Os novos tratamentos para a beleza trans
Crescem as opções de procedimentos estéticos que permitem a indivíduos transgêneros apresentarem feições faciais dos gêneros com os quais se identificam
No século 19, o escritor e poeta norte-americano Thomaz Bailey Aldrich disse que o belo não morre, transforma-se em outra beleza. Pois é exatamente isso o que está fazendo uma parcela de profissionais de saúde que começam a se dedicar à aplicação de tratamentos estéticos que permitam a indivíduos transgêneros apresentarem a aparência com a qual se identificam. No Brasil, a dermatologista Bianca Viscomi, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, é uma das pioneiras na área. Ela coordena um trabalho com o objetivo de enriquecer a literatura científica a respeito do assunto, ainda incipiente. “Por meio de procedimentos, promovemos modificações tanto para feminilizar quanto para masculinizar o rosto dessa população”, explica. “Mas adaptamos técnicas usadas na masculinização e feminilização faciais realizadas em pacientes cisgênero. Precisamos criar métodos mais específicos para atender os transgêneros”, diz. A pesquisa, realizada com mulheres trans, tem o apoio da Merz Aesthetics Global, uma das maiores empresas de medicina estética do mundo.
O trabalho tem com base o estudo da anatomia da face nos diferentes gêneros e, a partir daí, programar as mudanças para que ela ganhe o desenho do gênero com o qual a pessoa se identifica. E todas as intervenções são feitas de forma sutil e delicada. “No caso das mulheres trans, não quero transformar a todo custo um rosto que é fenotipicamente masculino em cis feminino, mas encontrar o lado mais bonito da estética dessas mulheres”, explica Bianca.
Os tratamentos de escolha são os minimamente invasivos. Aplicações de ácido hialurônico, toxina botulínica, bioestimuladores de colágeno e fios de sustentação são os principais. “O hialurônico ajuda a fazer algumas alterações anatômicas e a tratar o envelhecimento da face. Já a toxina botulínica, dependendo da maneira como é aplicada, imprime sensação de feminilização”, explica a dermatologista. O bioestimulador é usado para dar suporte a postos-chave da face. Para a questão dos pelos, é possível indicar laser, no caso de mulheres trans, ou medicamentos que aumentam o crescimento dos fios, quando se trata de homens trans.
Procedimentos para a estética trans feitos com seriedade e produtos seguros são muito bem-vindo. Não faz muito tempo, quase sempre por preconceito – da classe médica, inclusive – essas pessoas eram obrigadas a recorrer a saídas com resultados ruins e perigosas para a saúde. São conhecidos os casos de implantes definitivos de silicone industrial, por exemplo, substância que, além de deformar o rosto, pode causar reações indesejadas. “Todas as pessoas devem ser tratadas com dignidade, respeito e bons produtos”, afirma o cirurgião plástico Luiz Gustavo Leite de Oliveira, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e Clinical Specialist na área de Medical Aesthetics da Allergan, fabricante do Botox.