Produzido em meio à guerra na Ucrânia, game ‘Stalker 2’ é um épico pós-apocalíptico
Anunciado pela primeira vez em 2009, o jogo finalmente chega para PC e Xbox com problemas técnicos e bugs, mas uma atmosfera envolvente e combate impiedoso
O fato de que o game S.T.A.L.K.E.R. 2: Heart of Chornobyl existe e já pode ser jogado no PC e no Xbox é impressionante. O título faz parte da franquia cult Stalker, uma série de jogos de tiro em primeira pessoa ambientados em uma versão alternativa da Zona de exclusão de Chernobil – ou Chornobyl, usando a grafia ucraniana. Um segundo desastre nuclear aconteceu na região em 2006, fazendo que estranhas anomalias e mutantes surgissem. A trama é baseada no livro Piquenique na Estrada, de Boris e Arkádi Strugátski. O personagem controla um Stalker, os aventureiros que furam o bloqueio para explorar esses fenômenos estranhos. O último título da série saiu em 2009, Call of Pripyat, e S.T.A.L.K.E.R. 2 veio para quebrar esse jejum de 15 anos.
A história da produção é bastante complicada. O jogo foi anunciado originalmente em 2009, logo após Call of Pripyat. Previsto para sair em 2012, foi cancelado no ano do lançamento. O desenvolvimento foi retomado apenas em 2018 e a promessa era colocá-lo no mercado em dezembro de 2022. Mas a invasão da Ucrânia atrapalhou os planos. Parte da equipe de criação do jogo se mudou para Praga, enquanto outros permaneceram no país atacado. Com tantos atrasos, o game finalmente chegou ao serviço de assinatura Game Pass no dia 20 de novembro.
Em S.T.A.L.K.E.R. 2, o jogador assume o papel de Skif, um dos aventureiros que entra na Zona de Exclusão, é traído logo na primeira missão e se vê sozinho, praticamente desarmado, lutando para sobreviver e tentar se vingar dos responsáveis pela traição. A premissa não é exatamente nova, mas a história se desenrola de maneira satisfatória. Há uma série de escolhas ao longo da jornada, e embora elas acabem levando para os mesmos lugares, os caminhos são distintos, o que gera uma sensação de que cada decisão tem impacto real.
O grande apelo, é claro, é a ambientação. O gigantesco mapa de Chornobyl é sombrio, repleto de perigos, armadilhas e grupos de humanos e mutantes que querem atacar a qualquer custo. O cenário é rico e envolvente, com tons sépia em alguns momentos, mas pode ganhar cores saturadas durante tempestades radioativas. Embora seja mais focado na ação, ele oferece um clima de terror psicológico que pode fazer mesmo o mais corajoso jogador saltar da cadeira em um momento ou outro.
A mecânica pode parecer um pouco “old school“, já que não dá nenhuma das facilidades encontradas em outros shooters modernos. Não há um sistema eficaz de viagem rápida (fast travel), e horas são gastas a pé, percorrendo o perigoso mundo. O combate é impiedoso: poucos acertos são capazes de matar o personagem, e há radiação, sangramentos e outros riscos envolvidos. É preciso ficar atento ao inventário, escolhendo os itens certos para cada missão. O sistema do jogo não ajuda, não dá muitas pistas. É preciso descobrir tudo sozinho.
Para quem gosta de títulos mais desafiadores é um prato cheio. Mas há uma inegável frustração em percorrer caminhos e ser constantemente atacado. É difícil parar para respirar. A luta pela sobrevivência é constante. É fundamental salvar o jogo muitas vezes.
Apesar de todas as suas qualidades – e são várias, especialmente considerando a atmosfera e a capacidade da equipe de desenvolvedores do GSC Game World de manter o espírito original da série – é preciso dizer que o jogo foi lançado com muitos bugs e problemas técnicos. Ele pode falhar e fechar sozinho, especialmente no PC, os NPCs podem se comportar de forma bizarra, e é possível ficar preso em algum trecho aleatório.
Não à toa, muitas das críticas foram impiedosas. Mesmo relevando o fato de que seu desenvolvimento foi conturbado e prejudicado pela guerra, alguns sites especializados deram notas medianas ou baixas. No Metacritic, agregador de reviews, a média do game é 73 (de 100), baseado nas notas dos críticos. A média sobe para 79 entre as resenhas dos usuários.
Essa avalanche de notas medianas provocou revolta em outros desenvolvedores. Raphael Colantonio, fundador do estúdio Arkane, de Dishonored e Deathloop, escreveu no X uma defesa de S.T.A.L.K.E.R. 2. “O ecossistema do Metacritic incentiva os desenvolvedores a fazer jogos seguros e chatos. Desde que um jogo seja bem acabado no lançamento, você tem a garantia de 80%, não importa o quão chato o jogo possa ser. Enquanto isso, Stalker 2 recebe 73 porque é um pouco menos refinado no lançamento. Injusto, enganoso”, escreveu ele.
Os desenvolvedores de S.T.A.L.K.E.R. 2 já prometeram um novo patch para os próximos dias que deve resolver vários dos bugs mais sérios. Mesmo assim, o game tem um charme próprio, uma atmosfera e uma ambientação envolvente e um combate suficientemente desafiador para garantir algumas (várias) horas de diversão.