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Redes sociais estão prejudicando a criatividade advinda do tédio

Estudo feito na Irlanda aponta que o fluxo constante de conteúdo oferecido nas plataformas impede que o tédio dê espaço a experiências positivas e criativas

Por Marilia Monitchele
29 dez 2022, 10h45

O tédio pode incentivar a criatividade. Mas em um cenário de entretenimento constante promovido pelas redes sociais, não há mais espaço para se entediar a ponto de querer criar algo interessante. Um estudo publicado no periódico Marketing Theory e conduzido por pesquisadores da Universidade de Barth e do Trinity College, em Dublin, buscou identificar as experiências de tédio em um grupo de pessoas submetidas ao isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19. De acordo com os dados obtidos, a distração constante proporcionada pelas redes sociais pode estar impedindo que alcancemos um sentimento de tédio mais profundo e nos impossibilitando de extrair experiências positivas desse estado de humor.

O estudo avaliou o modo como os participantes passaram o tempo durante a pandemia e os sentimentos que vivenciaram, notando a constância do tédio, que era frequentemente combatido rolando feeds de redes sociais. Os pesquisadores observaram, no entanto, que as pessoas que experimentaram uma sensação de tédio mais profunda se viram obrigadas a enfrentar sentimentos de inquietação e vazio, resultando em um impulso renovado para lidar com essas sensações, o que possibilitou a descoberta de novos interesses e comportamentos.

No comunicado de divulgação do estudo, Tim Hill, um dos autores, diz que “o problema [observado] foi que a mídia social pode aliviar o tédio superficial, mas a distração consome tempo e energia e pode impedir que as pessoas progridam para um estado de tédio profundo, onde podem descobrir novas paixões”.

Essa divisão dos estados de ânimo foi criada pelo filósofo alemão Martin Heidegger há quase 100 anos, que classificou o tédio em dois níveis: o superficial e o profundo. O tédio superficial seria aquele que experimentamos em nossa vida cotidiana, enquanto esperamos um ônibus ou aguardamos em uma fila. Nessas situações, geralmente buscamos distrações temporárias e as redes sociais desempenham um papel significativo, nos tirando da monotonia e impedindo que o tédio avance para zonas mais profundas.

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Já o tédio profundo está relacionado ao tempo que passamos em relativa solidão. Embora possa soar como um conceito negativo, o tédio profundo pode ser extremamente benéfico e abrir caminho para pensamentos e atividades mais criativas. A pandemia, por exemplo, embora seja um evento traumático, ao nos conduzir para uma rotina mais reclusa também permitiu que muitas pessoas usassem seu tempo ocioso para encontrar novos hobbies, redirecionar carreiras e adotar diferentes estilos de vida.

A relação entre o tédio e a criatividade é constantemente sugerida. O estado de tédio, embora inicialmente aflitivo, pode nos conduzir à divagação associada a uma mente livre, nos levando a buscar alternativas para o preenchimento do vazio e possibilitando novos pensamentos. Não à toa, acredita-se que o chuveiro é constantemente o berço de boas ideias, sendo este, tradicionalmente, um espaço de relaxamento e descanso mental.

Para Hill, a pesquisa ajuda a entender como a cultura “sempre online” desencadeada pelas redes sociais e dispositivos tecnológicos aparentemente oferecem uma abundância de informações e entretenimento capazes de remediar nosso tédio superficial, mas na verdade estão nos impedindo de encontrar coisas mais significativas. Ele acredita que um “detox digital” pode ser um caminho promissor para o surgimento de novos comportamentos.

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