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Streaming e redes sociais alimentam um novo modelo de turismo entre os jovens

Eles estão de olho nos recantos que brilham nas telas — até os resorts, coisa de pais e avós, estão na moda

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 dez 2024, 08h00

ficha turismo

Os resorts all-inclusive, com sua farta comida inclusa na diária paga pela hospedagem, sempre atraíram um tipo específico de turista. Em geral, casais mais velhos ou famílias com filhos pequenos preocupados com o conforto e a praticidade que esses hotéis, normalmente instalados em destinos paradisíacos, costumam oferecer. Para esse público, é difícil dizer não para bares ao lado da enorme piscina, cinco (ou mais) refeições por dia, recreação para as crianças, entretenimento garantido com shows e espetáculos — tudo sem a preocupação de fazer diversas reservas ou ser obrigado a se deslocar de um ponto turístico a outro. Para os jovens, no entanto, esse perfil de hospedagem era coisa aborrecida e cafona, uma opção apenas para pais e avós.

Há, agora, uma pequena revolução. Uma pesquisa realizada pela empresa de viagens Expedia Group com base em entrevistas com 25 000 turistas de 19 países aponta que quase metade (42%) dos viajantes da chamada geração Z, de até 20 e poucos anos, vê os resorts all-inclusive como o tipo de hotel favorito pela praticidade, facilidade de reserva e pela sensação de luxo que os destinos oferecem.

Montana, nos Estados Unidos
Montana, nos Estados Unidos (Audrey Hall/Divulgação)

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A pergunta que não quer calar: de onde veio a mudança de comportamento, o novo olhar para o hedonismo? Das séries de streaming, nem todas juvenis, insista-se, que se esbaldam diante de cenários idílicos e hotéis de cair o queixo, como o Four Seasons Resort Maui, de The White Lotus. Nem todos os recantos, é verdade, brotam das telas de TV, embora dominem os reels. A Playa del Carmen, no México, é um dos mais procurados, dado o cenário paradisíaco e folgadão, ao molde da mocidade. É tendência firme. “O mercado entendeu que personalizar a experiência, oferecendo modelos para jovens, e não apenas para casais ou famílias, funciona para atrair o público”, diz Hari Nair, gerente-geral da plataforma Hotels.com.

Direto ao ponto: 66% dos entrevistados pela Expedia disseram ter planejado seus roteiros inspirados pelo que viram com o controle remoto em mãos ou a um clique. O sucesso de Yellowstone, série da plataforma Paramount+ que retrata, como um faroeste moderno, a vida em um rancho americano, fez com que a busca por visitas aos estados americanos de Montana e Wyoming disparasse. O fenômeno One Piece, adaptação do mangá de mesmo nome na Netflix que retrata um grupo de piratas com poderes únicos, inspirou os jovens viajantes a voar até a Cidade do Cabo, na África do Sul, onde foram gravadas as cenas nos navios.

Dubai, nos Emirados Árabes Unidos
Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (Martin Berry/Getty Images)
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Se a televisão virou ímã, por que não as redes sociais? Claro que sim. A partir de um vídeo viral do TikTok, com a propaganda de um chocolate recheado de pistache, a turminha saiu em disparada para conhecer Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Segundo a pesquisa da Expedia, 44% dos turistas compram produtos que não encontrariam em outros locais, como itens de beleza na Coreia do Sul ou alimentos franceses.

Fica evidente também, a partir do levantamento, que o novo perfil de turista pode até curtir os pontos mais badalados de cada destino, mas não vai se esgotar pulando de um museu para outro ou visitando vários restaurantes no mesmo dia. Sai o fenômeno conhecido como FOMO (“medo de perder algo”, da sigla em inglês), associado à ansiedade em querer fazer tudo, e entra o JOMO, ou “alegria de perder algo” (da expressão “joy of missing out”). Para os jovens, o fundamental é diminuir o estresse e curtir a “vibe” de cada lugar, mesmo que para isso seja necessário sacrificar algum passeio na cidade, seja ela extremamente famosa, como Paris, seja ela menos conhecida, como Reims, também na França. “Há muito mais no mundo do que Rio, Nova York e Tóquio”, diz Nair, do Hotels.com. “E, com isso, destinos menos conhecidos estão recebendo o devido reconhecimento.” Nada como uma mão do entretenimento eletrônico, em telas grandes ou pequenas, para fazer a roda girar como nunca. Os tempos mudaram.

Publicado em VEJA de 6 de dezembro de 2024, edição nº 2922

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