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Por que jovens estão fazendo tanta cirurgia plástica?

Estudo aponta que a procura por procedimentos de nariz e queixo aumentou por conta das distorções de características faciais causadas pelas selfies

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 jul 2022, 17h36 - Publicado em 4 Maio 2022, 13h52

Com distorções irreais de características faciais, as “selfies” causam um efeito que pode gerar um aumento nos pedidos de cirurgia plástica desnecessárias. É o que mostra um estudo recente publicado na Plastic & Reconstructive Surgery.

“Os jovens são mais afetados por este fenômeno”, afirma o cirurgião plástico Mário Farinazzo, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Chefe do Setor de Rinologia da UNIFESP e cirurgião instrutor do Dallas Rinoplasthy. “O fato de se ter uma câmera nas mãos a todo o momento é um convite para o autorretrato de todos os ângulos e em todas as situações. Isso gera frustração, pois sempre existe um ângulo que desagrada, principalmente se compara com fotos de outras pessoas nas redes sociais ignorando o fato de que muitas delas são produzidas e manipuladas digitalmente”, completa.

O estudo aponta, inclusive, que pacientes utilizam cada vez mais as fotografias tiradas câmeras de smartphone para discutir com um cirurgião plástico. Há uma relação documentada entre o aumento de selfies e os pedidos de rinoplastia – ou cirurgia para alterar a aparência do nariz – principalmente entre os mais jovens. Assim como a mentoplastia, já que esses retratos costumam alterar a aparência do nariz e do queixo.

Mas como as câmeras podem distorcer as imagens, especialmente quando são tiradas de perto, as selfies podem não refletir a verdadeira aparência de um indivíduo, segundo a pesquisa. Outro ponto apontado pelo trabalho que influencia o crescimento de procedimentos estéticos é a excessiva quantidade de horas observando imagens milimetricamente editadas para atingir a “perfeição”. “A adolescência é uma fase na qual a autoestima ainda depende muito de uma boa aparência, logo, aparecer bem nas selfies torna-se quase que uma obrigação”, pontua Farinazzo.  Isso leva o jovem a procurar formas de se sentir melhor e a cirurgia é uma delas”, acrescenta. Sem contar que os adolescentes estão cada vez mais informados e seguros daquilo que os incomodam e o que pode ser mudado. “Isso é influência de um mundo conectado e com grande disponibilidade de informação. As selfies apenas realçam o objeto do incômodo”, diz o médico.

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O estudo

Para investigar como as selfies podem alterar a aparência, os pesquisadores trabalharam com 30 voluntários: 23 mulheres e sete homens, tirando três fotografias de cada pessoa, duas, de 12 e 18 polegadas de distância, com um celular para simular selfies tiradas com um braço dobrado ou reto, e uma terceira de 5 pés com uma câmera digital single-lens reflex, normalmente usada em clínicas de cirurgia plástica. As três imagens foram tiradas na mesma sessão sob condições de iluminação padrão.

As selfies mostraram distorções significativas. Em média, o nariz apareceu 6,4% mais longo em selfies de 12 polegadas e 4,3% mais longo em selfies de 18 polegadas em comparação com a fotografia clínica padrão. Houve também uma diminuição de 12% no comprimento do queixo em selfies de 12 polegadas, levando a um aumento substancial de 17% na proporção do comprimento do nariz ao queixo. Selfies também fizeram a base do nariz parecer mais larga em relação à largura do rosto. A consciência dos participantes sobre essas diferenças foi refletida pela forma como eles avaliaram as fotos quando comparadas lado a lado.

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O estudo alerta justamente para essa questão dos adolescentes e jovens, que estão em um processo de neurodesenvolvimento relacionado a fazer comparações de si mesmo com outros, criando problemas de humor e aumento da insatisfação corporal. “Muitas mudanças em nossa sociedade, incluindo selfies, mídias sociais e isolamento do Covid-19, levaram a taxas crescentes de problemas de saúde mental nessa faixa etária, incluindo depressão, ansiedade, vício e distúrbios alimentares”, alerta Farinazzo.

De acordo com o médico, um alerta importante tem relação com as câmeras dos celulares, que causam um efeito chamado Fish Eye, que distorce a imagem deixando o nariz, por exemplo muito maior do que é na realidade. A iluminação e o ângulo também são dois pontos importantes para uma boa foto e que podem influenciar na autopercepção. “Tudo é uma questão do contraste entre a luz e a sombra e o ângulo escolhido”, afirma o cirurgião. “Tanto é que nas fotos que tiramos antes e depois das cirurgias, tudo tem de estar padronizado para poder ser comparado”.

Isso quer dizer que a distância entre a câmera e o paciente, a intensidade e direção da luz e o tipo de lente devem ser sempre os mesmos. “Quando um paciente percebe, por conta de sua foto, um nariz maior do que realmente é, cabe ao médico, em uma conduta ética e correta, tentar fazê-lo entender que aquilo não corresponde à realidade”. Para o caso em que há uma indicação cirúrgica de fato, o cirurgião plástico argumenta que não existe problema em fazer cirurgia em adolescentes. “A indicação está mais ligada ao problema do que à idade do paciente. Mas é importante uma boa conversa com o médico antes de qualquer procedimento. As pessoas estão cada vez mais críticas, e isso gera uma expectativa maior em relação aos resultados de uma cirurgia. Procure um cirurgião plástico membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e busque também recomendações”, finaliza Farinazzo.

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