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Feito só para você: em alta, o mercado de roupas ultrapersonalizadas

A eterna busca humana por novidade, aliada à preocupação em não castigar o planeta, abre espaço para a tendência

Por Valéria França
Atualizado em 11 jul 2023, 09h46 - Publicado em 8 jul 2023, 08h00

Espremida entre a permanente necessidade de despejar lançamentos em araras físicas e virtuais e se reger pela boa cartilha da sustentabilidade, a indústria da moda abraça com cada vez mais vigor um modelo que, além de tudo, lhe dá estofo financeiro. É o esquema do on demand, em que se produz ao sabor da demanda, sem brecha para desperdício (que, só no Brasil, chega a 17 000 toneladas de tecido por ano). Agora, essa engrenagem saltou um degrau, adentrando o ascendente terreno da ultrapersonalização, onde as peças não apenas têm destino conhecido, como são concebidas sob medida para se encaixar aos anseios de quem as compra. No rol dos gigantes que já marcham firme sobre esse nicho tão promissor estão marcas globais como Nike e H&M Group, que passaram a oferecer um leque de escolhas para looks personalizados, o que vai muito além do tradicional nome gravado na camiseta do time de futebol. O clique do cliente dá a partida a toda uma cadeia produtiva em que o resultado final será algo com jeito exclusivo — uma ideia que a humanidade persegue com rara intensidade.

A nova lógica, que é quase um retorno ao modo artesanal, mas em elevada escala, abre também portas para uma ala de pequenos empreendedores, que mantêm seus negócios na base do dropshipping. O vocábulo, usado no Brasil em inglês mesmo, se refere a um modelo segundo o qual estilistas estreantes ou os que ainda brigam para se fincar entram apenas com a concepção do item — a cobrança e a logística, assim como a escolha do fornecedor, ficam a cargo de plataformas especializadas. Sem capital nem experiência no universo corporativo, o designer gráfico goiano Edval Domingues, 47 anos, queria há tempos pôr de pé uma grife que traduzisse seu apreço pela arte e pelo meio ambiente. Procura daqui e dali, e eis que esbarrou com a Montink, rede nacional voltada para o dropshipping. “Criei a marca A Loja do Ed, desenhei as estampas e montei a loja no site”, conta Domingues. “A roupa só é fabricada depois de o cliente escolher o modelo, a cor e o tamanho.”

Ele e tantos outros que enveredam por essa empreendedora trilha não precisam se envolver nas demais etapas que se desenrolam a partir daí. Inaugurada há oito anos, a Montink foi se expandindo e, hoje, conta com 200 000 lojas digitais. “O processo é tão ágil que permite a criação de uma camiseta em minutos”, garante o fundador Ramiro Neto, que planeja estender a operação para os Estados Unidos ainda em 2023. A companhia fatura com a mensalidade paga pelos lojistas e com um percentual sobre cada venda. É princípio semelhante ao que a Amazon, em dimensão planetária, começou a explorar com o serviço Merch on Demand, que conecta empresários e consumidores envolvidos nesse mercado de itens que ninguém mais tem.

arte moda

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Por natureza, a espécie humana sempre se pôs à caça do que é único e original. No mundo da moda, até outro dia, isso se restringia às prateleiras do alto luxo e do artesanal. Não mais. Nestes engajados tempos, as pessoas se vestem para divulgar causas e empunhar bandeiras — daí o interesse por frases cheias de propósito que, não raro, viralizam nas redes. O mercado brasileiro despertou para a onda da personalização — e vem encontrando na trilha on demand também um jeito de escapar das armadilhas do fast fashion, que prevê novidades em série no lugar das costumeiras coleções anuais. “Se apresento uma nova linha no atacado, preciso fabricar no mínimo 200 unidades e ainda tenho de acertar a grade de tamanhos e cores”, explica Pedro Cardoso, diretor de marketing e novos negócios da Reserva.

Como muitas peças acabam por se acumular no depósito, ele resolveu aderir à rota do on demand. Nas lojas, o cliente pode exercitar sua face, digamos, mais autoral e encomendar frases próprias para imprimir nas camisetas. Em 2020, a empresa montou a Reserva Ink, plataforma parecida com a Montink, que agrega criadores independentes empenhados em ter sua loja digital. A vertente, claro, não elimina totalmente o estoque, já que é preciso dispor de peças prontas para dar vazão às encomendas em tempo. A customização das araras não tem por objetivo — nem conseguiria — substituir a era do atacado, que embala as altas cifras do setor. Mas ela cai no gosto de uma turma que vai ganhando envergadura e peso nos negócios, sempre ciosa dos rumos do planeta nestes acalorados tempos de aquecimento global e às voltas com a procura por algo que lhe confira o prazer de ser original. Para o empreendedor, isso significa diminuição do prejuízo e aumento de vendas.

Publicado em VEJA de 12 de julho de 2023, edição nº 2849

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