Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

Walcyr Carrasco

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Continua após publicidade

O que permanece

A virada do ano nos faz lembrar da importância dos amigos

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h39 - Publicado em 7 jan 2024, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Muitas vezes sou pessimista. Olho para o futuro (não só o meu) e vejo, escancarada, a solidão. Lembro de minha mãe cercada de crianças — primeiro nós, os filhos, mais tarde os netos (e ela alcançou alguns bisnetos). Que restou desse juventude alegre, risonha e brincalhona? Uma irmã se mudou para longe, outro irmão casou-­se com uma magricela que não gostava dela. Os filhos cresceram, a história se repetiu: a cunhada não se dava bem com a família, um dos filhos se tornou uma criatura amarga que nunca ia visitá-la, e assim por diante… Não conto essas pe­quenas histórias para assus­tar. Mas é assim. O tempo passa, as pessoas se afastam, algumas se aproximam. Sem fazer contas, tenho para mim que o número das que se vão é maior que o das que ficam ou, mais ainda, das que chegam. As relações secam como ramos de parreira em dias sem sol.

    E a solidão, que era uma possibilidade, torna-se a regra. Por isso, amigos são preciosos. Alguns ficam chatos com a idade, outros contam as mesmas histórias. Acabo de encontrar uma amiga que não teve com quem passar o Ano-Novo. Outra, pior: ficou sozinha no Natal. Creio que não há nada pior que ouvir, sozinho na sala, os ecos dos desejos da casa alheia, o bater dos copos. Enfim, os pequenos ritos no rastro da felicidade. A alegria alheia dói porque expõe nossa solidão. Mas é assim: quando jovem a gente escolhe festas e brinda os presentes; com a idade, comemora um panetone que alguém lembrou de levar mas não, não pode ficar, ficou de passar na casa de alguém que ninguém conhece. Eu me orgulho de contar que tenho amigos desde a infância, também pessoas que me acompanham desde a juventude e comemoro afetos de muitos anos. É um troféu.

    “Todo final de ano faço um balanço. Se o resultado é positivo, ergo um brinde especial aos amigos”

    Claro que nesse anos de amizade houve brigas. Uma amiga que sempre foi importante para mim tinha sumido após uma briga horrível. Cortamos uma relação profunda por bobagem, pensando bem, quase nada. Foram três anos em que mal nos falamos. Eu passava em frente a restaurantes onde jantávamos juntos e sentia o coração cortado. Ela me escrevia e eu, teimoso, não respondia. Tenho muito a agradecer ao celular. Ficar como um burro empacado, ela brava… Pra quê? Tomamos juntos as iniciativas neste final de ano. Ela deixou claro quanto queria me ver, eu esqueci uma antiga mágoa que nem faz sentido hoje em dia. Limpamos tudo e a nossa amizade ganhou o brilho de um espelho.

    Romper relações, brigar pra quê? Amizade é uma construção, um templo erigido através dos anos, que não vale derrubar com um sopro. Agora sei. Amizade, eu descobri, depois de tantas perdas e rompimentos, não tem valor que pague. Ter alguém para se apegar — não importa a idade — é o mais importante. Alguém que venha me visitar em caso de doença, dar um abraço na hora da tristeza.

    Continua após a publicidade

    Todo final de ano faço um balanço. Quem se foi, quem ficou, quem eu trouxe de volta para minha vida? Se o resultado é positivo, ergo um brinde especial aos amigos. É o amor que permanece até o fim.

    Publicado em VEJA de 5 de janeiro de 2024, edição nº 2874

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.