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Indígenas devem ser protagonistas de suas próprias histórias, diz cineasta

Takumã Kuikuro fala da importância do cinema para as comunidades indígenas, sua terra e o meio ambiente

Por Marília Monitchele
Atualizado em 31 mar 2023, 18h02 - Publicado em 28 mar 2023, 10h36

De repente se ouve um estalar, mas não é o som dos galhos sendo quebrados pelos bichos da floresta, o calor se intensifica, os animais correm, as árvores ardem presas à terra. Nenhum deles pode comunicar sua dor e desespero. Por isso, o cineasta indígena Takumã Kuikuro tenta lhes dar alguma voz. Ele pertence ao povo Kuikuro, e vive na Terra Indígena do Xingu, em Mato Grosso, uma das maiores reservas do país, que abriga aproximadamente em 27.000 quilômetros quadrados sete mil indígenas de dezesseis etnias .

Takumã fez do cinema sua arte e através dele busca contar parte da história e das tradições de povos indígenas brasileiros. Reconhecido no Brasil e internacionalmente, foi o primeiro jurado indígena do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2019, e teve filmes premiados em Gramado e no Présence Autochtone, da associação Terres em Vues, em Montréal, no Canadá.

Em 2020, durante a pandemia de Covid-19, dirigiu, com o apoio do Instituto Moreira Sales, o curta Hiper Doença, para contar como os povos indígenas foram afetados pelo vírus. Agora, ele lança o curta A Febre da Mata que faz parte da antologia Interactions – When Cinema Looks to Nature com outros onze diretores – entre eles Isabella Rossellini, Anne de Carbuccia, Idrissa Ouédraogo e Faouzi Bensaidi. Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus, é apoiador do projeto.

O filme estreou no fim do ano passado, no Rome International Film Fest, na Itália. Em seguida, participou de festivais nacionais e internacionais, incluindo o 1º Festival de Cinema e Cultura Indigena, no Cine Brasília, e a Convenção sobre Diversidade Biológica, das Nações Unidas, no Canadá. Esta semana, o filme estará disponível sob demanda no site do SescTV. Já a estreia no SescTV será em 22 de abril, às 22h.

Nathalia Scarton e Takumã Kuikuro ao lado de Fernando Meirelles, sócio da O2 Filmes e apoiador do projeto "A Febre da Mata"
Nathalia Scarton e Takumã Kuikuro ao lado de Fernando Meirelles – (Coletivo Kuikuro de Cinema/Divulgação)

A seguir, Takumã fala mais sobre a experiência de produzir seu trabalho mais recente, a importância do audiovisual para as populações indígenas e projetos futuros.

Como surgiu a ideia de produzir um filme sob a perspectiva da sua comunidade sobre o desmatamento e os incêndios na Amazônia?

Nathalia Scarton, produtora executiva e criativa do Interactions, me chamou para fazer parte dessa antologia com outros onze diretores de várias nacionalidades que aborda a relação dos seres humanos com os animais. Eu queria que nosso filme mostrasse a beleza do Xingu, o dia-a-dia na aldeia indígena e a nossa relação com os animais. Mas também queria incorporar uma denúncia, mostrando a destruição causada pelo desmatamento das nossas florestas.

Qual a importância desse projeto para você?

Mostrar a realidade atual dos povos indígenas. Esse projeto dá oportunidade e visibilidade para o cinema indígena, reconhece o nosso trabalho por meio do audiovisual. Também mostramos como o meio ambiente está sendo tratado, queimado, e como os povos e animais estão sofrendo. O curta fala sobre como o ambiente, o povo indígena e os animais estão doentes. Eles estão com febre.

Como entrou no cinema, e qual a importância das narrativas audiovisuais para você e para as comunidades indígenas?

Eu trabalho com o cinema indígena para documentar a nossa cultura, os cantos e rituais, que são importantes dentro das aldeias. Nós nos preocupamos muito com a nossa cultura, por isso comecei a fazer cinema dentro da comunidade. A narrativa de audiovisual é importante para contarmos nossa própria história e sermos protagonistas. O audiovisual é uma ferramenta de luta dentro da comunidade indígena: por meio dele, denunciamos e mostramos o que realmente acontece dentro da nossa comunidade. É uma ferramenta de resgate de cultura e de luta.

Qual a função dos filmes na sua vida? E qual seu projeto favorito até agora?

Minha função como diretor, roteirista, produtor e editor é registrar o que temos e a identidade do povo. Meus projetos favoritos são todos feitos pelos indígenas, porque eles demarcam a tela do cinema nacional e internacional. Nós queremos mostrar nossos filmes e ter espaço dentro e fora das nossas comunidades.

Sobre quais assuntos você planeja falar em seus projetos futuros?

Precisamos incentivar as comunidades para mostrar a nossa cultura através do cinema, que é um documento do povo, a identidade de cada uma das pessoas. Nos meus projetos futuros quero mostrar isso para pessoas que não conhecem a nossa realidade. Os cineastas e comunicadores indígenas são mensageiros do futuro: eles estão documentando para as próximas gerações. Por isso, é importante que os indígenas se tornem protagonistas de suas próprias histórias.

Como é ser um cineasta indígena produzindo narrativas sobre seu povo e qual a importância de ter mais pessoas como você nas comunidades indígenas?

É muito importante ter indígenas contando suas histórias porque eles sabem a narrativa, entendem a língua, sabem a importância de estar dentro da indígena. Eles sabem realmente o que está acontecendo e a importância de suas culturas. Assim não perdemos a nossa cultura.

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