Ativista ambiental teme ameaças na luta contra uso de agrotóxicos
Lançamento do podcast “O veneno mora ao lado” joga luz na utilização exagerada de pesticidas em alimentos no país
A ativista ambiental Giovanna Nader, 36 anos, lança nas plataformas digitais nesta segunda-feira, 23, o podcast “O veneno mora ao lado”. Em seis episódios, a comunicadora investiga o uso de agrotóxicos no país que é campeão mundial do uso de pesticidas. Às vésperas de dar à luz da sua segunda filha, Giovanna Nader também é autora do livro “Com Que Roupa?” (Cia das Letras), que convida o leitor a reinventar sua relação com o que veste e consome. A seguir, o bate-papo da VEJA com a ativista mineira.
Por que ainda se debate pouco sobre uso exagerado de agrotóxicos no país?
Existe muita informação sobre o tema, mas em sua maioria são conteúdos com termos muito técnicos e nada acessíveis. Há poucos dias, duas redes de fast food vieram a público comunicar que vendem hambúrguer sem os elementos informados ao consumidor! Esses escândalos são ótimos pra ampliar a pauta. É um trabalho de formiguinha e precisa ser urgente unido à saúde. A frase ‘a gente é o que a gente come’ nunca fez tanto sentido. Ingerir tanto veneno e comida industrializada está aumentando drasticamente os casos de câncer, a obesidade, doenças cardiovasculares.
Já recebeu algum tipo de ameaça por trabalhar esse tema?
Todo mundo que defende o meio ambiente no Brasil vive sob constante ameaça. Ao longo de todos esses anos já recebi diversas ameaças, sobretudo quando enfrento diretamente. Com o caso dos agrotóxicos não deve ser diferente, mas é o risco que se corre por lutar por uma sociedade mais justa.
Qual é o seu objetivo com o podcast?
Aproximar a população da pauta urgente que é a dos agrotóxicos. O Brasil é o país que mais se consome agrotóxico no mundo. É importante a conscientização de que todo esse veneno já está no nosso prato, nas nossas águas, solos e modificando a fauna e flora do país. Já estamos numa situação de calamidade.
Fale um pouco sobre o seu ativismo ambiental no campo da moda?
A moda foi minha porta de entrada na conscientização sobre a situação que nos encontramos. Há quase dez anos criei um projeto de troca de roupa, o Gaveta, que ainda continua sendo um sucesso por onde passa pelo fato de proporcionar moda acessível a todos. Depois entendi que o buraco era muito mais embaixo e a moda é uma pequena parte do problema. Decidi usar a moda, tema vibrante e atrativo, de fio condutor para expansão de consciência.
Como é o seu dia a dia na luta por alternativas agroecológicas de produção de alimentos?
Há quatro anos passei a consumir apenas alimentos agroecológicos dentro de casa, fazendo uma rede potente de fornecedores. Mas tenho consciência de que tenho a oportunidade de escolha e a realidade é bem diferente para grande parte da população. Há 1 ano e meio comecei uma pequena horta em casa e ali foi minha primeira conexão com o plantio. Não há nada mais prazeroso do que fazer uma salada com alimentos que você mesmo plantou!
Como a maternidade reflete na sua preocupação com o meio ambiente?
É muito maluco gestar em um momento com tantos problemas ambientais e sociais acontecendo no mundo. Isso me fez olhar com mais profundidade para o meu trabalho e meu papel no mundo. É preciso acreditar na mudança. Se não, por que ter filhos?