

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 out 2020, 15h53 - Publicado em 19 out 2020, 15h48
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  • Com a entrada da cidade de São Paulo na fase quatro (verde), a capital paulista voltou a ser cenário de algumas das principais atrações culturais do país. Caso dos concertos na majestosa Sala São Paulo, casa da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), suspensos há 215 dias. A nova agenda foi retomada no dia 15, quinta-feira, e as apresentações estão programadas até o fim do ano (confira a programação completa no site da Osesp).

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    Reportagem de VEJA acompanhou a reabertura da tradicional casa de espetáculos e a sensação foi de segurança. Na entrada, o local se equipou com tapetes para higienizar os pés, totens com álcool em gel e marcações no chão para garantir o distanciamento e um caminho de mão única até os pontos de interesse: o café (que também reabriu), os banheiros e, claro, a sala. Ingressos são adquiridos online e apresentados no celular na portaria. No café, a mesma coisa. O cardápio só pode ser acessado por QRCode e para fazer um pedido é necessário um cadastro com e-mail e senha. O contato com o garçom só ocorre na hora de receber o pedido e pagar a conta.

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    Dos 1.500 lugares da Sala São Paulo foram liberados apenas 480 deles para a venda e, neste primeiro dia, cerca de 60 foram ocupados. Fileiras de cadeiras foram isoladas para garantir o distanciamento e não há lugar marcado. O público é acompanhado por um funcionário até as poltronas livres. Uma vez ocupado o espaço, ele deve ficar lá até o final.

    Orquestra Sinfônica de São Paulo faz primeira apresentação após quarentena, com integrantes de máscaras e distanciamento – (Mariana Garcia/Divulgação)
    Orquestra Sinfônica de São Paulo faz primeira apresentação após quarentena, com integrantes de máscaras e distanciamento – (Mariana Garcia/Divulgação)

    Na noite de reabertura, ocorreram duas apresentações, com regência do maestro alemão Alexander Liebreich, às 19h e às 21h15. Metade da orquestra, cerca de 50 músicos, fez a primeira apresentação, e a outra metade fez a segunda, para também evitar aglomerações no palco. No roteiro, a Osesp tocou Für Lennart [In Memoriam], de Arvo Pärt, Sinfonia nº 1 em dó menor, Op. 68, de Brahms.

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    Em entrevista a VEJA, o diretor-executivo da Osesp, Marcelo Lopes, falou sobre o retorno dos espetáculos na Sala São Paulo:

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    O público da Sala São Paulo é majoritariamente mais velho, ou seja, do grupo de risco. Como conquistar a confiança dessas pessoas para que saiam de casa? Ainda é uma incógnita. Esperamos que eles compareçam e percebam que tomamos todas as medidas de segurança. O local é arejado e amplo. Talvez tenhamos uma queda grande do público num primeiro momento, mas com o tempo a confiança vai voltar.

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    Quais foram as medidas tomadas para manter os músicos ensaiando e trabalhando durante a quarentena? Manter os músicos em prática foi uma das nossas preocupações número 1. Todos eles continuaram praticando em casa e também fizemos transmissões ao vivo a partir de 1º de agosto. Fizemos um mapeamento do palco da Sala São Paulo e avaliamos que era possível ter entre 45 e 50 músicos com distanciamento seguro de 1,5m entre eles e 2,5m entre os instrumentos de sopro (que não utilizam máscaras), também com separação de alguns músicos com placas de acrílico, para evitar os aerossóis dos sopros. Com 50 pessoas no palco, dividimos a orquestra em duas e um grupo não tem contato com o outro para também evitar contaminação cruzada. Todos os músicos estão em forma.

    Em condições normais, os músicos da orquestra se sentam muito próximos uns dos outros. O espaçamento entre eles pode prejudicar a desempenho? No primeiro ensaio foi bastante difícil a adaptação. Geralmente, as cadeiras ficam posicionadas entre 30 a 40 cm entre elas. Agora está a, pelo menos, 1,5 m. A solução foi pedir uma postura mais proativa dos músicos, para que cada um não fique tão dependente do colega ao lado. Os músicos percebem esse atraso sonoro causado pela distância e, para resolver, estão tocando um pouquinho mais a frente do que seria o normal.

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    O público vai perceber a diferença de uma orquestra que antes tinha 100 integrantes, tocar com apenas 50? Não dá para dizer que não vai ter diferença, porque vai. Mas isso não significa uma queda na performance e da qualidade artística. É apenas diferente. A audição terá um pouco menos de massa sonora, mas o público vai ganhar em transparência. Vai ser possível observar melhor os desempenhos individuais.

    Orquestra Sinfônica de São Paulo faz primeira apresentação após quarentena, com integrantes de máscaras e distanciamento – (Mariana Garcia/Divulgação)
    Orquestra Sinfônica de São Paulo faz primeira apresentação após quarentena, com integrantes de máscaras e distanciamento – (Mariana Garcia/Divulgação)

    O repertório foi adaptado para essa diminuição de músicos no palco? Sim. Vamos evitar agora o repertório do século XX e o romântico tardio, como Richard Strauss ou Gustav Mahler. Não vai ser possível tocar peças com grandes massas orquestrais. Mas temos uma feliz coincidência, porque estamos celebrando os 250 anos de Beethoven e, com exceção de algumas obras da Nona Sinfonia e as grandes peças corais, como Cristo no Monte das Oliveiras, é possível apresentar quase todo o seu repertório.

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    Thierry Fischer, o novo regente titular da Osesp, vive na Suíça. Ainda temos restrições de viagens internacionais. Como será o trabalho dele enquanto durar a pandemia? O Thierry abriu a temporada e ele deverá voltar em novembro para retomar suas atividades, obviamente, se tudo estiver mais tranquilo. A nossa ideia é intensificar a presença dele na Osesp, ficando conosco por 20 semanas, o que é bastante para um regente titular.

    As transmissões online vão continuar, mesmo após o fim da quarentena? Sim, mas estamos avaliando os custos. Uma transmissão online de uma orquestra não é a mesma coisa que transmitir um show. Não é viável fazermos transmissões todas as semanas, mas há estudos para fazermos uma série de transmissões online ainda este ano.

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    Como estão as contas da Osesp durante a pandemia? Temos um subsídio governamental importante que estava previsto para 55 milhões de reais e caiu para 47 milhões de reais. O restante do nosso orçamento vem da iniciativa privada, doações, patrocínio e venda de ingressos. Tivemos que fazer cortes salariais de 15% durante três meses e teremos um déficit este ano de 7 milhões de reais. Não demitimos ninguém. Mas o ano de 2020 já estava com o dinheiro captado. Avalio que teremos bastante dificuldade para a captação privada de recursos em 2021.

    Serviço:

    Regente Alexandre Liebreich
    Datas: Quinta e sexta-feira (22 e 23/10), às 19h e às 21h15; e sábado (24/10), às 15h10 e 17h30
    Programação:
    Meditação – Para as Vítimas do Tsunami, de Toshio Hosokawa
    Sinfonia nº 5 em Ré maior, Op.107 – Reforma, de Mendelssohn

    Quarteto Osesp
    Data: Domingo (29/10), às 20h30
    Programação:
    Quarteto nº 16 em Fá maior, Op.135, de Ludwig van Beethoven
    Quarteto nº 2 em lá menor, Op.51 nº 2, de Johannes Brahms

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    Endereço: Sala São Paulo, Praça Júlio Prestes, 16.
    Bilheteria: (11) 3777-9721 ou https://osesp.byinti.com/#/ticket.
    Capacidade máxima da sala de concertos, no momento da reabertura: 480 lugares.

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