‘A Caça’ explora descida ao inferno de homem injustiçado
Filme dinamarquês do mesmo diretor de 'Festa de Família' lembra o caso da Escola Base, de São Paulo, em que educadores tiveram a vida arrasada por uma falsa denúncia de abuso sexual de alunos menores de idade

Imagine-se na seguinte situação: você é uma pessoa querida em seu círculo, com um grande senso de ética, um bom cidadão. Da noite para o dia, é acusado do pior dos crimes, que não cometeu, é banido da sociedade e odiado por quem antes o amava. É isso o que acontece com Lucas (Mads Mikkelsen, vencedor do prêmio de ator no Festival de Cannes deste ano), protagonista de A Caça, de Thomas Vinterberg.
Depois de um divórcio brabo, Lucas só quer manter o contato com o filho. Para se reerguer, trabalha como professor de uma escola de educação infantil e tem uma relação paternal com as crianças. Uma de suas preferidas é Klara (Annika Wedderkopp, impressionante). Filha de seu melhor amigo, Theo (Thomas Bo Larsen), ela sofre com as brigas constantes dos pais, e Lucas é seu ponto de apoio. Pois justamente Klara inventa que o professor abusou dela. E, claro, a vida de Lucas vira um inferno. Lembrou-se do caso da Escola Base? Pois é.
Em nenhum momento, o roteiro de Tobias Lindholm e Thomas Vinterberg deixa dúvidas sobre a inocência do protagonista. A questão aqui não é se ele cometeu o crime, mas o que acontece quando você é acusado de uma coisa que não fez, especialmente de algo grave. Lucas é um cara legal até demais, que aceita todas as condições da chata da ex-mulher, por exemplo. Um homem dinamarquês moderno, que exerce sua masculinidade apenas nas cervejadas e caçadas com os amigos. Ele nem contrata um advogado em princípio, pois acha impossível que a história vá adiante. Afinal, ele é inocente. E vive na Dinamarca, onde as coisas em tese funcionam.
Mas o filme fala de como nascem as caças às bruxas: uma desconfiança vira certeza e agressão. “Crianças não mentem”, dizem vários personagens. A verdade é que, sim, as crianças mentem, em geral para satisfazer os adultos. E também facilmente misturam fantasia e realidade. Por isso é preciso ter pessoas realmente qualificadas para investigar suspeitas desse tipo, que são graves e devem ser apuradas.
Como seu conterrâneo Lars Von Trier, o diretor, revelado em 1998 com o excelente Festa de Família, não gosta de temas leves nem tem medo de ir às últimas consequências. A Caça começa com uma mão pesada, mas aos poucos ajusta o tom. Um dos grandes responsáveis é o ator Mads Mikkelsen, sempre uma presença masculina forte, aqui despido de sua virilidade e tocante, especialmente nas cenas em que finalmente desafia a sociedade.
A Caça, de Thomas Vinterberg*
Terça (23), às 22h20, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 3
Quinta (25), às 21h50, no Cine Sabesp
Domingo (28), às 16h, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 5
Terça (30), às 19h, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 3
Quinta (1º), às 18h, no Espaço Itaú de Cinema – Augusta 3
*programação sujeita a alterações
Ingressos individuais
Segundas, terças, quartas e quintas: R$ 15 (inteira) / R$ 7,50 (meia)
Sextas, sábados e domingos: R$ 19 (inteira) / R$ 9,50 (meia)
* Para adquirir ingressos no dia da sessão, somente nas salas de cinema
* A Central da Mostra não vende ingressos avulsos, apenas os pacotes
Venda pela internet
No site Ingresso.com, o ingresso poderá ser adquirido com antecedência (de quatro dias a um dia) da sessão