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A falência da privacidade

A dura missão de fugir das mensagens no WhatsApp e afins

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h01 - Publicado em 8 Maio 2022, 08h00
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    Tela de celular com logo do Whatsapp | (Nikolas Kokovlis/NurPhoto/Getty Images)

    Há alguns direitos que estão indo à falência. Por exemplo, o de ficar sozinho. Recebo uma mensagem pelo Whats. Respondo. De repente, sou envolvido em uma longa conversa digital. Tento sair, impossível. A pessoa responde e responde. Bem, tenho uma técnica minha que não é das melhores, mas funciona. Simplesmente paro de falar, fico mudo. Depois de umas trezentas mensagens, a pessoa se cansará. É horrível, eu sei, eu sei. Mas quem está do outro lado nem sempre entende considerações simples, como “estou com um amigo” ou, menos compreensível ainda, “estou lendo um livro”. Afinal, que livro é esse, mais interessante que ela?

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    Muitas vezes a primeira mensagem é dramática: “Estou muito mal, preciso falar com você”. No que eu dou um “oi”, vem um vídeo gigantesco em que ela explica o motivo de estar mal: precisa trocar de celular. Quem sabe, com meu coração gentil e generoso, não posso ajudar? Só que meu coração tornou-se um caroço de pêssego, duro e frio, desde que a internet tornou-se, também, um canal para pedidos de todo tipo. De gente que nem conheço. Uma instagramer, que tenho todos motivos para admirar (tinha), pela sua postura pessoal e combativa, instituiu o “Dia do Pix”. Um Pix para ela, óbvio.

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    “As redes sociais são uma porta escancarada. Quem quiser invade sua vida quando tem vontade”

    Quando me encontro com alguém, sempre tiro o som e desligo o celular. Não atendo. Quando vou verificar: “Que está acontecendo?” e “Eu te fiz alguma coisa?”. E daí pra frente. Não responder vira problema pessoal. Meu caso é gravíssimo. Como escritor, vivo no home office desde muito antes da pandemia. Ninguém respeita. “Depois ele trabalha.” Duvido que Dante teria escrito A Divina Comédia se tivesse celular. Menos, menos. Nem Andersen teria concentração para um de seus maravilhosos contos infantis. Quando se responde, nunca se sabe. A troca de mensagens pode virar uma sessão de terapia. Por Whats. Ou Face. Instagram. Qualquer rede social que surja. Odeio, aliás, mensagem de voz. Mandam igual: “Desculpe, sei que você não gosta, mas é eu que estou com pressa…”. Meu coração implacável se pergunta: “Mas de quem é o interesse? Meu ou seu? Ah, seu? Então não ouço”.

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    Horror. Também me viciei. Se envio uma mensagem que considero importante e fico sem resposta um, dois dias, acho que algo grave aconteceu. Problemas no relacionamento, na amizade…

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    Pior de tudo é quando a gente escreve pra chefe e ele não dá nem oi. Medo. Demissão? Distração? Minha paranoia borbulha. Redes sociais são uma porta escancarada. Quem quiser invade sua vida, seu tempo, quando tiver vontade.

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    Mas há uma situação dificílima de lidar. Por exemplo, estou jantando com alguém. A pessoa começa a teclar e para de conversar. Eu me sinto a criatura mais chata do universo. (Talvez seja). Olho para as outras mesas, todo mundo está falando no celular. Mas preciso muito resolver um assunto qualquer. Só tem um jeito. Pego meu celular e digito uma mensagem. Para quem está comigo, sentado na minha frente. Ele responde e conversamos por Whats durante todo o jantar. Melhor solução não há.

    Publicado em VEJA de 11 de maio de 2022, edição nº 2788

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