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A grana do bandido

O que uma tática para lidar com a violência diz sobre o país

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 out 2024, 08h00
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  • Economia - Cédulas - Dinheiro - Real
    É importante não deixar o ladrão nervoso porque, aí sim, tudo pode piorar (iStock/Getty Images)

    Comprar um segundo celular já se tornou um hábito para muitos amigos meus. Um é para sair na rua e, no caso de assalto, não denunciar senhas, contas bancárias ou qualquer atividade econômica. O segundo fica em casa, seguro (a não ser que assaltem a própria moradia, o que também não é impossível). O celular “oficial” (e secreto para os criminosos) tem aplicativos de bancos, transações e, eventualmente, vídeos indiscretos que provocariam um estrago se caíssem na internet.

    É um exemplo de até onde chegou o medo nos dias de hoje. Deu mole, dançou. Há truques como esconder um celular nas partes íntimas ao sair na rua e deixar outro na bolsa ou bolso, para ser entregue em caso de assalto. De todas as maneiras, como assaltante não é burro, o aparelho usado em público tem até um aplicativo bancário com um saldo pequeno. Para que, se houver roubo, o bandido se dê por satisfeito.

    “Todos têm um amigo que perdeu celular, dinheiro. Essa aparência de normalidade é que me assusta”

    Outras estratégias não são tão boas assim, como botar limite de retirada. Há casos em que os meliantes conservam as vítimas em cativeiro, até virar o dia e retirarem de novo. Simplificando: muita gente hoje sai com o dinheiro do bandido, para não correr riscos maiores. Seja em aplicativo bancário, seja no bolso (mais raro). Os assaltantes evoluem em suas técnicas, cada vez mais. Um amigo, no Rio, estava caminhando no calçadão da praia. Dois garotos brigavam, o maior deu pancadas fortes (aparentemente) e deixou o menor estendido no chão. Aos gritos, pediu socorro, médicos e ambulância. Meu amigo sacou o celular e foi ligar para emergência. Um terceiro comparsa veio correndo por trás e levou o aparelho destravado enquanto o outro, estendido no chão, pulava agilmente e fugia pela praia. Era truque! Quando meu amigo chegou ao escritório, perto dali, para travar as contas, era tarde demais. Haviam limpado seu saldo. Com o celular desbloqueado nas mãos, fizeram a festa. A senha? Descobriram como? Até hoje não entendo. As senhas que parecem mais difíceis são destrinchadas por um assaltante em segundos.

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    Justamente por isso, tanta gente anda saindo com a grana do bandido. Explico. É importante não deixar o ladrão nervoso porque, aí sim, tudo pode piorar. Ele tem que lucrar com a operação. Outro dia minha funcionária foi assaltada. Foi obrigada a digitar a senha e levaram o dinheiro do salário. Mas depois foi solta. Em casos nos quais não aparece o dinheiro, há vinganças.

    Tudo isso até parece normal. O dinheiro do bandido entrou para o orçamento doméstico, e as pessoas ainda dizem: “Graças a Deus não aconteceu nada, só o assalto”. Eu me espanto: como uma violência dessa pode parecer normal? Todo mundo tem um amigo que perdeu o celular, o saldo bancário, o dinheiro do bolso. Essa aparência de normalidade no que é de fato uma violência me assusta mais que tudo. A existência do dinheiro do bandido é um termômetro de como estamos frágeis, medrosos e sem proteção. Enfim, sem segurança.

    Publicado em VEJA de 11 de outubro de 2024, edição nº 2914

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