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Tendência de decoração traz florestas particulares para dentro de casa

Das mais discretas às mais exuberantes, as plantas se consagram como ingrediente decisivo da arquitetura de interiores

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 ago 2023, 08h00

Muito antes de o mundo enfrentar a pandemia, o poeta gaúcho Mario Quintana (1906-1994) já intuía que “em tempos de céus cinzas e chumbos, nós precisamos de árvores desesperadamente verdes”. Pois a crise da Covid-19 fez o mundo sentir na pele essa necessidade: confinadas em casa, as pessoas logo perceberam que ter vegetação por perto, entre quatro paredes, as conectava com a natureza. Era um modo de atravessar meses turbulentos em meio a tanto concreto. Não à toa, nos dois primeiros anos da pandemia, o mercado de plantas cresceu entre 10% e 15% no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor). O vírus perdeu força, mas o verde pediu passagem e se enraizou.

COR DO ANO - Apricot crush: eleita a tonalidade ideal para 2024, combina perfeitamente com o verde
COR DO ANO - Apricot crush: eleita a tonalidade ideal para 2024, combina perfeitamente com o verde (WSGN/Divulgação)

As plantas na decoração são, hoje, uma das principais tendências na arquitetura de interiores. O que antes era um jogo de vasinhos na varanda ou um canteiro no quintal se transformou em florestas internas e particulares com espécies que vão das mais discretas às mais exóticas e exuberantes. Ainda que felizmente estejamos isentos das amarras das quarentenas e vivendo ao ar livre, a ideia de pensar o lar como um refúgio de bem-estar colou de vez. Desse modo, salas e quartos deixam de ser mero abrigo de móveis, mesmo que sejam refinados e exclusivos. O mantra não é só ver, mas conectar-se com o entorno. “As pessoas perceberam que precisam respirar”, afirma o arquiteto Sig Bergamin, que recheou de verde seu espaço na edição 2023 da CASACOR, em São Paulo, ao convidar os visitantes para o que chamou de “imersão biofílica”.

RESPIRO - Espaço de Sig Bergamin: alívio para a mente
RESPIRO – Espaço de Sig Bergamin: alívio para a mente (Fran Parente/CasaCor/.)

Agora, na concepção dos projetos, as antigas extravagâncias com o mobiliário dão lugar a montagens menos opulentas, mas capazes de proporcionar experiências gostosas, sensação de conforto e ligação com o meio ambiente. “A diferença é que hoje as pessoas também querem cuidar de suas plantas”, diz Bergamin. “Não estão mais preocupadas se vão sujar a casa, e sim em cultivá-las.” Para seguir a nova ordem do dia, contudo, é preciso se informar e aprender quais espécies combinam melhor com lugares fechados. A luminosidade, direta ou indireta, e a rega adequada estão entre os fatores preponderantes para o verde prosperar. Tendo em vista essa dinâmica e a praticidade na rotina, entre as mais pedidas atualmente estão espadas-de-são-jorge, jiboias, dracenas e alguns tipos de samambaia, entre outras plantas ornamentais. “Todo mundo pode ter um espaço verde em casa, de um jardim vertical a uma urban jungle”, diz o paisagista Luciano Zanardo, que elegeu as bromélias e alocásias, as preferidas do arquiteto Burle Max, como as grandes estrelas de sua Praça do Polinizador na mostra Corpo & Morada da CASACOR.

ONIPRESENTE - Sala de Carla Felippi: a natureza em cada cantinho
ONIPRESENTE - Sala de Carla Felippi: a natureza em cada cantinho (Favaro Jr/CasaCor/.)

Além de trazer frescor e alegria ao ambiente, ainda que o morador esteja cercado de uma selva de pedra, as plantas são peças determinantes para os momentos de respiro que precisamos ter no dia a dia. Sem contar seu papel fundamental para a manutenção do ecossistema e do clima. Nem o benefício à saúde mental, já apontado por alguns estudos, escapa ao olhar dos designers: afinal, o verde propicia alento e revitaliza o senso de cuidado com a casa e a natureza. Soa óbvio, mas não é, há ciência envolvida.

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PEQUENA MATA - Criação de Luciano Zanardo: experiência com espécies nativas colhidas em campos brasileiros e replantadas
PEQUENA MATA – Criação de Luciano Zanardo: experiência com espécies nativas colhidas em campos brasileiros e replantadas (Jp Image/CasaCor/.)

A natureza é tão onipresente na decoração que até os tons que mais combinam com o arvoredo estão em alta. O destaque são os matizes terrosos, num casamento adequado. Faz parte dessa paleta a cor que foi eleita pelos especialistas para 2024, o apricot crush, uma espécie de laranja mais suave obtido pelo equilíbrio entre o amarelo e o vermelho, que, adivinhe, orna perfeitamente não só com as plantas, mas também com itens feitos de fibras e tecidos naturais, como palha e bambu. Foi essa harmonização que deu o tom dos projetos apresentados pelas arquitetas Isabella Nalon e Carla Felippi em seus respectivos espaços na mostra paulistana, uma mistura de apelo sustentável com convite a desfrutar do lar em um clima de relaxamento e paz de espírito. Nestes tempos em que a natureza foi tão agredida lá fora, resta ao homem fazer o possível para preservá-la e repo­voá-la aqui dentro. Sim, precisamos de árvores desesperadamente verdes, como cantou o poeta.

Publicado em VEJA de 18 de agosto de 2023, edição nº 2855

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