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Thomas Traumann Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O recuo de Doria revela um centro desorientado

Em três anos sem Lula no páreo, ninguém ocupou o lugar do antibolsonarismo. Agora, o petista tomou o papel

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 mar 2021, 11h46 - Publicado em 16 mar 2021, 14h16
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  • A aparente retirada do governador João Doria da disputa presidencial reflete menos um fato eleitoral do que uma tentativa do PSDB de se reposicionar na disputa. No sábado, o Estadão publicou reportagem mostrando que o governador pela primeira vez admitia ser candidato à reeleição e não à Presidência, sua obsessão desde que entrou na política em 2016.  

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    Governador do Estado mais populoso e responsável direto pela produção das vacinas CoronaVac contra Covid-19, aplicadas em 9 de cada 10 brasileiros, Doria tinha um bilhete premiado para virar o antibolsonaro. Perdeu a chance por uma sucessão de erros calcada em seu estilo de ouvir pouco e não fazer da campanha de vacinação uma oportunidade de criar alianças. Jogando sempre solo, o governador de São Paulo segue com os mesmos 4% nas pesquisas. É menos do que desastroso resultado de seu antecessor Geraldo Alckmin na eleição de 2018. 

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    É cedo, no entanto, para excluir Doria do páreo. Por ter a máquina de São Paulo nas mãos, ele é o único pré-candidato capaz de produzir fatos que o façam variar nas pesquisas. Basta se tornar mais popular em São Paulo. Se por exemplo, chegar a 40% dos votos no estado (similar ao que Aécio Neves teve em 2014) já vai partir com mais de 13 milhões de votos. Difícil? Bastante. Mas é sua única chance.

    O recuo de Doria reflete o estado de desorientação do chamado centro, que para facilitar a compreensão será aqui definido como o extenso oceano de candidaturas entre o PT até o presidente Jair Bolsonaro. Em três anos com Lula fora do páreo, ninguém foi capaz de ocupar o lugar do antibolsonarismo. Na semana passada, Lula ocupou esse papel. E dificilmente alguém vai conseguir encarnar o antipetismo de modo tão visceral quanto Bolsonaro.

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    O ex-ministro Ciro Gomes, que deixou a eleição de 2018 assumindo um antipetismo pouco crível para quem apoiou as candidaturas do partido em 2006, 2010 e 2014, não conseguiu avançar.  Seus indicadores seguem entre os 10% e 12% que ele obteve como candidato nas eleições de 1998, 2002 e 2018. Em dois anos de governo Bolsonaro, Ciro Gomes não fez um amigo novo.

    O terceiro candidato do centro é o apresentador Luciano Huck, que não altera seus planos aconteça o que acontecer. Por esse cronograma, Huck se definiria candidato no segundo semestre, quando encerra seu contrato na TV Globo, e em abril de 2022 se filiaria a um partido, a depender das pesquisas. Na última pesquisa XP/Ipespe, ele apareceu com 7%.

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    Sem nunca ter sido candidato a nada, Huck seria o nome novo. Mas se a eleição de 2018 foi da Nova Política, o pleito municipal de 2020 mostrou uma rejeição aos outsiders que fará a assimilação de Huck trabalhosa. Sem a exposição na TV, não está claro como Huck vai informar o público de sua metamorfose de apresentador a candidato a presidente, nem como ele pretende fazer que o público o leve a sério.

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    “Terceiras vias são processos lentos. Todavia, mantida a normalidade do jogo, a primeira providência dos centristas deveria ser a definição do que, afinal, são ‘na essência’: antipetistas ou antibolsonaristas? Essas polaridades de negação devem dominar o debate e não facilitarão espaço para sutilezas e dubiedades: quente ou frio? O morno não empolga”, escreveu o cientista político Carlos Mello, no Estadão.

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    Em pesquisas políticas existem dois tipos de formatos para explicar a relação do eleitor no espectro ideológico. Quando há uma maioria dos eleitores no centro, o gráfico se parece com a corcova única de um dromedário. Neste caso, os candidatos dos extremos moderam suas posições para se aproximar deste centro, como aconteceu na vitória centrípeta de Lula em 2002. Em outro caso, os extremos são maioria, formando duas corcovas, como nos camelos. Nesse caso, os candidatos reforçam suas posições junto a suas bases e não moderam o discurso, como foi a vitória de Bolsonaro. Ainda não existem pesquisas em profundidade para decifrar o humor do eleitor atual.  

    O que Doria, Ciro e Huck contam é a existência de um gráfico dromedário, com um enorme contingente de eleitores que rejeitam tanto Bolsonaro, quanto Lula. É fato que esses eleitores do nem-nem são maioria entre os editorialistas dos jornais, mas não está evidente que eles tenham tamanho para levar um dos candidatos ao segundo turno. Existe a hipótese de que a candidatura Lula reagrupe em torno de Bolsonaro parte dos que votaram nele em 2018 e se arrependeram depois. E o contrário: que Lula junte em torno de si todos os que rejeitam Bolsonaro. A aposta do centro é arriscada.

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